quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

MONTMARTRE E SAINT-GERMAIN


         Em Montmartre, onde moraram os pintores impressionistas de maior destaque, as memórias do passado misturam-se a um presente turístico cheio de curiosidade. Na famosa praça à beira do Sacré-Coeur, pintores de todos os estilos, na maioria medíocres, vendem seus quadros na rua, para turistas, como os que vendem souvenires à porta das igrejas. Dentro dos pequenos cafés e restaurantes, a vida boêmia de Degas, Renoir, Monet, Van Gogh, está presente na memória do visitante. Surgem aos olhos curiosos os lugares onde eles viveram, o "Moulin de la Galette", as casas com janelas envidraçadas, os lampiões de calçada, as esquinas e ruas de Paris pintadas por Utrillo. O famoso Sacré-Coeur, branco e místico, no alto da colina, domina uma das mais belas vistas da cidade, e junto às suas escadarias palpitam os famosos cabarés de Paris.
         Saint Germain des Prés é hoje o bairro dos artistas, muito mais que Montmartre. É lugar de gente jovem, de idéias novas.
A França, desde o século XIX tornou-se o principal centro das artes e a maioria dos movimentos artísticos do modernismo teve início em Paris e ali se desenvolveu. Contra a arte decadente e imitativa das academias de Belas Artes, começaram a germinar na França as primeiras idéias revolucionárias. Dali surgiu o movimento moderno de renovação. Foi na primavera de 1874 que jovens pintores hoje considerados mestres, tais como Renoir, Monet, Pizarro, Sisley, Degas, Cézanne, inauguraram em Paris a primeira exposição de arte moderna. A denominação impressionista dada pejorativamente ao grupo por um crítico mais exaltado foi adotada.
Hoje em Montmartre os turistas se aglomeram entre mesinhas, cavaletes e tintas. Querem ver os artistas pintando. Atualmente, quase todos são acadêmicos, atendendo ao gosto dos clientes, em contraste com os primeiros modernistas, que se reuniam naquele mesmo local e que romperam com as normas do passado para trazer o novo, o criativo. Sofrendo a incompreensão da crítica, passavam fome, não vendiam seus quadros, recusavam condecorações.
Hoje, suas telas são disputadas por preços astronômicos, pertencem aos grandes colecionadores e fazem parte do acervo dos melhores museus do mundo.
Van Gogh morreu pobre, era sustentado pelo irmão, nunca vendeu um só quadro. Hoje, suas telas valem milhões de dólares. O mercado de arte num plano internacional tornou-se uma bolsa de valores.

 *Fotos da internet

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segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

CONCERTOS EM NOTRE DAME

            Paris continua sendo a cidade que lidera movimentos modernos e forma novos artistas para uma arte consciente e amadurecida. Estudamos isso na história da arte quando revivemos a luta dos impressionistas, seu espírito de não-acomodação às normas, sua vontade de fixar direções novas para a arte.
            A visão da Paris atual, quando mais de 100 anos se passaram desde as primeiras manifestações modernas até os dias de hoje, nos dá um esclarecimento melhor da cidade que ofereceu ambiente propício para que tais movimentos seguissem avante. Isto porque Paris, apesar de antiga em sua história, sempre foi moderna em seu espírito, abrigando movimentos às vezes contrários, mas sempre renovadores.
            Para haver renovação em arte é preciso que haja também campo para isso:  exposições, discussões, polêmicas, conferências, museus funcionando, antigos e modernos, concertos sinfônicos, teatros, ballets. De todos esses elementos nasce alguma coisa nova que, mais tarde, talvez, contribuirá para o avanço da arte. Isto acontece porque há lugar para todos, modernos e antigos, conservadores e vanguardistas. A cidade procura abrigá-los. O tempo e o público julgarão os melhores. A vida em Paris se multiplica de maneiras diversas, do misticismo ao erotismo, do intelectual que se afunda nos livros, alheio a tudo, ao gozador da vida, que freqüenta habitualmente o Lido e os cabarés da Praça Pigalle.
            Paris é cidade de contrastes. O espiritualismo e o materialismo vivem lado a lado, guardando mútuo respeito, sem interferências. Notre Dame de Paris, situada no centro de um imenso jardim, é grave e imponente, plantada no meio da ilha, como uma advertência. Seus sinos, quando batem, convidam ao silêncio e à meditação, e lá dentro, na penumbra, todo um passado histórico se desenrola.
            A imponência de Notre Dame rememora o profundo espírito comunitário do cristianismo da Idade Média, cada cristão contribuindo para a construção da catedral, cada artesão submetendo-se humildemente à orientação de um arquiteto, de um chefe, que os dirigia, como um maestro de uma grande orquestra.  As palavras sagradas transformaram-se em pedra e eternizaram-se nas esculturas, colunas e torres. A mesma juventude, que se reúne em Saint-Germain e Saint-Michelle, batendo papo e se divertindo nos cafés, ao longo das calçadas, é vista em religioso recolhimento dentro da catedral de Notre Dame, assistindo a um concerto de órgão. Superlotam as naves da catedral nessas noites de concerto, e se assentam no chão ou nas escadas, porque os bancos são insuficientes.
            Do lado de fora, em seus jardins, reúnem-se os "beatniks" franceses, barbudos, sujos, descalços. O protesto dos "beats" não é reprimido pelos guardas. Podem fazer o que quiserem, contanto que não passem do horário. À noite, depois de 10 horas, os guardas apitam e fecham os portões, e a turma se retira para seus abrigos à beira do Sena, debaixo das pontes mais lindas da cidade. A turma é jovem, adolescente ainda e não acredita na vida. Para eles não existe o futuro, as moças são livres, não guardam tradições de família.
Fotos da internet

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domingo, 5 de fevereiro de 2012

PARIS

"Il y a une place au coin de la rue".  Abro as janelas e escuto a lição do áudio visual de francês.  "Voilá le passage clouté".  Estamos em Paris. Este hotel já foi quartel general dos alemães, durante a ocupação.  Na passagem "clouté", os pedestres avançam, vestidos de capa cor de areia. O outono começou, um vento frio sopra sobre a cidade e os parisienses se agasalham. Estamos perto da zona comercial e podemos observar sem esforço as vitrines de Paris. À direita, uma livraria com livros de D. Helder Câmara, que é muito conhecido aqui, à esquerda as casas de moda, mostrando o bom gosto e a sobriedade das francesas. Nas esquinas, o cafezinho servido nas calçadas, ponto de encontro para um bate-papo.    
            "Liberdade, Igualdade, Fraternidade!"           
            A Marselhesa parece se estender pelas ruas de Paris, prolongando o ideal revolucionário. A noção de liberdade do francês não encontra limites. Há a liberdade de pensamento, de costumes, de expressão. O respeito à liberdade do outro, caracteriza de certo modo o espírito do francês. Há falta de expansão mesmo na juventude, que não se exalta em discussões nas esquinas, como nos demais países latinos. A liberdade é contida dentro dos limites que a educação exige, não se ouvindo o  som tocar a toda altura, porque o vizinho tem o direito ao silêncio. Paris chega a ser, às vezes, uma cidade triste, quando se lembra de Roma e da exuberância italiana.
            Mas, com a crescente onda de estudantes negros vindos da Argélia, o silêncio do francês tende a se modificar. A imigração vinda da África traz música e expansão para os países onde consegue penetrar. E na Paris do momento, os africanos misturam-se aos brancos, sem preconceitos.
            "O Café de Flore", antigamente ponto de reunião de artistas e literatos, é freqüentado agora pelos tipos mais bizarros.
            Uma senhora de idade, vestida de homem, gravata e cartola roxa, acaba de sair de uma galeria de arte, onde discutiu política o tempo todo. A galeria Valérie Schmidt, ponto de reunião de escritores e artistas, inclui em seus "habitués" também os antigos membros da Resistência Francesa.
            O francês rememora com carinho os heróis da guerra, aqueles que defenderam a França à custa da própria vida. É comum encontrar-se ao longo dos muros de pedra uma inscrição diariamente enfeitada de flores: "Aqui morreu um herói em defesa da pátria".
 *Fotos da internet
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