quarta-feira, 25 de julho de 2012


EAST WEST UNIVERSITY OF BRAMAVIDYA: UMA COMUNIDADE DE ARTE E FILOSOFIA II


Afastando-se do mundo e dos compromissos sociais o homem pode se dedicar inteiramente ao seu crescimento como ser humano. Para a plena realização do processo centrípeto, Jean e Nicole encontraram aquele lugar de paz. Era preciso uma intensa absorção para que as investigações e experiências pudessem ocorrer no processo de educação, penetrando sempre mais e mais profundamente nos compartimentos do mundo subjetivo. Sua função como mestre era conduzir o aluno ao seu próprio centro, ao cerne da energia criadora, usando métodos e disciplinas orientais aliados ao treinamento utilizado no Ocidente.
Nessa fase introspectiva, praticando o tipo de arte de sua predileção como disciplina espiritual, o aluno preparava-se para o encontro com o seu próprio centro espiritual, ou Self, arquétipo da Divindade que passaria a ser a sua fonte de inspiração.
Assim Jean continuava a os explicar sua conduta como artista e filósofo. Enquanto refletíamos as idéias de Jean, olhávamos a paisagem lá fora, as montanhas cercadas de nuvens,e o por do sol. Havia uma integração perfeita entre o artista e o seu modo de viver primitivo: a casa com fogão à lenha, simples, modesta, porém acolhedora, o banho tomado no lago próximo, onde também se lavava roupa, o passeio pela floresta para se apanhar gravetos. À noite, ao redor do fogo, a unificação das pessoas era maior. O fogo era o centro e sentávamos no chão, à moda indiana,enquanto Jean lia um texto de mitologia.
Suas idéias baseadas na necessidade de volta às origens não eram apenas teóricas, mas transformavam-se em ação no cotidiano. Todas as atividades do dia a dia eram consideradas como um exercício de meditação. Segundo Jean, o consumo excessivo pressupõe sempre a diminuição da energia criadora e o trabalho feito com plena atenção e amor emana diretamente do nosso centro energético, ou Self. O objetivo desta Faculdade de Artes era trabalhar para que essa Realidade se fizesse presente e começasse a atuar como força ativa. Quando o artista amadurece, sua arte estende-se à vida. Arte e vida não estão separadas e tudo pode ser transformado em arte. A jardinagem, por exemplo, é uma arte abençoada, que traz a psique em comunhão direta com o espaço fenomenológico e regula o metabolismo com o ritmo da mãe natureza. Os tipos de arte como a culinária e a jardinagem não podem ser considerados como inferiores às outras em relação aos resultados espirituais concedidos aos seus executantes.
O exemplo desse ashram, que unia Arte e Espiritualidade, pode ser considerado uma fonte de inspiração para outras comunidades holísticas da Nova Era. Atualmente Jean e Nicole tomaram rumos diferentes, mas a grande contribuição de suas experiências continua viva na memória daqueles que tiveram oportunidade de viver no ashram. Regressando à Europa, Jean Letschert publicou o livro Lê temple intérieur, onde relata as experiências e reflexões de sua vivência na Índia, difundindo o seu aprendizado de vida para o mundo ocidental. Nesse livro, Jean analisa o despertar da consciência do planeta nesse fim de milênio e coloca as buscas terapêuticas do Ocidente como semelhantes à necessidade do oriental de encontrar o seu Ser Interno. Segundo ele, trabalhamos no auto-conhecimento de diversas maneiras: através da psicanálise, da astrologia, do sofrimento, das perdas afetivas e materiais, da auto-observação, do Yoga, da meditação e do despertar da criatividade.
A necessidade é sempre a mesma: o encontro com a Energia Divina, que existe dentro de todas as pessoas. Foi preciso atravessar a Índia de Leste a Oeste para encontrar esse artista cujas idéias tinham uma profunda ressonância no meu modo de pensar. Suas palavras, seu estilo de vida, eram toques de consciência e me despertavam insights. Através desse encontro, foi-me possível observar que, quando estamos preparados para enxergar através dos acontecimentos, todos os momentos de nossa vida passam a ser criados e os fenômenos de sincronicidade aparecem a todo instante. A criatividade dentro da arte deveria se fundamentar numa base ética e filosófica, caso contrário corre o risco de ser um esforço a mais para a afirmação do ego. Sentimentos de vaidade e competição frequentemente vêm à tona, mas o artista deveria encarar isso como uma oportunidade para se conhecer melhor. A partir dessas experiências, ele se conscientiza que sucesso e fracasso  são situações efêmeras e fazem parte de um processo ilusório criado pela mente humana. A função da arte em termos espirituais é a de transformar o ser humano. Dentro de um plano cósmico somos todos artistas e é através da criatividade estendida à vida que podemos restabelecer a beleza de nossa origem Divina.

*Fotos da internet

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domingo, 8 de julho de 2012


EAST WEST UNIVERSITY OF BRAMAVIDYA: UMA COMUNIDADE DE ARTE E FILOSOFIA I


 Em 1979 visitamos uma comunidade situada no estado de Kerala, submersa no verde das florestas da Índia. Ali encontramos um casal de europeus empenhados em realizar experiências  de reunir arte, filosofia, religião e ecologia, a fim de acelerar o processo de consciência do Self.
Jean e Nicole, dois artistas plásticos, vieram da Bélgica, tornaram-se discípulos do Guru Nataraja, incentivador do encontro de todos os caminhos e de volta a um modo de vida simples e primitivo, longe do artificialismo gerado pela sociedade de consumo. A contemplação da natureza completava os estudos teóricos. Nas estantes os livros de Ciência, Psicologia, Artes Plásticas, Música, Taoísmo, Hinduísmo, Física e Matemática mostravam a vocação holística do casal.
East West University of Bramavidya buscava desenvolver, na prática, a visão do grande poeta Rabindranath Tagore, que tentou elevar o conceito da Universidade a um Centro Universal de Estudos da Sabedoria-Mãe.
A arte é o meio pelo qual a sabedoria se manifesta em sua forma espontânea, intuitiva. Conhecer a antiga sabedoria do mundo não significa apegar-se a um passado morto, mas alcançar as fontes vivas, perenes, as leis que regem o universo, a natureza e o homem.
Jean procurou um lugar tranqüilo para organizar o ashram e seu guru Nataraja conduziu-o a esse recanto de paz no meio da floresta. Escutamos as batidas de um martelo. Era Jean, ele mesmo, construindo um galpão para as aulas de arte. Lá embaixo as crianças cantavam. Um professor vinha aos sábados ensinar música. Aos domingos Jean e Nicole davam aulas de pintura. Eles orientavam um grupo de crianças pobres, que moravam em Vaythiri, uma vila próxima ao ashram. Jean transformou sua casa em atelier de arte. Portas, janelas, umbrais eram trabalhados a mão e lembravam formas de dragões e águias. Havia uma sala de meditação, tendo ao centro uma mandala tibetana, significando a união das forças opostas, muito usada pelos budistas tibetanos para meditação. Em frente à mandala colocaram uma escultura de Shiva Nataraja, o deus dançarino em sua dança cósmica. Procurar crescer através da arte é deixar que a espontaneidade faça nascer os símbolos do inconsciente.  Jean e Nicole  reuniam as idéias de Freud e Jung aos ensinamentos dos grandes místicos orientais, considerando que o mundo é um só e a Essência de tudo é a mesma.
A criatividade era fundamental dentro do trabalho proposto por eles. Segundo Jean é importante deixar as coisas acontecerem, em lugar de aprisioná-las em frios compartimentos de programas pré-elaborados. Assim como a pulsação do coração ou o ritmo vital da respiração, a Faculdade de Artes e Letras tem uma dupla função: uma dirigida para a elucidação estética do indivíduo; a outra, em direção ao despertar cultural da coletividade. A primeira tem um movimento centrípeto; a última tem um centrífugo, revelando o cerne da vida à humanidade.
Apesar de frequentemente se dizer que a Iluminação Espiritual pode ser alcançada até mesmo na aglomeração de um mercado e a inspiração artística pode ocorrer nas piores condições do mundo, ele considerava da maior importância, para quem busca a espiritualidade, o contato com a natureza pelo menos durante uma fase da vida.

*Fotos da internet

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