domingo, 13 de abril de 2014


SAUDADES DO BRASIL

Coloquei o retratinho de meus filhos na moldura de espelho. Um grupinho lindo, tirado pouco antes de sair. O que estarão fazendo agora?
Estamos exatamente com oito graus abaixo de zero! Para sair tenho de calçar botas, meias de lã, calças compridas e por debaixo ainda, bermudas. Lá no Brasil, tão longe, minha familía veste roupas leves e se queixa do calor. Como tudo é diferente no mundo! A mudança é radical - O clima, a língua, os alimentos, os costumes.
Estou profundamente ligada a meu povo, minha família, meu marido e filhos. Cada dia que passa, sinto mais presente esta realidade. A distância, os cenários diferentes, as solicitações diversas, as amizades passageiras, não conseguem apagar o que realmente nos dá estabilidade na vida. Não consigo compreender como certas pessoas podem viver sem esta estabilidade, sem este amparo espiritual. Espalho desenhos pelo chão, em cima da mala, na cama. As vezes avanço para o ladrilho do banheiro.
Serve também de prancheta, quando se torna necessário uma superfície dura e lisa. E vou deixando brotar o que ficou guardado dentro do meu subconsciente. Todas as impressões de viagem ali estão, talvez com mais sinceridade do que expressão exterior, reescrita no papel, por palavras. A palavra é limitada, descrevendo até certo ponto o que sentimos. A arte nos envolve toda, nos transporta ao mundo desconhecido do inconsciente.
Tenho necessidade de desenhar agora. Uma necessidade maior do que de comer.

Ontem as empregadas do hotel chamaram-me para assistir ao desfile do ‘Inauguration day”por uma janela. Via-se tudo perfeitamente. Desfilaram o exército, a marinha, os foguetes lunares, os tanques de guerra. Depois, símbolos representativos da vida Norte Americana, da antiga colônia aos tempos modernos. Carros coloridos, espalhafatosos, uma infinidade de alegorias. Por fim os índios em massa, sacudindo os cocares e mantas coloridas. Alguns montavam búfalos, (de longe parece um enorme boi felpudo e bem tratado). Passei horas apreciando o desfile. Tive muitas saudades dos meninos. Muito mais do que eu, eles apreciariam este “Inauguration Day”.

*Fotos de arquivo

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terça-feira, 1 de abril de 2014


EUA 1961 - PRIMEIRAS IMPRESSÕES

Fui incorporada ao grupo do “International Center” - Cada um se levanta e diz em inglês, em poucas palavras o que veio fa­zer nos EUA e o que faz em sua terra. Gente de todas as partes do mundo: Coréia, Filipinas, Japão, Indonésia, Iugoslávia, etc. Na maioria homens, uns 80 homens. Além deles quatro moças Filipinas e eu. Levantei-me sem jeito para dizer o que pretendia. “I’m an artist. I want to see museums and art schools in the United States.”
“We are glad to have an artist among us” respondeu o conferencista. As profissões são as mais variadas possíveis. Confraternizam-se povos de raças e costumes diferentes. Alguns pertencem à cortina de ferro, aos países dominados pelo comunismo. Outros à regiões dis­tantes, das quais muitas vezes nem ouvimos falar. Troquei poucas palavras com o representante da Iugoslávia. Queria indagar mais sobre o seu país, mas não houve tempo necessário para sa­tisfazer minha curiosidade. Admirei-me de encontrar pessoas de um país comunista em plena capital americana e, ainda mais, a convite do governo!
A afluência de estrangeiros esta semana foi tão grande que tiveram que separar as salas para as conferências. Uma turma de médicos brasileiros participou do nosso programa. Alguns deles viajaram co­migo do Brasil.
Preferi ficar junto às moças Filipinas que são uns amores. Aquelas carinhas risonhas, de olhos apertadinhos (diria todas japonesas) são de uma simpatia fora do comum. Residem no Hotel 2400, perto do International Center e pagam três dóla­res cada uma para um quarto coletivo. Tudo isto fiquei sabendo, mas preferi continuar no meu mesmo. Pago quatro dólares e meio, mas fico so­zinha, sem companhia e mais à vontade. Espalho minhas coisas do jeito que quero, ligo a televisão ou escrevo, sem que ninguém venha me perturbar. Às seis e meia vieram me buscar no hotel. Mr. and Mrs. Raul D’Eça. À propósito, preciso urgente comprar um chapéu. A senhora Raul D’Eça entrou pelo saguão à fora toda encapotada e risonha. Usava um chapéu não me lembro de que cor, mas, de qualquer forma, um chapéu. Perguntou-me se estava bem agasalhada. “O frio fora está de bater os queixos!”
Descemos juntas até o carro aquecido. Dr. D’Eça quase não mudou nada: a mesma simpatia e serenidade dos tempos de Belo Horizonte. Levaram-me a um hotel em Virgínia, longe da cidade, muito grã-fino. Lembra o interior de um transatlântico luxuoso. Na piscina gelada, crianças e jovens trajando roupas apropriadas deslizavam sobre os patins. Alguns mais ágeis chegavam a dançar e ensaiar passos novos. Das janelas do restaurante  envidraçado observa-se o espetáculo de inverno. Para mim aquilo era realmente um espetáculo maravilho­so. Não tirava os olhos dos patinadores. Dr. Raul estava louco por novidades. Perguntou-me por todos, Guignard, Mario Silésio, Estevam. Vejo que tem um carinho especial por B. Horizonte onde morou sete anos.

*Fotos da internet

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