quarta-feira, 13 de maio de 2015


MEMÓRIAS DO NEPAL

Fiquei muito sensibilizada com os terremotos no Nepal, pois ali estive algumas vezes, nas minhas viagens ao oriente.

Guardo do Nepal lembranças muito importantes, que influenciaram a minha vida. Ali estão algumas comunidades tibetanas que  fugiram de seu próprio país, após a invasão do Tibete pela China.
Transcrevo abaixo trechos de meu diário no Nepal em 1979:

“ O Nepal sempre foi para mim um lugar de repouso e reflexão. Aprendi muito neste país, cada dia uma nova experiência. Os ensinamentos do lama tibetano Trangu Rimpoche me conduziram à concentração e à meditação. A técnica é estar sempre no presente. Viajei de Pokara para Katmandu fazendo comigo mesma um treinamento que ele me ensinou. Vim de mini bus, suportando um calor terrível, criança chorando o tempo todo. Subimos morros, vendo paisagens, fazendas, terra cortada em forma de escadaria, gente cultivando. O calor é desumano. Resolvi não me por  contra, mas a favor do momento. Ficar contra aumenta o mal estar. Tudo é novo, a família em frente, o bebê chorando e a paisagem mudando, mudando. Não existe um só momento que não seja perfeito, nossa mente é que cria a imperfeição. Desejamos que o momento seja diferente do que é, mais alegre, mais calmo, mais fresco... Mas o que existe é a realidade do momento presente. Olhando com atenção, tudo tem graça. Lá fora as coisas se movem, nada é parado.
Não existe um minuto igual ao outro. A riqueza do agora é que ele é sempre novo. Passei a viagem treinando: presente – passado; presente – passado.
Viajar é bom para sentir a  impermanência das coisas. Li um livro do Rajneesh sobre a impermanência – ele deve ter assimilado o Budismo, Krishnamurti, Taoísmo. Somos realmente passageiros. Agora eu sou passageira de um ônibus, amanhã de um avião. Agora, meu momento é  a despedida do hotel. Meus conhecidos se foram, outras pessoas chegaram, onde andarão neste momento os amigos de ontem? Foram-se. Ocuparam estes quartos, dormiram debaixo do mesmo teto
Estou em Katmandu, no Shakti Hotel. Desenhei aqui todo o livro do Pepedro, fiz curso de meditação com os lamas tibetanos. À noite, sozinha, olhei a imagem dourada do Buda e me concentrei na luz que sai da sua cabeça. Buda falou sobre impermanência, desapego.
Aqui no hotel eu fico pensando que a vida é também ligeira, impermanente como os hóspedes de um hotel. Se nos apegarmos a eles, estamos perdidos. Não adianta, cada um tem um destino. Em certo sentido este hotel Shakti está sendo meu guru. Parece uma fazendinha quieta, sossegada, o dono lá em baixo é gentil, os meninos são educados.
As coisas são móveis, transformam-se, mudam como a vida. Desapego, impermanência, vida simples, despojamento do supérfluo. A mocinha canadense que encontrei no Guest House ficou minha amiga. Viaja sozinha há 4 anos, já foi hippie, agora segue os lamas tibetanos. Vai para as montanhas passar 2 meses, levando uma sacola com todos os pertences... Você não tem bagagem? Não, tudo o que eu tenho está aqui...
Largou mãe e pai no Canadá, vive aqui na maior pobreza. Os jovens estão cada vez mais despojados. Aquele alemão de cabelos cacheados passa o dia lendo os tibetanos. Os dois jovens canadenses vão para o Kashimir estudar Budismo. Usam um cordão vermelho no pescoço como proteção.”(trecho do diário de viagem, 1979)

Agora, 36 anos depois, lendo as notícias que nos chegam pela mídia, relembro a beleza e o aconchego de Katmandu, cidade escolhida pelos jovens ocidentais, vindos de todas as partes do mundo, para encontrar momentos de paz.

*Fotos da internet

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