segunda-feira, 29 de agosto de 2016


A CHEGADA DO HOMEM À LUA II

O texto abaixo dá continuidade ao meu depoimento sobre as viagens espaciais, escrito quando o homem pisou na Lua em 1969.

Fico empolgada com a curiosidade humana em descobrir coisas novas, avançar para o desconhecido, tentar alcançar com as mãos o impossível. As primeiras experiências do homem no espaço me impressionaram vivamente, e agora, a lua atingida, televisionada, irradiada, pisada por três homens da Terra, constitui algo fantástico, inacreditável. A Terra inteira foi sacudida por um impacto de tensão e euforia, esquecendo-se preconceitos e ressentimentos para generalizar o feito desses homens que, nascidos e criados em nosso planeta, foram a um outro mundo e voltaram. O feito dos astronautas americanos não pertence apenas aos EUA, mas ao mundo inteiro. Sentimos que a inteligência humana poderá se estender a limites do quase impossível, com o auxílio da máquina, sua companheira inseparável. São os cérebros eletrônicos funcionando, transmitindo, refletindo, desvendando mistérios. E, ao lado deles, o homem com suas faculdades, suas iniciativas, seu espírito criador, sua personalidade. Mas, vivendo ao lado da máquina, o homem não pode se transformar em simples peça das engrenagens eletrônicas; ele vive, pensa e sente. E para não ser transformado em “robot”, é preciso que, não somente pensamento, mas também sentimento, iluminem as direções do futuro. Sentindo e humanizando a ciência, seus caminhos não serão marcados apenas pela precisão fria dos computadores. Um novo humanismo será necessário, tendo por finalidade as intercomunicações espaciais. Projetando-se em direção ao espaço interplanetário, as investigações do homem beneficiarão também a Terra.

Quando os homens chegaram à lua, minha exposição já estava encaixotada para seguir para o Rio. E por sorte chegou na hora, constituindo uma pequena mas sincera homenagem aos acontecimentos que tanto nos fascinaram.

Estamos vivendo a época das grandes mudanças, o artista é sempre um mutante em potencial. É isso que faz a transformação na arte e na vida, a interpenetração de ideias do passado com as vivencias do presente para se construir o futuro.

Fotos da internet

VISITE TAMBÉM MEU OUTRO BLOG “MINHA VIDA DE ARTISTA”, CUJO LINK ESTÁ NESTA PÁGINA.







segunda-feira, 22 de agosto de 2016


A CHEGADA DO HOMEM À LUA I


Encontrei nos meus arquivos, o texto abaixo, escrito em 1969, quando o homem chegou à lua.

Quando no silêncio do atelier, tomamos uma tela branca e começamos a elaborar um novo quadro, não temos conhecimento muito claro do que se processa por detrás das pinceladas. Criamos porque sentimos necessidade de dizer , de proclamar alguma coisa que nos emociona, seja uma paisagem, uma figura, uma ideia, uma intuição. Lírica ou agressiva, realista ou abstrata, a forma de arte é uma exteriorização daquela ideia que se esboça vagamente. Brotando do inconsciente sem imposições externas, ela transmite a nossa emoção diante do mundo e pressentimentos claros do que está por acontecer no futuro. Toda a minha fase de naves interplanetárias antecedeu a chegada do homem à lua.

Naquela época em que o homem pisava pela primeira vez o solo de outro planeta e regressava à terra triunfante, vivemos e sentimos o impacto das histórias fantásticas que se transformam em realidade. Aquilo que pressentíamos apenas, ou sonhávamos, isto é, conhecer e explorar o mistério das estrelas, aí estava ante nossos olhos assombrados. Eles desceram realmente na lua, foram vistos pela TV, escutados pelas transmissões de rádio!

Os artistas da atualidade, criados neste ambiente de procura científica do desconhecido, inspiram-se e às vezes até adiantam-se às conquistas espaciais. Através da imaginação descortinamos a lua e outros planetas. Não são poucos os pintores e desenhistas, escultores e gravadores que se preocupam com o que anda por lá, nas regiões inexploradas deste céu imenso. Acompanhamos em imaginação as experiências que se fazem no mundo e, se não pudemos pisar realmente o solo lunar, navegamos pelo espaço cósmico procurando um lugar ao sol para o nosso pouso.

Artistas abstratos como Danilo de Preti  e Mabe nos dão testemunho desta preocupação com o espaço interplanetário. Pintaram paisagens imaginárias, não as paisagens a que nos acostumamos a ver. Minha fase interplanetária foi um reflexo das preocupações espaciais. São naves que transportam seres humanos, levam cidades, oficinas, máquinas, fábricas, numa imigração futura para mundos nunca dantes percorridos.

*Fotos de arquivo e da internet


VISITE TAMBÉM MEU OUTRO BLOG “MINHA VIDA DE ARTISTA”, CUJO LINK ESTÁ NESTA PÁGINA.





terça-feira, 9 de agosto de 2016


UMA EXPERIÊNCIA TRANSCENDENTAL

Meu primeiro contato com os ensinamentos de Krishnamurti aconteceu em 1973. 

Comprei um livro no aeroporto de Belo Horizonte e segui viagem para Brasília. Li durante a viagem e durante toda a noite, não conseguia parar. Só terminei quando o sol se levantou.

A partir daquela experiência, minha vida tomou uma direção completamente diferente.
A força de suas palavras derrubou antigos conceitos.

Desde aquela época comecei a perceber que o grande mestre era a minha própria vida, não havia mais necessidade de me filiar a organizações ou grupos espiritualistas.

Naquela ocasião, eu me defrontava com uma série de experiências extra-sensoriais e uma delas definiu o meu caminho.
Era noite de lua cheia. Estava num estado de quase vigília, num estado transpessoal. Sentia muita sede, via a claridade da lua batendo sobre o copo d’água à minha frente, mas algo me colocava imóvel, na cama.
Quatro instrutores me apareceram. O primeiro me deu o seguinte ensinamento: “A melhor maneira para você matar a sua sede é praticar estes exercícios de yoga”. Pratiquei-os e continuei com sede.
Então outro se aproximou e me ensinou uma dieta especial. Pratiquei também este ensinamento e continuei com sede.
Em seguida um terceiro deu-me instruções sobre determinadas regras de conduta e, apesar de praticá-las, continuei com sede.
O quarto ensinou-me respirações adequadas, mas o resultado foi o mesmo.
Então, levantei-me de um salto, peguei o copo d’água e o bebi. Neste instante, uma voz interna me falou: “Seu caminho é direto”.

As madrugadas me traziam novas experiências e numa delas recebi um toque no chacra entre as sobrancelhas e no alto da cabeça. Um estado de Ananda (paz interior) me invadiu. Foi quando eu pude compreender as palavras de São Paulo: “Já não sou eu quem vive, é o Cristo que vive em mim.” Meu arquétipo da divindade preparou o caminho para a realização do Deus impessoal, ou a união com o imensurável. Para isso eu teria de entregar o Cristo Interno. Esta experiência não pode ser descrita mas foi a porta de entrada para o meu dharma (missão) de estudos, experiências e viagens.

Todos os mestres me ajudaram e a eles agradeço as instruções e as setas indicando o caminho.

Mas meu caminho teve de ser percorrido com meus próprios recursos e minhas próprias limitações.

Só assim poderei seguir viagem em direção à Essência de onde vim e para onde retornarei.

*Fotos de Maria Helena Andrés


VISITE TAMBÉM MEU OUTRO BLOG “MINHA VIDA DE ARTISTA”, CUJO LINK ESTÁ NESTA PÁGINA.





quinta-feira, 4 de agosto de 2016


O ESPÍRITO DE PARIS III – BIENAL 1967

A inquietação da arte atual, os vários caminhos propostos, quando bem conduzidos, virão enriquecer e não confundir a linguagem artística do homem moderno. Porque esta linguagem baseia-se no respeito à personalidade e no aproveitamento de todas as formas vivas de criação. Hoje os recursos são muito maiores, a técnica, a eletrônica, oferecem campo imenso à arte. Mas os recursos da eletrônica e da técnica não conseguiram abafar as outras vozes que ainda continuam a dar o seu testemunho, nesse amplo e variadíssimo cenário da arte contemporânea. A Bienal de Paris, exposição de jovens, que significa apoio a toda e qualquer mudança, soube compreender isto através da formação de grupos.

Da contribuição francesa à Bienal de Paris pode-se tomar consciência desta proposta ao mundo.

Havendo grupos e lugar para todas as tendências, há também a possibilidade de uma afirmação, de um aprofundamento maior de cada setor de arte.
Esses indicarão melhor ao jovem o seu caminho do que a dispersão total depois de um estágio de estandartização vindo de fora. No futuro, se isto se der, o artista será julgado ao lado de outros artistas com as mesmas possibilidades. É necessário, para o benefício da arte e para a sua sobrevivência, que esses grupos se formem. Porque a arte contemporânea, com o avanço da psicologia e a compreensão mais profunda do ensino de arte, não poderá ter senão um caminho: o respeito à personalidade de cada artista e o incentivo à criação. Paris, centro de arte desde o passado, continua no presente a conscientizar o mundo das novas e múltiplas direções propostas à arte.

LUZ E MOVIMENTO

Na exposição de luz e movimento, realizada no Museu de Arte Moderna e da qual faz parte um brasileiro, Sérgio Camargo, a inventividade domina todos os setores. Há o jogo de espelhos em que a imagem do espectador é refletida em inúmeros retratinhos coloridos em todas as posições. Há corredores estreitos, com formas iluminadas ao fundo, dentro de ambientes escuros, há caleidoscópios, cinemas, projeções coloridas, seguidas  de música.

Atualmente, em Inhotim, um grande caleidoscópio, de autoria do artista Olafur  Eliasson, multiplica as imagens do espectador, incentivando o lúdico.
O mundo das invenções modernas deixa o seu caráter utilitário para se integrar à arte, nas pesquisas mais avançadas. Arte e técnica, eletricidade, sons, música, luzes: a arte e a engenharia se encontram para transmitir ao mundo novas ideias e novos recursos no campo estético.

*Fotos da internet

VISITE TAMBÉM MEU OUTRO BLOG “MINHA VIDA DE ARTISTA”, CUJO LINK ESTÁ NESTA PÁGINA.







O ESPÍRITO DE PARIS II - BIENAL 1967

A primeira impressão do visitante que chega à Bienal de Paris é a de estar chegando a um grande parque de diversões. À porta, logo na entrada do Museu de Arte Moderna, os enormes balões suspensos convidam ao jogo. Não há visitante que deixe de dar o seu impulso nas bolas enormes. A arte dos jovens é uma arte de surpresa e choque, que exige a participação do espectador de maneira violenta. Há um robô de madeira, do tamanho natural, subindo a escada, luzes e movimentos, fios elétricos, aparelhos projetores de formas coloridas acompanhadas de música eletrônica.

Há salas especiais para determinados inventos e o alemão Geissler expõe enormes bolas de plástico contendo pequenas formas coloridas que se movimentam quando tocadas por fora. Esta arte procura reviver, no espectador, imagens de uma infância perdida, um mundo que ressuscita ao primeiro toque, em formas e cores.

Não há uniformidade nem estandartização nesse conjunto de invenções que caracteriza a Bienal dos jovens. As experiências variam do grotesco ao lúdico, do erótico ao místico, do intelectual ao cômico.

Na representação francesa, a maior da Bienal, grupos diferentes se formam de acordo com as tendências. Cada um deles se caracteriza por preocupações comuns ou paralelas, numa concepção estética relativamente homogênea. Dos diversos grupos sairão vários caminhos, novas invenções para o futuro. Há o grupo letrista, dos retratos acompanhados de escritas, há os objetos e máquinas, há o grupo cinético com móbiles musicais, propondo formas novas, pensamentos novos e, também na representação francesa, a arte de equipe. Nessa arte de equipe um novo caminho se abre com a colaboração de arquitetos, escultores, pintores, fotógrafos, oferecendo ao público, não mais uma criação individual, mas uma organização de ideias. “O espaço dinâmico em constante movimento” acompanhado de projeções audiovisuais, dá testemunho desse trabalho de equipe. Em um conjunto audiovisual bem estudado, o espectador que penetra em seu interior torna-se um dos elementos do espaço.

Agrupando artistas de acordo com a tendência e sensibilidade comuns, a representação francesa ganha força em seu conjunto, permitindo ao espectador um estudo mais preciso das diversas formas de manifestação artística do momento. Na sua diversidade, na sua efervescência, a arte atual nos oferece um campo variadíssimo, rico de inventividade e imaginação. Quer se trate da arte cinética, abstrata, figurativa, de um trabalho individual ou de equipe, a criação artística não conhece um só caminho. Todas as experiências são válidas desde que sejam autênticas. Isto permite até o julgamento mais acertado de um trabalho por parte da crítica, como também possibilita maior respeito ao esforço de cada artista em particular. Da contribuição francesa à Bienal de Paris, pode-se tomar consciência dessa proposta feita ao mundo. Há lugar para todas as tendências, todos os estilos de arte. E não somente para aqueles que estão na ordem do dia. O que hoje está na moda, amanhã poderá cair. Permanecendo dentro de uma tendência que realmente se ajuste à sua personalidade, o artista poderá se afirmar melhor, aprofundar um trabalho começado, enfim, contribuir realmente para o avanço da arte no mundo.

Do contrário, seu esforço será apenas o da corrida da novidade, superficial, ditada pela imposição de fora, sem vivência. Esta corrida é a maior arma que se poderá usar contra a arte, pois não é apenas apresentando novidade que o artista se impõe, mas pesquisando e aperfeiçoando o que iniciou. Só isso poderá, no futuro, assegurar-lhe uma posição mais sólida no panorama universal.

Aquela visita à Bienal de Paris em 1967 foi a minha primeira impressão sobre Arte Contemporânea. Hoje vemos que essa  linguagem se projetou para o futuro, abrindo caminhos novos. Atualmente, Inhotim, em  Minas Gerais, recebe visitantes do mundo inteiro, sendo considerada  uma referência para a Arte Contemporânea.

*Fotos da internet


VISITE TAMBÉM MEU OUTRO BLOG “MINHA VIDA DE ARTISTA”, CUJO LINK ESTÁ NESTA PÁGINA.