terça-feira, 20 de dezembro de 2016

DOIS NADADORES, DOIS ARTISTAS

Na década de 40, a criação do Minas Tênis Clube, congregou a sociedade de Belo Horizonte em torno de várias atividades tendo como prioridade o esporte.
Campeonatos de natação eram um estímulo para os jovens e sempre havia alguém que se destacava recebendo como prêmio o reconhecimento público acompanhado de medalhas e troféus.

Recordo a atuação brilhante de Fernando Sabino, nadador famoso que mais tarde se tornou também escritor reconhecido mundialmente.

Os espectadores, sentados nas arquibancadas do Minas, estimulavam o seu desempenho na piscina.

Havia uma energia positiva alimentada pelo entusiasmo da torcida e os jovens nadadores alcançavam resultados cada vez melhores.

Jornais da época noticiavam os grandes feitos e as comemorações se estendiam pelos salões da sede do Minas, nas horas dançantes organizadas aos domingos, intituladas “missas dançantes”.

Fernando Sabino era o menino prodígio da época. Como nadador ou escritor estava destinado a brilhar.

Fui leitora assídua de suas crônicas e de seus livros. Fernando tinha a capacidade de narrar o cotidiano com graça e humor. O humor é importante e conduz o leitor a um relaxamento espontâneo , sem necessidade de exercícios adequados.

Muito se falou de sua morte e pouco de sua adolescência, e, foi justamente a trajetória iniciada no esporte e continuada na literatura e na música que o conduziu a ser menino aos 80 anos.

Ao longo da vida ele foi realizando seu potencial criador sempre obtendo sucesso, mas conservando uma característica necessária a todo grande artista: a simplicidade.
Fernando, como muitos intelectuais da geração 45, transferiu-se para o Rio de Janeiro, lá criou novos amigos e abriu novos espaços tornando-se conhecido no Brasil como um dos maiores cronistas do país. Seu livro “O encontro marcado” é adotado nas escolas e, por ser um relato do cotidiano, continuará sendo o cotidiano de cada um de nós ao longo dos tempos. O ser humano é o mesmo e suas reações são semelhantes em qualquer data.

Conversei sobre isto com minha amiga Célia Laborne, jornalista que também foi nadadora do Minas Tênis Clube na mesma época em que Fernando Sabino ali praticava a natação. Célia foi nadadora do juvenil do Minas e depois tornou-se escritora pioneira na divulgação de reflexões sobre o crescimento interno. Foi ela que me chamou para participar de um curso de yoga  com George Kritcos na década de 70.
Célia, assim como Fernando, começou pelo esporte. Conquistou medalhas quando se atirava na piscina com decisão e coragem. Foi minha colega na Escola Guignard, tendo se dedicado às aquarelas.

Revejo cronologicamente o seu itinerário artístico, partindo das artes plásticas e prosseguindo na poesia, nas crônicas e nas reflexões, tendo atuado como jornalista escrevendo por muitos anos a coluna “Vida Integral”  no jornal Estado de Minas.
Entre os seus livros publicados, destacamos “Caminhos de Luz”. Atualmente Célia tem um blog na internet chamado “Vida em Plenitude”, e seus poemas de grande lirismo inspiraram vídeos que podem ser também acessados na internet.

Abaixo transcrevo um dos poemas de Célia Laborne, intitulado “A Lua viu”:

A lua viu o meu corpo sobre a areia
esperando a  atração da maré
viu-me atraída para as águas
prisioneira de seu encanto.

A lua viu o mar contando-me
o segredo de seus náufragos
enquanto cobria minhas mãos
com seu  estranho convite.

A lua viu quando chegaste
e ergueste meu corpo vivo
do país do nada
viu como beijei tua vida
que me despertava.

A lua viu
e não me quer dar
o teu caminho de luz. 

*Fotos da internet


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A CRIANÇA JAPONESA

Há no Japão uma tendência para a disciplina que se manifesta desde a infância.
As casas são limpas, não há desordem, o espaço é livre sem móveis. A criança desenvolvida dentro desse ambiente de ordem, cresce condicionada a uma estrutura que se revela através de seu comportamento: atravessa a rua sozinha, mesmo que tenha pouca idade, e tem iniciativas de adulto.
Naturalmente, sua arte reflete este comportamento disciplinado.
A criança japonesa revela nos desenhos, muita sensibilidade e precocidade. Parece adulta.

Percorro uma exposição que se inaugura à tarde no JP Art Center. Há desenhos magníficos entre os jovens expositores adolescentes.

O japonês preocupa-se com o problema da arte na educação; várias escolinhas funcionam, não somente em Tokyo, como em outras cidades.

Há um intercâmbio com o Brasil e o mundo.

O diretor do Art Center mostra-nos sua coleção internacional de desenhos infantis, e entre eles posso ver alguns da escolinha de Arte do Brasil e do Atelier Livre de Arte no Rio de Janeiro.

Na volta, vejo bandos de crianças pelas ruas, camisa branca e chapéu azul marinho, uniforme geral de crianças e adolescentes que estudam. Assim uniformizadas elas percorrem os parques da cidade, os museus, dirigem-se aos colégios.

 Kyoto, antiga capital do Japão, foi preservada pela aviação americana durante a guerra: seus palácios, cuidadosamente conservados, cercados de jardins, lembram o passado dos antigos senhores da terra, com 30 mulheres e mais de 150 filhos, vivendo debaixo do mesmo teto.
Tiram-se os sapatos para percorrê-los. No assoalho da varanda, do principal palácio de Kyoto, o ruído de nossos pés ressoa como gorjeio de pássaros. Há um engenhoso mecanismo no subsolo, cuja finalidade era a de anunciar a chegada do inimigo.
No salão despojado de móveis, o poderoso senhor está sentado, enquanto cinco mulheres lhe servem chá. A cena é reconstituída em figuras do tamanho natural, vestidas com quimonos coloridos.

*Fotos da internet

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NELLY FRADE NA HISTÓRIA DO DESENHO E DA PINTURA DE MINAS

A trajetória de Nelly Frade, uma das minhas grandes amigas dos tempos de Guignard, vai me surgindo a partir de seus desenhos em bico de pena, elaborados em forma de um rendado.
Às vezes esses desenhos nos lembram pedras preciosas onde o intrincado das linhas parece se introduzir para dentro de cavernas em busca da pedra bruta, riqueza das terras de Minas Gerais. Através deste intrincado de linhas, vou relembrando a trajetória de Nelly, figura simples e espontânea como uma criança que se deslumbra com o mundo.

Lembro de Nelly na Escola Guignard, à sombra das árvores, desenhando e fazendo suas aquarelas. Nelly gostava das árvores do parque municipal e suas aquarelas eram estimuladas pelo mestre Guignard. Nas férias, Nelly viajava para Caxambu, e até hoje podem ser vistos nas coleções de sua obra, os seus registros figurativos dos parques de Caxambu, realizados em aquarela e óleo. Desde então estava firmado no seu caminho a sua predileção pelo uso das cores.

Voltando às nossas cidades históricas, Nelly deixou a marca da sua personalidade em pequenos quadros que registram o nosso barroco visto através de uma paisagem onde prevalece um expressionismo cheio de vigor.
Nelly usava as cores com maestria e essas cores também a conduziram ao abstrato geométrico, ou construtivismo, que vigorava naquela época.

Formamos na ocasião um pequeno grupo de concretistas mineiros e Nelly participava daquele grupo, criando quadros pequenos mas muito bem resolvidos dentro da estética concretista.
Viajávamos juntas para São Paulo onde participávamos das palestras dos críticos e da convivência com artistas tais como Volpi, Maria Leontina e Milton Da Costa.
Naqueles encontros artísticos, Nelly estava sempre presente.

Ela acompanhava com entusiasmo a minha evolução no campo das artes, e ainda me lembro de Nelly subindo a rua Santa Rita Durão com um jornal de São Paulo na mão.
“Maria Helena, você entrou na Bienal!”
Aquele entusiasmo pelo sucesso do colega era uma virtude preciosa que Nelly sempre manifestou. Ela era muito modesta e se esquivava de concursos e publicidades.

Em 1967, quando Marília Giannetti me chamou para dividir com ela uma exposição em Paris, preparamos uma viagem à Europa e Nelly nos acompanhou.
Lembro-me do seu entusiasmo diante das obras de arte da França e da Itália, países que visitamos na ocasião.
Nelly parecia uma criança descobrindo o novo a cada instante e seu entusiasmo era contagiante.

Naquela ocasião, o embaixador do Brasil em Paris , o Dr Bilac Pinto, compareceu pessoalmente à exposição.

Marília Giannetti era organizada, traçava metas, convidava os diplomatas para a inauguração, enquanto nós duas dávamos preferência para um passeio de charrete pelas ruas de Paris.
Mas, apesar das diferenças, éramos boas amigas e apreciávamos juntas as riquezas do Velho Mundo.

A história de Nelly poderá ser analisada melhor pelos historiadores e críticos de arte que descobrirão no futuro o quanto aquela  artista silenciosamente contribuiu para a história da arte de Minas.
Nelly Frade era tia de Paulo Laender e foi ela que trouxe o artista, quando ainda adolescente para estudar desenho comigo.

*Fotos da internet

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