Artista plástica, ex-aluna de Guignard. Maria Helena Andrés tem um currículo extenso como artista, escritora e educadora, com mais de 60 anos de produção e 7 livros publicados. Neste blog, colocará seus relatos de viagens, suas reflexões e vivências cotidianas.
quinta-feira, 14 de julho de 2016
O ESPÍRITO DE PARIS I
Em 1967, depois de realizar uma exposição juntamente
com Marília Giannetti Torres, em Paris, de regresso ao Brasil, escrevi para o
terceiro caderno do jornal Estado de Minas, as
impressões sobre o que vi e
observei na arte e na vida
parisiense. Transcrevo abaixo um trecho
daquele artigo:
“Paris continua sendo a cidade que lidera os
movimentos modernos e forma novos
artistas para uma arte mais consciente e amadurecida.
Estudamos isso na história da arte quando revivemos
a luta dos impressionistas, seu espírito de não acomodação às normas, sua
vontade de fixar direções novas para a arte.
A visão de Paris atual, em 1967, quando 90 anos se
passaram desde as primeiras manifestações modernas até os dias de hoje, nos dá
um esclarecimento melhor da cidade que ofereceu ambiente propício para que tais
movimentos seguissem avante. Isto porque Paris, apesar de antiga em sua
história, sempre foi moderna em seu espírito, abrigando movimentos às vezes
contrários mas sempre renovadores.
Para haver renovação em arte é preciso que haja
também campo para isso: exposições, discussões, polêmicas, conferências, museus
funcionando, antigos e modernos, concertos sinfônicos, teatros, ballets.
De todos estes enriquecimentos nasce alguma coisa
nova, que mais tarde talvez contribuirá para o avanço da arte. Porque há lugar
para todos, modernos e antigos, conservadores e vanguardistas. A cidade procura
abrigá-los. O tempo e o público julgarão os melhores. A vida em Paris se multiplica
de maneiras diversas, do misticismo ao erotismo, do intelectual que se afunda
nos livros alheio a tudo, ao gozador da vida que frequenta habitualmente o Lido
e os cabarés da Praça Pigalle.
Paris é cidade de contrastes. O espiritualismo e o
materialismo vivem lado a lado, guardando respeito pelo vizinho sem
interferências. Notre Dame de Paris,
situada no centro de um imenso jardim é grave e imponente, plantada no meio da
ilha, como uma advertência. Seus sinos quando batem convidam ao silêncio e à meditação e lá dentro, na penumbra, todo
um passado histórico se desenrola.
A imponência de Notre Dame rememora o cristianismo
da Idade Média, cada cristão contribuindo para a construção da catedral, cada
artesão submetendo-se humildemente à orientação do artista que os dirigia, como
o maestro de uma grande orquestra. As palavras sagradas se transformaram em
pedra e se eternizaram nas esculturas, nas colunas, nas torres.
Do lado de fora, em seus jardins reúnem-se os
“beatniks” franceses, barbudos, sujos,
descalços. O protesto dos “beats” não é reprimido pelos guardas. Podem fazer o
que quiserem, contanto que não passem do horário. À noite, depois de 10 horas
os guardas apitam e fecham os portões, e a turma se retira para seus abrigos à
beira do Sena, debaixo das pontes mais lindas da cidade. A turma é jovem,
adolescente ainda e não acredita na vida. Para eles não existe o futuro, as
moças são livres, não guardam tradições de família.”
*Fotos da internet
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segunda-feira, 4 de julho de 2016
PAINÉIS DE PORTINARI NA ONU
Na ONU, os dois grandes painéis de Portinari Guerra e Paz, mostram em sua
monumentalidade, os contrastes humanos. De um lado, cores sombrias e formas
dramáticas identificam a guerra e suas consequências: a tristeza e luto, a violência
e a dor. Do lado oposto, o colorido dos amarelos e laranjas predomina na
alegria das crianças e no otimismo do trabalho do homem. Entre a luz e a
sombra, as cores frias e quentes, Portinari resumiu a vivência de nossa época.
Assisti Portinari pintar Guerra e Paz. Andaimes especiais foram colocados à sua disposição
para que o artista pudesse realizar a sua obra. Os dois painéis monumentais,
que valeriam para o mestre o prêmio Guggenheim foram concebidos no Brasil e
realizados no Rio de Janeiro, num prédio inacabado de Botafogo.
Artistas e estudantes de arte para ali se dirigiam
para ver Portinari pintar. A Segunda Guerra Mundial terminara alguns anos
antes, mas suas consequências se irradiavam pelo planeta. Portinari interpretou
a guerra como o apocalipse.
A paz concebida por Portinari nos remete à infância,
crianças brincando, os campos férteis do Sul do Brasil.
Os painéis Guerra
e Paz estiveram recentemente no Brasil e em Belo Horizonte foram expostos
no Cine Brasil Vallourec. Acompanhando a mostra, toda a obra de Portinari podia
ser vista em projeções organizadas pelo seu filho João Cândido Portinari. Na
mesma mostra estavam expostos os trabalhos das bordadeiras Dumont, reproduzindo
em bordados as pinturas do mestre.
*Fotos da internet
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