segunda-feira, 29 de janeiro de 2018


ACIDENTE II

As coisas se repetem na vida, é bom que prestemos atenção nisto. São experiências com características semelhantes.

Foi em 1950, quando ganhei o prêmio de Isenção de Júri no Salão Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro.

Estava com as malas prontas para a viagem, passagem de avião na bolsa, quando papai veio me ver. Descera a rua Sta Rita bem cedo de manhã para me aconselhar a não ir de avião.
“Tive um sonho horroroso com você, um desastre. Por favor, troque a passagem não vá de avião.”

Naquele tempo, viajar de avião era considerado um risco de vida.

“Mas, papai, já comprei a passagem”
“Não faz mal, eles podem trocar ou te dar o dinheiro de volta, mas atenda o meu pedido, não vá de avião.”
“Está bem, vou providenciar uma passagem de trem”

Fui até a praça da Estação, consegui a passagem e desisti de ir de avião.

No trem acomodei-me no beliche de cima, com minhas malas aos meus pés: embaixo dormia uma senhora com uma criança de uns 5 anos.

O trem saíra de Belo Horizonte, passava pelos subúrbios, as luzes da cidade iam diminuindo aos poucos, o embalo do trem conduzia a um sono tranquilo. Estávamos no último carro e as curvas faziam as malas deslizarem na cama em ritmo de percussão. Já estava dormindo o primeiro sono, quando senti uma trepidação diferente, o corpo sacudido de todos os lados, as malas caindo.

Barulho, choque, poeira, o teto balançava, rodava, vidros se espatifando, escuridão, fumaça. Depois do choque maior, um silêncio de morte. Será que morri?
Comecei a apalpar meus braços, pernas, para ver se estava viva. Escuridão total, disparo do coração e a busca angustiante da vida que poderia escapar.
Pensei comigo mesma – “estou viva, estou sentindo dor no braço e muito peso nas pernas.

De repente o silêncio é rompido com o grito histérico de uma mulher. O grito era tão assustador que eu quase morri de susto. Mas pensei : “Se estou ouvindo é porque estou viva.
A criança embaixo chorava, a mãe se agarrava a ela chorando no escuro, por cima das malas.

Em seguida, a voz do chefe do trem orientando os acidentados:
“Não se assustem, o trem capotou, estamos com as rodas para cima, mas graças a Deus, não rolamos no abismo.
“Deus ajudou, pensei, estamos salvos”

Sair do trem foi uma cena dantesca, saímos pelas janelas, auxiliadas por um grupo de políticos que viajava no vagão da frente.
No escuro, pude escutar vozes conhecidas, o Dr Franzen de Lima, que me socorreu, e o Dr Maurício Bicalho. Fomos levadas para o vagão dos políticos e seguimos viagem aglomeradas, em cima de algumas malas. As outras ficaram no vagão acidentado, para serem procuradas mais tarde. O médico de bordo nos atendeu para os curativos. Felizmente ninguém morreu.

Ainda me foi possível chegar a tempo para a entrega de prêmios, com o braço engessado.

O sonho de papai se realizou, mas a interpretação que ele deu, não conferiu.

*Fotos da internet


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segunda-feira, 22 de janeiro de 2018


ACIDENTE I

Meu primeiro acidente, do qual escapei com vida, foi aos 5 anos de idade, em casa do meu avô paterno, na rua Piauí com Cláudio Manoel. Ali se reuniam as pessoas importantes da família, uma quantidade de homens de terno e colete. Conversavam na sala em torno de uma mesa enorme, enquanto minha avó servia cafezinhos com biscoitos e bolinhos. Meu tio avô era governador do Amazonas, naquele tempo governador era chamado de presidente. 

No dia do meu acidente, havia um vozerio na sala, meu tio acabava de chegar do norte do país, trazendo brinquedos lindos para os sobrinhos, bonecas, carrinhos e uma série de maravilhas guardadas com o maior cuidado em cima de um armário.

Na minha "pequenês" de 5 anos, eu só podia ver a perna e o sapatinho de uma boneca que ele trouxera do Amazonas. Fiquei olhando o sapatinho da boneca, a roupinha cheia de babados, aquilo era uma tentação!

Ver a boneca de baixo para cima, sem poder segurá-la em minhas mãos, era muito para a minha impaciência. Resolvi então me aventurar a subir pelas 5 prateleiras vazias. Por que mamãe não colocou a boneca na primeira prateleira? O quarto era estreito e comprido, o armário estava quase vazio, segurei com a maior coragem a prateleira de baixo, tentei alcançar a segunda prateleira.
 Depois, não vi nada, apenas um barulho ensurdecedor, muita poeira e muita paulada nas costas. As prateleiras foram despencando em cima de mim e se escorando na parede em frente, eu lá embaixo, encolhida. 
O armário caiu também com estrondo e esbarrou na parede da frente do quarto, levantando muita poeira. Foi difícil sair daquele esconderijo.

 Só sei que os políticos vieram todos me ajudar a sair dos escombros. Toda suja, empoeirada e chorando. 
Fui levada para o jardim em frente, onde tinha um laguinho com peixes. Minha tia me deu água com açúcar e me passou o maior pito. “Você nasceu de novo, podia ter morrido”.

Enquanto eu ganhava os conselhos de tia Lilita, outra turma ia socorrer o presidente do Amazonas, que quase teve um enfarte de tanto susto.

Fotos da internet


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terça-feira, 16 de janeiro de 2018


PORTO TROMBETAS, BRASIL, FRANÇA

Em julho de 1989, eu me encontrava em Porto Trombetas, no Pará, à convite do Colégio Pitágoras, afim de realizar ali um workshop de 25 dias para 25 professoras.

A intenção era trabalhar a arte em seu processo criativo. Escolhi como tema a sinopse do meu livro “Os Caminhos da Arte”, uma visão holística da arte considerada sob o ponto de vista de transformadora da sociedade.

Com o auxílio de minha filha Ivana, que viajou comigo para Porto Trombetas, consegui montar um esquema de trabalho um pouco planejado e muito improvisado, contando sempre com a ajuda das alunas e dos recursos que encontrávamos no local.

Todas as aulas contando a história do planeta desde os mitos de criação até a arte contemporânea, foram vivenciadas com o auxílio de painéis coletivos feitos em papel Kraft e pincel atômico, tintas, argila, tocos de madeira e outras coisas coletadas nas ruas da cidade, descartadas pelo consumo.

Algumas vezes fazíamos teatro e os alunos produziam o cenário,  os próprios figurinos e adereços e criavam uma cena. Usando a criatividade, eles nunca se esqueceriam dos fatos históricos.

Assim fomos passando pela história e vivenciando o passado artístico de nosso planeta.

Muitas vezes usávamos música, dança, relaxamento, discursos, manifestos. Uma das vivências mais interessantes foi a realizada por um grupo de alunos em homenagem ao dia 14 de julho. 

Fizemos um painel coletivo, um desenho de 2 metros, representando duas grutas, uma no Brasil e a outra na França, com os seus desenhos pré-históricos.
Houve uma comunicação muito intensa entre os dois países, mostrando a semelhança dos homens pré-históricos, separados por muitos mares, mas unidos ali, no mesmo contexto histórico.

Com este painel coletivo ficou registrada a semelhança do traço e da escolha dos mesmos temas, mostrando a unidade que existe entre os diversos povos da terra.
No final de cada experiência, trocávamos idéias, discutíamos sobre as semelhanças e contrastes entre os dois países.

O trabalho foi realizado no dia 14 de julho, e ali mesmo prestamos homenagem àquele país amigo.

Os desenhos das duas cavernas, uma em Lagoa Santa, Minas Gerais, e a outra em Lascaux, na França, nos permitiram tomar consciência de que a terra é a mesma e os povos se assemelham, reproduzindo os desenhos rupestres deixados por nossos antepassados. Também pudemos sentir um elo de ligação entre a França e o Brasil.

*Fotos da internet


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segunda-feira, 8 de janeiro de 2018


CARTA DA ÍNDIA PARA A FAMÍLIA III

"22 de dezembro de 1977

Estamos pesquisando contrastes e semelhanças entre a Índia e o Brasil. Isto faz parte do estudo do Maurício, mas podemos ajudá-lo na parte de arte e artesanato e também na observação dos costumes.

O artesanato é a via artística mais diretamente ligada à alma do povo, aos seus costumes e tradições. O artesanato hindu é riquíssimo e abrange uma dimensão bem grande dentro de uma variedade de concepções estéticas que muitas vezes, espontaneamente se aproximam das nossas.

Vamos descobrindo coisas. Aquele elefante de palha em casa do secretário da embaixada, nos lembra também outros bichos de palha, tecidos pelas mãos dos chilenos, no outro lado do mundo.

Há talhas de madeira, com formas humanas rebuscadas como os trabalhos de GTO (Geraldo Teles de Oliveira), há colares de prata semelhantes aos nossos trabalhos de Tiradentes. Hoje vi no Museu de Arte Moderna, desenhos parecidos com os de Marília e outros com os desenhos de Ivana. Uma das pinturas, uma grande Mandala, faz lembrar meus próprios quadros. Isto nos faz conscientes de que as inspirações dos artistas se assemelham, colhemos ou captamos vibrações semelhantes em regiões diversas do mundo.

Existe a separação criada pela distância e a língua, mas as manifestações  mais profundas da alma são semelhantes entre os seres humanos.

Um grande abraço e muitas saudades,

Sua mãe
Helena”

*Fotos da internet e de arquivo

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terça-feira, 2 de janeiro de 2018







CARTA DA ÍNDIA PARA A FAMÍLIA II

Transcrevo abaixo cartas da Índia para minha mãe Nair, minha irmã Maria Regina, e para os filhos que ficaram.

CARTA 1:
Maria Regina e Azulino,
Hoje é o último dia de 77. Desejo para vocês um 78 muito feliz no novo apartamento.
Abraços muito saudosos,
Helena
Este abraço é para o Paulo
E este é para a Adriana.

CARTA 2:
Para mamãe,
Da Índia, um abraço saudoso da filha Helena.

CARTA 3:
Marília, Paixão, Ivana, Euler e Artur,
Para Marília e Paixão, com saudades.
Para Vaninha querida, neste Ano Novo da Índia.
Para o Euler, sempre lembrado.
E o meu Tuzinho, meu beijo de cá de longe.
Com Krisna e Radha, meu abraço de Boas Festas.
Todos juntos lembramos o Brasil

*Fotos de arquivo

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