segunda-feira, 16 de outubro de 2017


MINHA PRIMEIRA VIAGEM À FAZENDA DA BARRINHA

Barrinha, 8 de novembro de 1945

Queridos pais,

Espero que todos aí de casa estejam sem novidades. Chegamos bem, tendo feito ótima viagem, muito mais curta do que se esperava. Almoçamos em casa da madrinha de Laura, uma irmã do pai dela, que mora numa chácara, perto da cidade. Desde o começo senti logo a diferença das cidades grandes. 

Não conheci propriamente João Ribeiro, mas seus arredores. Lugares lindos, cheios de riachos e bambuzais e casas antigas enormes. A chácara de D. Alzira é uma dessas casas antigas com salas em quantidade e maior número de quartos, para uma pessoa só morar. Fiquei encantada com a dona da casa. Recebeu-nos muito bem, com tanta simplicidade como se fossemos longamente conhecidas. Lá passamos o dia e viemos para a fazenda de tardinha. Andamos uma hora à cavalo, porque viemos bem devagar para não ficarmos cansadas.

Seu Artur foi buscar-nos na cidade, trazendo os cavalos. Eu, que estava um tanto preocupada porque ainda não o conhecia, com medo de desagradar, fiquei logo mais à vontade depois de conhecê-lo, porque ele também tem a mesma gentileza da D. Alzira. Escolheu o cavalo mais mansinho para mim e foi conversando comigo o tempo todo da viagem. Quando chegamos na fazenda, já estava muito mais animada.

Estou escrevendo agora, no quarto da Lourdes Andrés. Depois do almoço já demos uma volta enorme à pé, pelo pomar. Chupamos jabuticabas , daquelas enormes de 4 centímetros e meio de diâmetro (medidos por Laura), e depois de muito conversar , vim escrever. Imaginem se estivesse aí em Belo Horizonte, estava justamente saindo da mesa do almoço.

Bem em frente da casa tem uma várzea enorme, cheia de capim verdinho, onde pastam os animais. Neste momento lá longe, pela janela eu estou apreciando as vacas e bezerros que, em enorme quantidade, passeiam no gramado, (isto é, capim).

A vista é uma beleza e pretendo logo que descansar um pouco mais, aproveitar para tirar umas pinturas daqui.

Acho que, pelo jeito, vou engordar como nunca. Como muito e até tomei leite cru, hoje de manhã.

Lourdes escreveu? Pretendo responder-lhe a cartinha em breve.

Abraços saudosos aos meninos, e para vocês dois, um maior.

Da filha,

Helena (Carta endereçada aos meus pais, Euler e Nair em 1945)

*Fotos de arquivo


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terça-feira, 10 de outubro de 2017


TEMPLO DE SHIVA LINGAM

O templo de Shiva Lingam, dedicado à energia criadora, foi construído pelos antigos numa praia belíssima ao sul do Golfo de Bengala. É cavado num só bloco de pedra, sem emendas. Imagens em granito circundam o templo, representando Shiva e sua esposa. A pedra foi cavada com amor e carinho por mãos anônimas, reverenciando os deuses de antigamente. 

A Índia não perdeu a ligação com o passado. Passado e presente estão unidos num todo, o eterno agora. A força do símbolo é uma constante. A imagem emerge da pedra talhada, como se desta pedra emergissem seres ligados a antigas civilizações. Os hindus têm necessidade de imagens para dar forma à sua necessidade mística de devoção. 

Imagino o quanto de trabalho, talvez de gerações seguidas, para se construírem esses templos. A pedra é dura e, para ser partida, o sistema egípcio foi usado: pequenos orifícios onde colocavam madeira umedecida. Com a mudança de temperatura a madeira inchava ou contraía, provocando o rompimento da pedra. As formas humanas foram esculpidas com a força do instrumento, na base do martelo. Não havendo máquinas, toda energia era a humana, fluindo dos braços, deixando a forma surgir no espaço. Quantos anos foram necessários para esse contato direto com a pedra, transmutando o interior das rochas, das cavernas, recortando bichos e homens, elevando escadarias por onde sobem os devotos e transeuntes. 

Turistas, querendo o flash do momento, procuram captar em suas câmeras, o que levou centenas de anos para ser construído. Houve um impulso conduzindo as diversas mãos para a edificação desses famosos templos, uma energia espiritual circulando na pedra.(Trecho de diário de viagens, 1992)

*Fotos de arquivo e da internet

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terça-feira, 3 de outubro de 2017


CARTA DA ÍNDIA PARA IVANA

Vaninha querida,

Não tenho notícias daí e as saudades estão bem acesas. Já aderi ao sári, pois não tem ninguém de ocidental aqui. Gostam da gente, têm muito carinho, pois raramente os ocidentais se misturam com eles feito nós. Estou até aprendendo palavras do Canadá, língua deles.

 Estamos no hotel ainda, mas tudo bem, as tensões estão indo embora, graças a Deus. Maurício está entusiasmado com o trabalho, cada dia descobre alguma coisa nova para ser acrescentada, e os olhos brilham. 

Fico vendo com alegria o que é ser artista da vida, estender a criatividade para todos os setores. Felizmente vocês receberam um impulso, agora se largam sozinhos. Idéias é que não faltam...

Penso em você e no quanto deve estar apertada com a mudança e os negócios. Se houver algum problema mande me avisar. Estou longe mas ganhando em compreensão de mim mesma e do mundo. A vida nos separou por algum tempo, mas creio que todos iremos lucrar com isto.

Beijos de sua mãe,
Helena


*Fotos de arquivo

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