sexta-feira, 7 de setembro de 2012


OS INVENTOS DE PAULO


Meu irmão Paulo Euler, ainda criança, começou a se interessar pelas comunicações. Fabricava com as próprias mãos, com a ajuda de uma pedra chamada “pedra galena”, o seu próprio rádio. Escutava música, notícias dos acontecimentos internacionais divulgados pela Rádio Inconfidência ou Itatiaia. Nós ficávamos curiosas e admiradas com aquele pequeno inventor que, antecipando sua época, entrava com os próprios recursos no universo das comunicações. Paulo era uma criança inventiva, mas extremamente discreta. Não se vangloriava de seus inventos.
Um dia nos convocou para ajudá-lo a colher cacos de vidro na rua.
“Vou fazer um caleidoscópio”. Lourdes e eu tornamo-nos parceiras de Paulo, recolhendo vidros coloridos que encontrávamos nas pedras do calçamento da rua Santa Rita Durão. Paulo conduzia as invenções, e, em pouco tempo a rua toda estava vendo mandalas coloridas nos céus de Minas. Toda a criançada queria ter seu próprio caleidoscópio, feito em casa. Hoje, em Inhotim, um grande caleidoscópio me faz lembrar este irmão pioneiro de muitas idéias, atuando à frente de seu tempo.
Em Inhotim os visitantes podem ver sua própria figura multiplicada em forma de caleidoscópio. Em Brasília, numa exposição de arte contemporânea, pude ver minha própria figura multiplicada num desses inventos em forma de espelho. A partir desses caleidoscópios feitos em casa, realizei mais tarde minha série de mandalas.
O que acontece agora nos remete à infância, às rodas gigantes, aos espelhos que engordam ou emagrecem. Tudo isso faz parte de um mundo lúdico, onde as lembranças ressurgem e são revividas de forma atual. Uma das grandes mensagens da arte contemporânea é fazer reviver esse espírito lúdico e experimentar a fantasia das crianças.
Escuto a voz do meu bisneto Gabriel, quando entramos na Igreja de Lourdes em Belo Horizonte : “Vó, que castelo é este que estamos entrando?”
Paulo continuou seu espírito inventivo, descobrindo aparelhos que possibilitavam ver através do nevoeiro, bem  como uma régua de cálculo que facilitava a matemática da engenharia. Infelizmente a supremacia do hemisfério norte sobre o sul, seja na área da arte, seja na tecnologia, colocou barreiras nesses inventos, que sempre vão depender de patrocínios milionários. Colocá-los no campo das artes visuais é uma das funções da arte contemporânea, que abraça as novas idéias com generosidade.
Arte, ciência, religião, filosofia, ecologia, educação, psicanálise, se integram na formação de novos inventos, novas idéias. As idéias  novas sempre existiram e despontaram em épocas anteriores. Não foram divulgadas nem utilizadas, mas, tiveram a sua função ao despertar o lúdico e a fantasia na cabeça das crianças que mais tarde se tornaram artistas ou cientistas.
“Nada se perde, tudo se transforma”
Hoje, relembrando o passado, onde a arte se unia à tecnologia em forma de brincadeiras infantis, reconheço também o meu interesse pelas novas tecnologias. Tudo isto para mim está ligado à infância, à alegria de ver uma pedra chamada galena poder transmitir vozes e músicas e também o deslumbramento de cores e luzes de um pequeno caleidoscópio feito em casa.

Fotos de arquivo e da internet

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