domingo, 30 de dezembro de 2012


MUSEU REVELADO


Na sexta feira, dia 21 de dezembro, resolvi visitar o MAP, Museu de Arte da Pampulha, antes que se acabasse com o fim do mundo. Uma caminhada retroativa através da Arte Contemporânea, passando pela geração 80, até chegar ao princípio do modernismo, dá ao visitante uma visão de conjunto do que foi feito no Brasil e em Minas, uma seleção de trabalhos que informam o esforço criativo de nossos artistas. Cada um nos conta uma história, que nos permite voltar ao passado, rever as cenas e sentir que o nosso acervo é de muito boa qualidade. Há muito tempo não via um Guignard de perto e a presença do meu mestre, com seus balõezinhos e paisagens mineiras é o grande cartão de visitas que o museu está oferecendo.  A poesia de Guignard é inconfundível e sua sensibilidade atravessa gerações e vai nos conduzindo ao seu mundo de sonhos. O modernismo em Minas, comandado por Guignard e estruturado por Niemeyer, Portinari e toda equipe inovadora da Pampulha, está de volta à Pampulha. O modernismo nasceu e se desenvolveu nesta região de BH, à beira da lagoa. Lembro-me de quando Portinari veio com sua equipe pintar o grande painel da Igrejinha. Aprendemos muito com sua técnica de pintura, oferecida generosamente aos visitantes, estudantes de arte. Veio gente do Rio e São Paulo e os alunos se agrupavam em torno dos pintores cariocas, Portinari em cima de uma escada e seu irmão Leo trabalhando o tempo todo como auxiliar. Ele nos explicava tudo, mostrando os desenhos. Para se fazer um painel é necessário muito trabalho, muitos croquis, estudos de formas e cores, uma lição de vida. Nada se consegue sem muito esforço.
Hoje, sentada ao lado do trabalho de Portinari, posso ver de perto as pinceladas daquele grande brasileiro que morreu ainda jovem  intoxicado pelas tintas.  Iberê Camargo, Volpi e Milton da Costa, vão mostrando outras faces do modernismo, do concretismo ao expressionismo, marcando as mudanças sofridas na arte. No fundo da sala, uma grande tela em preto de Ivan Serpa nos surpreende por seu expressionismo violento. Eu conheci Ivan Serpa na década de 50, mostrado como um papa do concretismo brasileiro. Poucos anos depois sua força criativa demonstrou que ele era um artista cuja visão do mundo permitia trabalhar com o oposto. Largar a rigidez do concreto foi o caminho de todos nós. Alguns foram para o neo concreto, outros se libertaram no expressionismo. A arte nos permite essa liberdade de linguagem tranquilamente, sem conflitos. Naquele atormentado século XX, os pioneiros da arte abriram caminho para essa diversidade.
No andar superior, os transgressores da arte ali estão representados ao lado de Ivan Serpa, por nossos mineiros, Terezinha Soares e Jarbas Juarez. A transgressão na arte começou na década de 60 em Minas. Nesta exposição estou também presente com um desenho de barcos sobre papel veludo, da série mostrada nos Estados Unidos e em Sala Espacial na Bienal de 1961.
Mário Silésio e Amílcar de Castro marcaram presença com o concretismo e neo concretismo em Minas, mostrando como conseguiram assimilar as idéias vindas de fora com suas próprias idéias. O concretismo em Minas até hoje é lembrado como uma das tendências mais importantes de nossa trajetória.
Descemos a rampa em direção à Geração 80 e a Arte Contemporânea, representada por artistas inovadores, onde o espaço permite uma demonstração de que a arte deixou realmente o muro e se expandiu pelo espaço, como os arquitetos. Hoje a arte ocupa corajosamente o espaço, elabora formas que se justapõem construtiva e livremente, como os cubos de Damian Ortega.
A pintura de chocolate de Vic Muniz marca uma nova vertente de criação, com a rejeição dos recursos tradicionais da pintura. Admiramos uma instalação de José Bento, realizada em madeira, o silêncio meditativo da cerâmica de Sonia Laboriau, e a beleza serena do desenho de Isaura Pena.
Uma turma de visitantes vindos da Copasa, BH, invade o recanto . Querem ver os quadros, e uma jovem vai explicando tudo.
Sentei em frente a uma instalação de Roberto Vieira, ao lado de um trabalho em ferro de Leon Ferrari.
Procuro um lugar mais fresco para descansar.
A arte, realmente nos proporciona reflexões sobre as mudanças e transgressões deste mundo contemporâneo, cheio de surpresas.
À noite, um vídeo de Eder Santos, de grande intensidade poética é colocado na fachada do MAP, permitindo a visão panorâmica dos céus de Minas.

*Fotos da internet

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quarta-feira, 28 de novembro de 2012


ALEXANDRE ANDRÉS E MACAXEIRA FIELDS


 Foi lançado no Teatro do Colégio Izabella Hendrix, o segundo CD, Macaxeira Fields, de Alexandre Andrés. O jovem compositor reuniu um grupo de músicos, proporcionando o som de várias vozes em coro e em solo. Os pais de Alexandre, Artur Andrés e Regina Amaral também participaram do evento, enriquecendo o concerto.
Assisti à criação de uma das músicas na fazenda da Barrinha, em Entre Rios de Minas. Alexandre compunha, Artur corrigia, cada um num quarto diferente, diante do computador. O próprio ato criador assim realizado nesta dupla pai e filho, nos transmitia a emoção de uma parceria de mestre e discípulo. Alexandre cria suas músicas no seu studio na fazenda e os sons da natureza também participam.

O grupo musical se estende para artistas plásticos também, aproximando os jovens dos idosos.
“Vó, vou fazer um clip com um grupo de amigos e preciso de você na fazenda, com cavalete, tela e tintas.”
Viajei para Entre Rios a fim de participar dessa nova experiência, coisa diferente na minha carreira artística. Ali estava, também em frente a um cavalete, a jovem pintora Eleonora Weissman. O clip foi realizado com sucesso e está no Youtube com o título de “Ala Pétalo”. Duas crianças lindas ali interpretaram com espontaneidade o seu próprio comportamento de crianças, correndo no campo e curiosamente descobrindo o novo.

Macaxeira Fields é um CD precioso, cheio de nuances, que merece ser visto, não só em Belo Horizonte, como também no Brasil e no mundo.
Parabéns ao jovem Alexandre, ao letrista e poeta Bernardo Maranhão e a todos que participaram deste CD.

Transcrevo aqui trechos de um texto de Jocê Rodrigues, jornalista e escritor:
“Dotado de habilidades alquímicas o compositor, cantor e flautista mineiro Alexandre Andrés, em Macaxeira Fields (seu segundo álbum), transforma sons em sensações visuais e dilui-os em fórmulas que possibilitam a invenção de novas cores através da expansão de tons e matizes de uma poética que é sim brasileiríssima, mas que não represa ou esgota as possibilidades sígnicas das canções com qualquer tipo de postura nacionalista ou tradicionalista.
Macaxeira Fields mescla música de câmara e também música de câmera, pois fotografa partículas de realidade e instaura ausências no corpo do real e do nosso imaginário pela presença efêmera do som. É a canção que pulsa na percussão e também nos silêncios e pianíssimos que povoam as doze faixas de um trabalho que é (puro e simplesmente) todo canção. Não só canção da voz, mas canção do corpo e do mundo.
André Mehmari assume os pianos e a direção musical do CD e tudo então torna-se tinta em paleta de artista extremamente talentoso e cuidadoso com as texturas. Trabalho de um Klee tropical, que trabalha e reflete sobre temas ontológico-territoriais de maneira econômica na cor e rica na forma. As letras do poeta Bernardo Maranhão formam um fenômeno líquido a molhar ouvidos e a chover em superfícies e instâncias da experiência estética de se habitar a música. Parafraseando Yukio Mishima, todas essas águas correm para um mar de fertilidade.
Alexandre Andrés desponta, ao lado de alguns de seus conterrâneos, como um artista disposto a levar adiante um projeto de novíssima canção, o que implica em explorar sua potência para além da tradição (das correntes que impedem um verdadeiro ato criativo e conduzem à pura repetição cultural).”

*Fotos de Sylvio Coutinho

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sábado, 10 de novembro de 2012


EXPOSIÇÃO "MULHERES"


Dia 13 de novembro a partir das 16 horas inaugura-se a exposição “Mulheres”, de desenhos e pinturas da artista plástica Ivana Andrés. Ivana é uma artista multidirecionada para vários segmentos da arte. Os artistas de hoje estão buscando esta integração de várias áreas do conhecimento que, no meu tempo, eu denominava “síntese das artes”.
Síntese das artes significa desenvolver todo o potencial criativo que busca se expressar no ser humano. No caso da Ivana, este potencial vem se manifestando através do desenho, da pintura, do canto e do teatro.
No computador, Ivana vem me auxiliando na postagem dos blogs “Minha Vida de Artista” e Memórias e Viagens”, que estão no ar há mais de 3 anos.
Ivana, tranquilamente vai rendendo frutos em várias direções.
A libertação feminina é a tônica de seus desenhos e pinturas que estão no Espaço Cultural Plansis, Alameda do Ingá, 222, Vale do Sereno, Nova Lima.

Transcrevo aqui os depoimentos de Jonatra Macedo e Roberto Souza sobre seus trabalhos:

“Nasceu da força, da vontade de soltar o grito em forma de pintura. Então o movimento tomou conta do ar, bailando nos vestidos das “Mulheres” que, “libertas”, mostram uma beleza que somente a liberdade total pode introduzir no ser e nas artes” (Jonatra Macedo, crítico de Brasília)

“Criar é também saber acolher. É assim que defino o trabalho de Ivana Andrés, não somente seu trabalho de criação, mas seu espírito de criação. Um espírito que a todos envolve com uma ternura firme.
A Plansis tem sido a casa de Ivana, não a casa de suas obras, que somente agora nos chegam, mas a casa daqueles a quem sua percepção de artista acolheu e deu voz.
E não é de surpreender o sentimento que nos surge ao contemplar sua obra: a mesma serenidade, a mesma firmeza tanto quanto uma alegria de cores que nos faz desejar continuar nossa jornada.
Ivana é mulher e também acolhe todas as mulheres em seu seio de artista, talvez querendo dizer que estas bastam ao mundo com sua capacidade infinita de criar a vida.
Resta-nos contemplar, concordar e acolher Ivana e suas cores, confortavelmente instalados em sua alma”. (Roberto Souza, diretor da Plansis)

*Fotos de Luciano Luppi

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quinta-feira, 18 de outubro de 2012


CASAMENTO DE CAMILA E GiJSBERT


Na fazenda da Barrinha, situada no município de Entre Rios de Minas, realizou-se na tarde de sábado, 6 de outubro, o casamento de Camila Caram e Gijsbert Deelder, ela brasileira, mineira e ele holandês.
Acabei de voltar da festa e recordei um outro casamento que me inspirou o quadro intitulado “Casamento na Roça”, realizado há 60 anos atrás na mesma região.
Vou me lembrando da festa anterior, com aquelas mesas cheias de quitutes da roça, pés de moleque, cocada, doce de leite, arroz doce, queijo com goiabada, etc. O passado vai desfilando na minha memória como num filme.
Casamentos são festas realizadas com muita alegria em qualquer parte do mundo. No casamento de Camila e Gijsbert  a alegria contagiante nos trouxe momentos de paz, que vieram substituir a energia de luto criada pela morte de Laura.
Os cânticos em holandês, homenageando o jovem casal, a música e a dança, que se prolongaram até tarde da noite, nos mostraram como as emoções da vida vão sobrepondo umas às outras.
Chegamos à fazenda às 5 horas da tarde, depois de enfrentar um obstáculo que parou o trânsito por várias horas: uma carreta carregada de bananas “embananou” o trânsito na estrada, impedindo a circulação de carros e ônibus.
Perdemos a solenidade do casamento, realizado debaixo de um toldo rústico, enfeitado de flores. A primavera espalhou cores pelos jardins cuidadosamente criados por Laura, e a presença da avó era percebida nas flores que lembram os jardins de Monet.
Há 60 anos atrás, registrei o casamento na roça em croquis rápidos, transformados mais tarde num quadro que ficou famoso, estampou camiseta de festival de inverno de Entre Rios, virou banner, cartaz e cartão postal.
Hoje o casamento foi registrado através de fotos e filmes, documentário feito por Gabriel, irmão da noiva.
Os casamentos realizados nas fazendas de Minas Gerais lembram os casamentos na Índia, debaixo de toldos coloridos e bandeirolas esvoaçantes.
Recuando no tempo, vejo Iara e Euler também celebrando seu casamento na roça, Iara com flores nos cabelos e o Euler de colete nepalense.
Mais recentemente, Roberto e Fernanda também fizeram uma festa de casamento na fazenda Luiziânia, um misto de Brasil e Itália, com a típica “polenta” feita na hora por um chefe de cozinha italiano.
Agora chegou a vez de se comemorar Brasil-Holanda e participar da alegria do encontro desses dois países. A família do noivo veio para a cerimônia, e, debaixo de um toldo, cantaram em homenagem aos noivos, um hino de amor ao jovem casal.

*Fotos de Gabriel Caram

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sexta-feira, 7 de setembro de 2012


OS INVENTOS DE PAULO


Meu irmão Paulo Euler, ainda criança, começou a se interessar pelas comunicações. Fabricava com as próprias mãos, com a ajuda de uma pedra chamada “pedra galena”, o seu próprio rádio. Escutava música, notícias dos acontecimentos internacionais divulgados pela Rádio Inconfidência ou Itatiaia. Nós ficávamos curiosas e admiradas com aquele pequeno inventor que, antecipando sua época, entrava com os próprios recursos no universo das comunicações. Paulo era uma criança inventiva, mas extremamente discreta. Não se vangloriava de seus inventos.
Um dia nos convocou para ajudá-lo a colher cacos de vidro na rua.
“Vou fazer um caleidoscópio”. Lourdes e eu tornamo-nos parceiras de Paulo, recolhendo vidros coloridos que encontrávamos nas pedras do calçamento da rua Santa Rita Durão. Paulo conduzia as invenções, e, em pouco tempo a rua toda estava vendo mandalas coloridas nos céus de Minas. Toda a criançada queria ter seu próprio caleidoscópio, feito em casa. Hoje, em Inhotim, um grande caleidoscópio me faz lembrar este irmão pioneiro de muitas idéias, atuando à frente de seu tempo.
Em Inhotim os visitantes podem ver sua própria figura multiplicada em forma de caleidoscópio. Em Brasília, numa exposição de arte contemporânea, pude ver minha própria figura multiplicada num desses inventos em forma de espelho. A partir desses caleidoscópios feitos em casa, realizei mais tarde minha série de mandalas.
O que acontece agora nos remete à infância, às rodas gigantes, aos espelhos que engordam ou emagrecem. Tudo isso faz parte de um mundo lúdico, onde as lembranças ressurgem e são revividas de forma atual. Uma das grandes mensagens da arte contemporânea é fazer reviver esse espírito lúdico e experimentar a fantasia das crianças.
Escuto a voz do meu bisneto Gabriel, quando entramos na Igreja de Lourdes em Belo Horizonte : “Vó, que castelo é este que estamos entrando?”
Paulo continuou seu espírito inventivo, descobrindo aparelhos que possibilitavam ver através do nevoeiro, bem  como uma régua de cálculo que facilitava a matemática da engenharia. Infelizmente a supremacia do hemisfério norte sobre o sul, seja na área da arte, seja na tecnologia, colocou barreiras nesses inventos, que sempre vão depender de patrocínios milionários. Colocá-los no campo das artes visuais é uma das funções da arte contemporânea, que abraça as novas idéias com generosidade.
Arte, ciência, religião, filosofia, ecologia, educação, psicanálise, se integram na formação de novos inventos, novas idéias. As idéias  novas sempre existiram e despontaram em épocas anteriores. Não foram divulgadas nem utilizadas, mas, tiveram a sua função ao despertar o lúdico e a fantasia na cabeça das crianças que mais tarde se tornaram artistas ou cientistas.
“Nada se perde, tudo se transforma”
Hoje, relembrando o passado, onde a arte se unia à tecnologia em forma de brincadeiras infantis, reconheço também o meu interesse pelas novas tecnologias. Tudo isto para mim está ligado à infância, à alegria de ver uma pedra chamada galena poder transmitir vozes e músicas e também o deslumbramento de cores e luzes de um pequeno caleidoscópio feito em casa.

Fotos de arquivo e da internet

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terça-feira, 14 de agosto de 2012

MEMÓRIAS


Escolhemos o título de “Memórias” para a mostra inaugurada dia 18 de agosto na Galeria “Livro Objeto”, na Pampulha.  “Memórias” significa retornar ao passado, revivê-lo, transcendê-lo. 
Nesta trajetória de volta ao passado, revivi, sem palavras, momentos de pesquisa, quando, ainda jovem, inaugurava o meu caminho dentro do construtivismo. Eram dias e noites de intensa dedicação, vivendo o entusiasmo de fazer a cor e a linha falarem por si mesmas, sem conteúdo anedótico. A linha contínua foi o fio condutor de todas as descobertas, buscando sempre a essência da forma. Dali surgiram os ”boizinhos” , hoje transformados em esculturas em fio de ferro, depois os postes de luz que estruturaram as “cidades iluminadas”. Havia sempre uma necessidade poética de expressar minha vida de dona de casa e artista.
Releio hoje a mensagem que me chegou por email do meu amigo Jarauta, filósofo e historiador de arte: “Belíssimos trabajos, siempre me ham emocionado por su poética.” Estas palavras me fazem refletir sobre a poética na arte, uma das características do meu trabalho.
Na década de 50, cercada de filhos, eu trabalhava nas artes plásticas, dava aulas na Escola Guignard e escrevia também algumas poesias concretas. Transcrevo aqui uma delas:
Escultura
a forma pura se eleva
se eleva como uma prece
se elevando
levantando
eleva
a alma também
forma branca
alva
brilhante
forma esguia
forma pura
forma síntese da vida
                   vida
                   plena
                   plenitude
forma pura musical
                   levantando
                   se elevando
                   se eleva como uma prece

De lá para cá fui mudando, acompanhando o meu itinerário de vida. A vida não pode se expressar através de uma só forma.
Todo artista é sempre um mutante em potencial. Ele veio com esta missão de se transformar e si mesmo e de conduzir outros a esta transformação.

Transmutar
Transformar
Transgredir
Transubstanciar

Na exposição “Memórias” podem-se ver três pequenas esculturas em ferro, executadas a partir de desenhos concretos, feitos na época do concretismo brasileiro.
Os livros de artista trazem temáticas de barcos e cidades, cada uma correspondendo a uma fase da minha trajetória.
As cidades correspondem a uma necessidade de disciplina, os barcos à liberdade gestual.
Se o construtivismo no meu trabalho me conduziu à terra e ao recolhimento familiar, os barcos significaram as viagens internacionais que aconteceram a partir de 1961.
Hoje as viagens são rememoradas no meu blog “Memórias e Viagens”. Continuo viajando de forma virtual. O blog “Minha vida de artista” relata experiências no campo de várias artes e teve a colaboração de outras pessoas.
Caminhando pela exposição “Memórias”, encontramos também uma homenagem aos meus bisnetos, com quadrinhos lúdicos.
Arte vida
Idéias do passado
Vivências do presente
Assim vamos
Construindo também
Nosso futuro.

*Fotos de Rafael Chimicatti e Marília Andrés

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quarta-feira, 25 de julho de 2012


EAST WEST UNIVERSITY OF BRAMAVIDYA: UMA COMUNIDADE DE ARTE E FILOSOFIA II


Afastando-se do mundo e dos compromissos sociais o homem pode se dedicar inteiramente ao seu crescimento como ser humano. Para a plena realização do processo centrípeto, Jean e Nicole encontraram aquele lugar de paz. Era preciso uma intensa absorção para que as investigações e experiências pudessem ocorrer no processo de educação, penetrando sempre mais e mais profundamente nos compartimentos do mundo subjetivo. Sua função como mestre era conduzir o aluno ao seu próprio centro, ao cerne da energia criadora, usando métodos e disciplinas orientais aliados ao treinamento utilizado no Ocidente.
Nessa fase introspectiva, praticando o tipo de arte de sua predileção como disciplina espiritual, o aluno preparava-se para o encontro com o seu próprio centro espiritual, ou Self, arquétipo da Divindade que passaria a ser a sua fonte de inspiração.
Assim Jean continuava a os explicar sua conduta como artista e filósofo. Enquanto refletíamos as idéias de Jean, olhávamos a paisagem lá fora, as montanhas cercadas de nuvens,e o por do sol. Havia uma integração perfeita entre o artista e o seu modo de viver primitivo: a casa com fogão à lenha, simples, modesta, porém acolhedora, o banho tomado no lago próximo, onde também se lavava roupa, o passeio pela floresta para se apanhar gravetos. À noite, ao redor do fogo, a unificação das pessoas era maior. O fogo era o centro e sentávamos no chão, à moda indiana,enquanto Jean lia um texto de mitologia.
Suas idéias baseadas na necessidade de volta às origens não eram apenas teóricas, mas transformavam-se em ação no cotidiano. Todas as atividades do dia a dia eram consideradas como um exercício de meditação. Segundo Jean, o consumo excessivo pressupõe sempre a diminuição da energia criadora e o trabalho feito com plena atenção e amor emana diretamente do nosso centro energético, ou Self. O objetivo desta Faculdade de Artes era trabalhar para que essa Realidade se fizesse presente e começasse a atuar como força ativa. Quando o artista amadurece, sua arte estende-se à vida. Arte e vida não estão separadas e tudo pode ser transformado em arte. A jardinagem, por exemplo, é uma arte abençoada, que traz a psique em comunhão direta com o espaço fenomenológico e regula o metabolismo com o ritmo da mãe natureza. Os tipos de arte como a culinária e a jardinagem não podem ser considerados como inferiores às outras em relação aos resultados espirituais concedidos aos seus executantes.
O exemplo desse ashram, que unia Arte e Espiritualidade, pode ser considerado uma fonte de inspiração para outras comunidades holísticas da Nova Era. Atualmente Jean e Nicole tomaram rumos diferentes, mas a grande contribuição de suas experiências continua viva na memória daqueles que tiveram oportunidade de viver no ashram. Regressando à Europa, Jean Letschert publicou o livro Lê temple intérieur, onde relata as experiências e reflexões de sua vivência na Índia, difundindo o seu aprendizado de vida para o mundo ocidental. Nesse livro, Jean analisa o despertar da consciência do planeta nesse fim de milênio e coloca as buscas terapêuticas do Ocidente como semelhantes à necessidade do oriental de encontrar o seu Ser Interno. Segundo ele, trabalhamos no auto-conhecimento de diversas maneiras: através da psicanálise, da astrologia, do sofrimento, das perdas afetivas e materiais, da auto-observação, do Yoga, da meditação e do despertar da criatividade.
A necessidade é sempre a mesma: o encontro com a Energia Divina, que existe dentro de todas as pessoas. Foi preciso atravessar a Índia de Leste a Oeste para encontrar esse artista cujas idéias tinham uma profunda ressonância no meu modo de pensar. Suas palavras, seu estilo de vida, eram toques de consciência e me despertavam insights. Através desse encontro, foi-me possível observar que, quando estamos preparados para enxergar através dos acontecimentos, todos os momentos de nossa vida passam a ser criados e os fenômenos de sincronicidade aparecem a todo instante. A criatividade dentro da arte deveria se fundamentar numa base ética e filosófica, caso contrário corre o risco de ser um esforço a mais para a afirmação do ego. Sentimentos de vaidade e competição frequentemente vêm à tona, mas o artista deveria encarar isso como uma oportunidade para se conhecer melhor. A partir dessas experiências, ele se conscientiza que sucesso e fracasso  são situações efêmeras e fazem parte de um processo ilusório criado pela mente humana. A função da arte em termos espirituais é a de transformar o ser humano. Dentro de um plano cósmico somos todos artistas e é através da criatividade estendida à vida que podemos restabelecer a beleza de nossa origem Divina.

*Fotos da internet

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domingo, 8 de julho de 2012


EAST WEST UNIVERSITY OF BRAMAVIDYA: UMA COMUNIDADE DE ARTE E FILOSOFIA I


 Em 1979 visitamos uma comunidade situada no estado de Kerala, submersa no verde das florestas da Índia. Ali encontramos um casal de europeus empenhados em realizar experiências  de reunir arte, filosofia, religião e ecologia, a fim de acelerar o processo de consciência do Self.
Jean e Nicole, dois artistas plásticos, vieram da Bélgica, tornaram-se discípulos do Guru Nataraja, incentivador do encontro de todos os caminhos e de volta a um modo de vida simples e primitivo, longe do artificialismo gerado pela sociedade de consumo. A contemplação da natureza completava os estudos teóricos. Nas estantes os livros de Ciência, Psicologia, Artes Plásticas, Música, Taoísmo, Hinduísmo, Física e Matemática mostravam a vocação holística do casal.
East West University of Bramavidya buscava desenvolver, na prática, a visão do grande poeta Rabindranath Tagore, que tentou elevar o conceito da Universidade a um Centro Universal de Estudos da Sabedoria-Mãe.
A arte é o meio pelo qual a sabedoria se manifesta em sua forma espontânea, intuitiva. Conhecer a antiga sabedoria do mundo não significa apegar-se a um passado morto, mas alcançar as fontes vivas, perenes, as leis que regem o universo, a natureza e o homem.
Jean procurou um lugar tranqüilo para organizar o ashram e seu guru Nataraja conduziu-o a esse recanto de paz no meio da floresta. Escutamos as batidas de um martelo. Era Jean, ele mesmo, construindo um galpão para as aulas de arte. Lá embaixo as crianças cantavam. Um professor vinha aos sábados ensinar música. Aos domingos Jean e Nicole davam aulas de pintura. Eles orientavam um grupo de crianças pobres, que moravam em Vaythiri, uma vila próxima ao ashram. Jean transformou sua casa em atelier de arte. Portas, janelas, umbrais eram trabalhados a mão e lembravam formas de dragões e águias. Havia uma sala de meditação, tendo ao centro uma mandala tibetana, significando a união das forças opostas, muito usada pelos budistas tibetanos para meditação. Em frente à mandala colocaram uma escultura de Shiva Nataraja, o deus dançarino em sua dança cósmica. Procurar crescer através da arte é deixar que a espontaneidade faça nascer os símbolos do inconsciente.  Jean e Nicole  reuniam as idéias de Freud e Jung aos ensinamentos dos grandes místicos orientais, considerando que o mundo é um só e a Essência de tudo é a mesma.
A criatividade era fundamental dentro do trabalho proposto por eles. Segundo Jean é importante deixar as coisas acontecerem, em lugar de aprisioná-las em frios compartimentos de programas pré-elaborados. Assim como a pulsação do coração ou o ritmo vital da respiração, a Faculdade de Artes e Letras tem uma dupla função: uma dirigida para a elucidação estética do indivíduo; a outra, em direção ao despertar cultural da coletividade. A primeira tem um movimento centrípeto; a última tem um centrífugo, revelando o cerne da vida à humanidade.
Apesar de frequentemente se dizer que a Iluminação Espiritual pode ser alcançada até mesmo na aglomeração de um mercado e a inspiração artística pode ocorrer nas piores condições do mundo, ele considerava da maior importância, para quem busca a espiritualidade, o contato com a natureza pelo menos durante uma fase da vida.

*Fotos da internet

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sexta-feira, 29 de junho de 2012


ADYAR, UM CENTRO DE ESTUDOS EM CHENNAI



Localizada na costa oriental da Índia, Chennai é a principal cidade do Estado de Tamil Nadu.
No final do século passado, Helena Blavatsky estabeleceu a sede da Sociedade Teosófica na cidade de Chennai, às margens do rio Adyar. A Teosofia pretende restabelecer a importância da sabedoria antiga e na Sociedade Teosófica incentiva-se o estudo da ciência, filosofia e das religiões comparadas. Nos jardins do belíssimo condomínio dos teosofistas existem templos e celebrações variadas das diversas religiões do mundo.
 Krishnamurti cresceu e foi criado na Sociedade Teosófica e Rukmini Devi, fundadora da famosa Escola de Belas Artes Kalakshetra, ali residiu por toda a sua vida
 Muitas vezes, depois de atravessar a Índia em longas e cansativas viagens, ali parei para descansar. Freqüentava palestras e atendia aos cursos.
O meu trabalho de síntese e estudos comparativos exigia um contato com a antiga sabedoria do mundo e as programações da Sociedade Teosófica eram necessárias para um aprendizado teórico da Filosofia Perene.
 Em 1989, assisti às palestras sobre ecosofia ou filosofia da ecologia administradas pelo professor Henryk Skolimowski, então radicado nos EUA. Falando sobre ecologia como um dos fundamentos da paz no mundo, o professor Henryk abordou de maneira clara e profunda a herança ecológica que o ser humano recebeu ao longo dos séculos e analisou a responsabilidade do homem em relação ao meio ambiente. "Os valores ecológicos despontam neste momento da história da humanidade, com a conscientização que a vida não pode ser compreendida somente através de nossa herança biológica". O professor Henryk Skolimowski dissertou sobre a necessidade de preservar a qualidade de vida do planeta, compreendendo a interdependência de todas as coisas. Seria necessária uma atitude de reverência para com a vida em geral.
  “Um dos mais importantes valores ecológicos é a Responsabilidade. A responsabilidade para com o meio ambiente, para com o planeta, os seres vivos e o cosmos. Esta forma de responsabilidade constitui um dos fundamentos da Paz.”
 Aprofundando um pouco mais o espaço ético desses valores, iremos encontrar a Compaixão para com os nossos semelhantes. Num universo interligado no qual a reverência pela vida é a principal força, a Compaixão seria o veículo através do qual ela se expressaria. A Frugalidade foi também enfatizada como um dos valores ecológicos e, a exemplo da natureza, o professor nos aconselhava a viver simplesmente com o necessário. “O mais rico não é aquele que possui muitas coisas, mas quem necessita de poucas coisas para sobreviver.” A Solidariedade também foi considerada importante, porque ela é uma expressão da Unidade de todas as criaturas. “Todos estes valores estão interligados e se ajudam mutuamente num processo de simbiose. Se fizermos um estudo comparativo dos valores ecológicos com os valores científicos e religiosos podemos fazer o seguinte paralelo: Os valores religiosos são centrados em Deus, regulam o relacionamento do homem com o criador e com os outros seres vivos. Os valores científicos e tecnológicos são centrados no objeto e despertam o controle, a manipulação e o poder sobre ele. Já os valores ecológicos são centrados no universo e na vida. Eles nos ligam a todas as formas de vida e nos dão responsabilidade para com todos. O respeito e o amor para com a vida, outras culturas e outros povos é a única forma do estabelecimento da Paz na terra.”
*Fotos da internet
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terça-feira, 12 de junho de 2012


HOMENAGEM A ZAUHRY BARROSO SANTA ROSA


 Zauhry faleceu na madrugada do dia 31 de maio - uma morte, sem traumas, em casa. Queria morrer assim, sem dar trabalho, silenciosamente, apenas parando de respirar. Deixou a densidade de nosso planeta, para voar mais alto em busca de luz.

Recordamos sua vida, uma trajetória de guerreira, que foi abrindo caminho para outros passarem. Filha de um imigrante sírio que, quando chegou ao Brasil, trocou seu sobrenome de Chukair para Barroso e assim inaugurou uma nova família, ela foi a caçula de 14 irmãos, sendo cinco mulheres: Zaifa, Zilda, Zélia, Zaida e Zauhry. Adotou o sobrenome Santa Rosa do marido, Delfino, com quem teve seis filhos: Aparecida, Márcio, Lydia, Jason, Eleonora e Júnia, que lhe deram três netos: Joaquim Pedro, Alice e Tomás. Formou-se em História pela UFMG, no mesmo ano em que sua filha Aparecida se formou ali. Nunca parou de trabalhar, como executiva no Ministério do Trabalho em Belo Horizonte e em Brasília, e como dona de casa. O grande exemplo que nos deixa é este, transformando o próprio trabalho em forma de crescimento, exemplo seguido por seus filhos e filhas. Quando se viu aposentada, continuou estimulando outras colegas da terceira idade a não pararem. A vida é um caminho sempre aberto para o aprendizado e Zauhry deu testemunho disto. Foi uma das primeiras alunas a ingressar na Universidade da terceira idade na Fumec e seguiu em frente, interessada em aprender cada vez mais, pelo próprio prazer de se atualizar. O conhecimento que não visa apenas receber um diploma no final de um período é o conhecimento que faz crescer cada vez mais a pessoa como ser humano.
Suas aptidões domésticas não ficaram abandonadas com todo esse currículo de cursos de extensão. Zauhry era ótima cozinheira e algumas vezes pude participar de almoços em sua casa, onde, cercada de filhos e netos, ela demonstrava suas aptidões na arte culinária. Reunir-se em torno da mesa para o congraçamento familiar é um hábito que sempre exerceu.
Toda pessoa com sensibilidade tem poesia no fundo do coração, e, em casa, sozinha, Zauhry também era poeta. Recebi um poema de 2003, que transcrevo abaixo:

“A EMENDA E O SONETO

Para se chegar aos 80
não há receita inteira.
É como colcha emendada
costurada com linha caseira.
Ontem era um brilho no pano,
depois um filó bem rendado,
anteontem um cetim lustroso,
que estava muito amassado.
Às vezes aparece um quadrado
ou quem sabe um redondinho,
o formato não se escolhe
ele chega e se junta, mansinho.
Há certo tempo difícil.
A gente pára, olha a colcha
e pensa: será que vale juntar
aquele pedaço sem cor
desbotado pelo choro, vale pregar ?
Mas é preciso ir adiante.
A vida segue e mais panos,
agora estampados, com flores
que nem lembram os desenganos.
Há pedaços de camisolas
das crianças bem pequenas,
todos guardam uma saudade,
mas são saudades, apenas.
Até que beirando os “oitenta”,
os pedaços já esgarçados
tem que ser juntados, de leve,
senão, se perdem, coitados !
Os dedos, a linha e olhos
anuviados, bem iguais
olham o tamanho da colcha
e perguntam a Deus, tem mais ?”

*Fotos de arquivo

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segunda-feira, 28 de maio de 2012


CASAMENTO DE JOAQUIM PEDRO E FERNANDA II


Os casamentos de hoje em dia incluem uma poética que antigamente não existia. Os noivos criam a sua própria linguagem. Foram inspiradoras as falas ocorridas no casamento de Joaquim Pedro e Fernanda à beira mar, no norte da ilha de Santa Catarina.
Assim falou Fernanda para Joaquim:
“Perante todas essas pessoas tão importantes em nossas vidas; perante Deus e esta linda praia que me viu crescer, entrego a você todo meu amor, toda minha dedicação e amizade. Prometo, a cada dia, regar com carinho e cuidado essa linda plantinha que nasce hoje: a nossa família. Ao longo desses últimos sete anos juntos, soubemos nutrir muito bem nossa árvore do amor, que cresceu robusta e fincada em raízes bem fortes. Prometo ser uma esposa companheira, fiel, leal – sempre respeitando as nossas diferenças e a nossa individualidade. Prometo não esquecer o que somos e o que sonhamos ser. Amor da minha vida, estarei sempre com você na alegria e na tristeza, na saúde e na doença. Que os momentos felizes inundem nossas vidas e nos tragam muita sorte, prosperidade e paz. E que os momentos difíceis não nos deixem nunca perder a ternura e tornem ainda mais forte essa união. Te amo para sempre. Sou uma mulher de sorte. Sou a noiva mais feliz do mundo.”
E Joaquim Pedro disse para Fernanda:
“Ainda me lembro como se fosse ontem quando nos conhecemos em 2005 durante uma bifurcação de nossas vidas. Você, recém-chegada de Florianópolis e sedenta por abraçar o mundo. Eu, de volta às raízes do Brasil, depois de uma década no exterior. Ambos buscando novos horizontes pessoais e profissionais, cada um a sua maneira. Andamos de mãos dadas por um tempo, tomamos caminhos separados que em um momento o destino tratou de alinhar. Madrugamos para trabalhar e curtimos férias prolongadas. Dividimos muitos sorrisos e por vezes sofremos juntos. Moramos juntos e separados. Alçamos voos em conjunto, mas quando a vida nos presenteou com oportunidades imperdíveis, aprendemos a voar solo sem perder a essência da nossa união. O nosso relacionamento sempre soube alimentar o amor em comunhão, respeitando nossos espaços. A nossa união, que amadureceu ao longo dos anos, cresceu cada vez mais forte – e nunca foi sinônimo de prisão. Essa cerimônia marca uma nova etapa de nossas vidas: a formalização de uma união que construímos durante cada dia dos últimos anos, junto com muitas das pessoas que estão aqui hoje celebrando conosco esse momento tão especial. Plantamos ao longo desses últimos sete anos a semente de um amor puro e cheio de cumplicidade, apreciador de nossas semelhanças, mas acima de tudo, respeitador de nossas diferenças. A verdade é que duas arvores de uma mesma floresta não crescem na sombra uma da outra. Ambas precisam de espaço e de luz para florescerem juntas no mesmo compasso. Que o nosso amor saiba encontrar o equilíbrio da comunhão e da individualidade. Que nossos passos caminhem lado a lado no mesmo ritmo, sempre com um norte em comum. E que por meio dessa união saibamos dividir a nossa luz e respeitar os nossos espaços. E acima de tudo que saibamos construir, cada um a sua maneira, uma vida inteira juntos.”
Aparecida, mãe de Joaquim, leu falas da 1ª epístola de São Paulo aos coríntios:
“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como um bronze que soa ou um címbalo que retine. Ainda que eu tivesse o dom da profecia e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, ainda que eu tivesse tão grande fé que transportasse montanhas, e não tivesse amor, eu nada seria. Ainda que eu distribuisse todos os meus bens aos pobres e entregasse meu corpo em sacrifício, se não tivesse amor, de nada me aproveitaria. O amor é paciente, é benfazejo, não é invejoso, não é arrogante e nem orgulhoso. Nada faz de inconveniente, não é interesseiro, não se irrita nem guarda ressentimento. Não se satisfaz com a injustiça, se alegra com a verdade. O amor tudo tolera, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor nunca falha.”
O belo pôr do sol e a lua cheia de 5 de maio de 2012, a lua de Buda, testemunharam, do cosmos, essa união.

* Fotos de  Jared Windmüller, Maurício Andrés e Marília Andrés

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