quarta-feira, 29 de junho de 2011

POR QUÊ INDIA


Os fatos vão se encadeando, à medida que o tempo passa.
Agora, posso tomar consciência de que eles estão interligados. Desde a infância, eu sonhava conhecer o outro lado do mundo e as histórias de Marco Pólo e de  Simbá, o marujo, me fascinavam.
Depois, na adolescência aquele veleiro colocado em minha casa, em BH, foi me revelando a aventura dos navegantes. Era um vitral colorido, transparente, que brilhava à luz do sol como um chamado.  Ficava no meio da escada e eu sempre parava para contemplá-lo. Hoje o vitral, transportado para a minha casa no Retiro das Pedras, de frente para as montanhas, continua sendo a bússola na minha vida de artista plástica e pesquisadora. O símbolo da cruz me conduzia.

Um dia, a cruz da Via sacra se transformou num poste de luz e surgiram as “cidades iluminadas”, Foi preciso que a cruz mergulhasse nas águas para dali surgir o primeiro barco. Os barcos sempre estiveram associados à idéia das viagens.

O gestual começou em 1960, com o prêmio de desenho, quando deixei a linha e comecei o gesto. Meu gesto se estendeu para um espaço maior, deixou a terra para flutuar nas águas. A linha cedeu lugar a uma mancha mais larga e os postes de luz das cidades se transformaram em mastros dos veleiros.
Em 1961, uma viagem de estudos para os EUA foi me desvelando aos poucos o outro lado do mundo. De um lado o Oceano Atlântico, voltado para o mundo ocidental, de outro lado o Pacífico, trazendo do Oriente mensagens de paz. Muitos artistas faziam meditação, dentro do Yoga ou do Zen Budismo e o automatismo psíquico era incentivado na arte.  O movimento hippie crescia na Califórnia. Alan Watts acenava para uma vida fora do consumismo e ele próprio morava num barco. Em 1970, fiz a volta ao mundo movida por uma forte intuição. Integrei um grupo de 60 assistentes sociais que se destinavam ao Oriente com a finalidade de visitar a Expo-70.

Nada é por acaso. Quando cheguei à Índia fui convidada a ficar mais uns dias, na embaixada do Brasil. Eu não viajava com o espírito de turista, levava comigo um caderno onde anotava tudo o que via com os olhos e o coração abertos para descobrir o novo em cada cidade, cada aldeia, cada estrada, cada pessoa humana.

Voltei à Índia várias vezes – associei o meu caminho das Índias aos navegantes portugueses. Participei em 1983 do III Congresso Indo-Português, passei por educandários pesquisando formas criativas de educação pela arte, registrei o colorido das ruas, os templos, descobri semelhanças e contrastes nas duas civilizações. Cada viagem me trazia de volta ao Brasil um pouco mais enriquecida.
As oportunidades aparecem para quem está aberto para realizar um trabalho voluntário, comandado pela intuição.
Às vezes, na Índia eu chegava no aeroporto e perguntava: “Para onde tem passagem?” Aquilo me permitia descobrir o inesperado, o não planejado.
Os planejamentos eram feitos a curto prazo, a partir das descobertas ou aparentes acasos. Este aparente acaso me levou a Goa, parte da Índia colonizada pelos portugueses, onde desenvolvi um trabalho sobre a influencia cultural entre o Brasil e a Índia, com a ajuda de um historiador goês, Dr Antônio Menezes e alguns historiadores brasileiros. Daí surgiram publicações e palestras e até uma entrevista com Rajiv Gandhi, filho de Indira.
Outra oportunidade que a vida me ofereceu foi o contato com Rukmini Devi, diretora da Escola de Arte Kalakshetra. Deste contato resultou um convite para dar aulas de desenho naquela universidade. A experiência de dar aulas na Índia foi muito importante para mim..
Daí parti para palestras na Krisnamurti School de Madras e aulas de criatividade realizadas na Sociedade Teosófica. O contato com as crianças também me enriquecia.

O livro “Pepedro nos caminhos da Índia”, foi uma experiência muito positiva, de desenhar na rua, com crianças em volta querendo as canetas coloridas. Pepedro, na ocasião era uma criança de dois anos e se misturava alegremente com os indianos morenos.
Em 2007, Pepedro voltou à Índia e foi visitar os lugares onde o Maurício fez um trabalho comparativo entre o Brasil e a  Índia. Lá chegando, aproximou-se das crianças da escola da aldeia de Kenchenkuppe e doou uma biblioteca de livros infantis  para a escola. Na foto, vemos o Pepedro cercado de crianças.
A vida é sempre transformação e reinvenção do que foi feito no passado.

“Nada se perde, tudo se transforma”

*Fotos de Maurício Andrés

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quarta-feira, 15 de junho de 2011

FENÔMENOS DE SINCRONICIDADE


Enquanto esperamos a chamada para Londres procuramos fazer alguma coisa para passar o tempo.
Os fenômenos de sincronicidade acontecem diariamente, na vida de qualquer pessoa. Não conseguimos percebê-los porque estamos constantemente envolvidos em pequenos problemas, o ontem e o amanhã interferindo no presente. Os fenômenos só acontecem no agora, são fatos e não memórias. Trazem luz para novos acontecimentos e proporcionam mudanças. As mudanças devem ser compreendidas como um toque de consciência vindo de regiões mais sutis, onde não existem cobranças ou imposições. Elas acontecem na vida, e a vida se revela como o grande mestre.Há sempre muita luz por detrás de todas as trevas aparentes. Só assim podemos tomar consciência de que realmente somos conduzidos por energias superiores.
Um aeroporto é o lugar de mudanças programadas e também mudanças não programadas.
Barcelona, 1996 – Tudo brilha neste aeroporto, desde o chão pavimentado com pedra cor de sépia, brilhando como um grande espelho, até as paredes de vidros com estruturas metálicas. Lá fora, uma chuva fininha também faz brilhar o asfalto do campo de pouso.
Estamos esperando. Enquanto escrevo, um inglês sentado em frente retira o computador da valise e digita. Não perde tempo. Nosso vôo está atrasado, neste tempo os vôos sempre atrasam. Ontem aquela jovem espanhola mudou nossa programação. Teríamos seguido ontem para Delhi às 9:45, mas o mau tempo impediu a chegada do avião de Londres. “Vocês não terão tempo suficiente para fazer a conexão...” A jovem nos advertiu: “É preferível ficar em Barcelona, os hotéis são mais próximos do aeroporto”. A jovem tinha dentes claros e um sorriso bonito. “Isto é devido ao mau tempo, os vôos atrasam é preciso ter paciência e esperar. Aqui no aeroporto de Barcelona, todas as pessoas estão esperando, pacientes”.
Ontem, deixamos as malas no hotel e saímos em busca de uma livraria esotérica. Livrarias esotéricas trazem conhecimentos com pessoas interessantes. Nas paredes, dentro de estantes, livros de Krishnamurti, CD’s da New Age, tarôs, cartas, cristais, cabalas. O chão de pedra nos traz imagens de um passado remoto, pequenos becos adormecidos pelo tempo, casas com varandas, flores nos vasos. Dentro da livraria nos sentimos à vontade...”
O dono da livraria era aquele espanhol que almoçou junto conosco no restaurante self naturista. “Trabalho numa livraria esotérica” nos disse ele.
Agora, porque perdemos o vôo, estamos podendo conhecer pessoas novas que abrem novos espaços para nossas vidas. Ana, artista plástica e cartomante vidente nos surpreendeu logo de entrada com suas previsões. “Vocês vão aproveitar muito a viagem para a Índia”.  Dirigindo-se à minha filha Eliana: “Você desenvolve trabalhos junto com sua mãe, esta parceria é necessária” – Há muitos anos trabalhamos em parceria, ora fazendo desenhos, ilustrações, resumo de livros, uma equipe familiar em ação para trazer um pouco da filosofia da Índia para o Ocidente.
Agora estamos em frente a outra vidente, Moutse, uma moça jovem cercada de discípulos. Sentamos em círculo e ela cantou para nós, um canto às vezes chorado, outras vezes suave, místico. Com esse canto ela cura as pessoas. Traz os problemas para o seu coração e ali eles se transmutam com o poder do amor tornando-se energias positivas...
“O momento atual é da transformação pelo amor”. Transmutar em primeiro lugar as nossas próprias vibrações negativas transformá-las em vibrações de luz, que se estenderão pelo meio ambiente alcançando outras pessoas e transformando-as. Para ela a meditação está intimamente ligada ao amor, sem a energia do amor a meditação tornar-se-ia um simples exercício mental.
                      Ofereci o meu livro de presente e Moutse beijou-o. Senti naquele beijo uma forma de abençoá-lo.
Este encontro em Barcelona foi um fenômeno de sincronicidade que nos permitiu enxergar com mais clareza a nossa missão na Índia.
*Fotos de Maria Helena Andrés e da internet
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domingo, 12 de junho de 2011

VISITA A UM ASHRAM EM RISHIKESH

No início dos anos 90 tive a oportunidade de viajar com minha filha Eliana a Rishikesh, no norte da Índia. Fomos introduzidas ao ashram de Swami Dayananda, situado às margens do Rio Ganges, por uma amiga brasileira que residia em Nova Delhi.
Swami Dayananda aprofundou seus estudos de Vedanta e atualmente transmite seus ensinamentos para grupos não somente na Índia, mas em várias partes do mundo.
Fomos convidadas a assistir uma de suas aulas sobre a Bhagavad Gita.
Ao nascer do sol, o grupo de alunos, na sua maioria indianos, iniciara seus estudos com a prática de uma meditação. Frente a uma cortina azul, o alaranjado das vestes do Swami  formava um quadro vivo. Meus ouvidos  também escutavam : “É necessário estar atento ao presente, perceber através de todos os sentidos as coisas que nos rodeiam. Estar consciente das formas, cores, sons, cheiros e toques. Temos de afastar os obstáculos que nos impedem  de realizar o Todo, a Unidade”.
Enquanto ele falava, percebia, através dos meus sentidos, o ambiente em torno, sua voz pausada, o canto dos pássaros, o barulho das águas  do rio Ganges. O Swami lia textos sobre Vedanta e as palavras em sânscrito não eram compreendidas por meu intelecto, mas sua própria vibração ressuscitava em  mim esta reflexão: Se a verdade está gravada dentro de cada ser humano, as palavras são meros instrumentos para despertá-la. O céu pode estar encoberto, mas o sol existe por detrás das nuvens, e a Verdade dentro de cada um de nós, está quase sempre encoberta pelas nuvens da ignorância.
Quando terminou a palestra o Swami atravessou o corredor, chegou até nós e segurou minhas mãos dizendo: “Estou muito feliz porque você veio até aqui”.
A grande afinidade que sentimos com as propostas daquele centro de estudos determinou a nossa estadia em Rishikesh por um tempo maior do que o previsto.
Alguns meses mais tarde, no Brasil, recebi de Swami Dayananda um presente precioso: registros de seu extenso estudo sobre a Bhagavad Gita.
O contato com esse grande mestre da filosofia Vedanta, que transmite de forma clara e acessível, também para nós ocidentais, os ensinamentos dos antigos sábios da Índia,nos estimulou a formar um grupo de estudos tendo como referência um de seus livros.
Transcrevo aqui o depoimento de Eliana sobre a importância dessa filosofia nos dias atuais: “O conjunto das filosofias da Índia, que inclui inúmeras práticas milenares de autoconhecimento, é a grande contribuição que aquele país tem a oferecer à humanidade.
A sabedoria dos antigos rishis da Índia, transmitida de geração para geração há milênios, revela aspectos inerentes a todos os seres humanos de qualquer nacionalidade, raça, religião ou época da história da humanidade.
O estudo da filosofia Vedanta é como um espelho que reflete os diversos aspectos de nossa própria natureza. As verdades transmitidas naqueles textos podem ser descobertas por qualquer ser humano em qualquer época e  região deste planeta. O estudo dos textos antigos é uma referência que nos impulsiona no processo de autoconhecimento, na medida em que nos faz refletir sobre a forma como conduzimos a vida no dia da dia.
Diferentemente dos depoimentos de muitos intelectuais ocidentais, que não encontram sentido para a existência, o estudo aprofundado dessa filosofia tem uma aplicação pratica: nos transforma como seres humanos, nos desperta para novos valores e nos conduz para ter uma compreensão cada vez mais clara do nosso papel no mundo.”

*Fotos de Marília Andrés e Maurício Andrés