terça-feira, 19 de setembro de 2017


CARTA DE MARIA HELENA PARA SUA MÃE NAIR

Bangalore 14 de julho de 1977

Querida Mamãe,

Vai este retrato do Maurício que é seu afilhado além de neto – para matar saudades.
Muito boa a atuação dele aqui, com aquela paz e cordialidade, sem esquentar cabeça, trazendo luz para tanta coisa, muito importante realmente!

Estou empenhada agora no trabalho Arte e Educação, e cheguei à conclusão de que ele era mais importante do que o painel do Instituto Raman. Vou desistir dele.

Se o governo da Índia e o governo do Brasil estão interessados na pesquisa, é melhor trabalhar para os dois países. Aliás, é interessante correr escolas, ver de perto o modo como lidam com as crianças, a forma de educar o povo. Em Bangalore, o Museu de Ciência tem dois ônibus enormes, levando instruções científicas para o povo do interior, que não pode vir às cidades. De aldeia em aldeia, ensinando através de pequenos cenários tipo “presépio do pipiripau”, mostrando a evolução da ciência desde a idade da pedra até a era dos foguetes – confesso que fiz um verdadeiro curso aqui nesses museus, e tudo sem esforço, sem nota, aprendendo com a liberdade, como diz o diretor do museu.

Tenho viajado sempre para Madras, onde está a Eliana. Pensamos muito em você, mamãe, iria adorar o lugar. É situada dentro de um parque enorme, comida ótima, muita gente nova e gente idosa andando de bicicleta.
Quem não sabe andar, anda de “riquixó”, uma espécie de charrete, tendo à frente bicicleta.

Quem sabe você poderia vir com os aluguéis, etc?

Agora tudo está mais fácil, do momento em que se compreende as semelhanças do mundo. Há tanta gente boa aqui...

Um abração grande pelo dia 10

Da filha,
Helena


 *Fotos de arquivo e da internet

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segunda-feira, 4 de setembro de 2017


CARTA À UNIPAZ

Retiro das Pedras, 30 de junho de 2017

Prezados amigos Lydia e Crema,

Recebi com muita gratidão o convite para participar das comemorações dos 30 anos da fundação da Cidade da Paz. Gostaria de estar presente, mas não será possível viajar para Brasília nessa data, porque já assumi compromisso com a família no Rio de Janeiro.

Essa comemoração significa muito para mim, pois acompanhei desde o início os esforços de Pierre Weil para levar adiante o seu sonho holístico. Pierre foi meu vizinho no condomínio do Retiro das Pedras, a visão holística nasceu nas montanhas de Minas. Pierre morava numa casa, na rua logo debaixo da minha. As ideias holísticas começaram a ganhar uma amplidão maior com Pierre Weil.

Na ocasião eu tive também um insight holístico que mais tarde serviu de roteiro para meu livro “Os caminhos da Arte”. Trocava ideias com Pierre e ele prefaciou meu livro. Foi com satisfação que participei de workshops na Unipaz, que ilustrei seu livro Ondas à procura do Mar e que doei à Unipaz um quadro e um painel, ambos com o símbolo da mandala holística no cosmos.

A integração dos vários caminhos do desenvolvimento humano, a arte, ciência, religião, filosofia, ecologia e educação é necessária para iluminar os caminhos do mundo.

Pierre tinha vocação organizacional e com isso o seu sonho holístico se tornou realidade. Extrapolou a limitação de um condomínio nos arredores de Belo Horizonte e se transferiu para o Planalto Central, de onde se realizam e se projetam as ideias mais avançadas no campo de uma visão cósmica, transpessoal.
Pierre seguiu seu caminho, abrindo mão de sua carreira profissional para se dedicar de corpo e alma à gigantesca obra de reconstrução do ser humano.  A Cidade da Paz continua a dar seus frutos e fazer crescer a semente plantada por seu fundador, o nosso inesquecível Pierre.

Numa fria manhã de outubro, domingo dedicado a São Francisco deAssis, foi celebrada uma missa na capela do Condomínio Retiro das Pedras, em homenagem à Pierre Weil, antigo morador e ex- presidente do Condomínio.
Nada melhor para apresenta-lo às pessoas que não tiveram a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente do que esta frase de São Francisco:”Senhor, fazei de mim um instrumento de vossa paz.”

A oração, de certo modo, retrata o que foi Pierre em seus últimos anos de vida.
“Onde houver ódio, que eu leve o amor, onde houver tristeza que eu leve a alegria”
Pierre residiu por muitos anos no Retiro das Pedras. Caminhava todos os dias vestido com sua característica túnica indiana e aqui, neste ambiente de beleza natural no alto das montanhas, ele teve a oportunidade de dar continuidade à sua missão de pensador e místico holístico. Aqui no Retiro a Universidade da Paz foi idealizada. Sua proposta, anteriormente destinada à uma comunidade espiritualista nas montanhas extrapolou Minas Gerais para se expandir em Brasília, capital do país. Ali obteve do então governador José Aparecido de Oliveira o apoio necessário para a criação de uma Universidade Holística Internacional, buscando a integração de todas as tradições religiosas e o encontro entre Arte, Ciência, Religião, Filosofia, Psicologia, Ecologia.
Seus workshops e Formação Holística de Base, com o apoio da Unesco, se estenderam por todo o Brasil e existem representantes deles em várias cidades da América Latina.
O objetivo principal é a quebra da separatividade e a consciência de que todos somos irmãos, vivemos no mesmo planeta e respiramos o mesmo ar.

Por suas idéias Pierre Weil foi admirado e respeitado internacionalmente.

A missão de Pierre nesta vida foi sempre uma missão de paz, procurando harmonizar os conflitos e aceitando as adversidades com uma coragem extraordinária.
Pierre terminou seus dias cego, e mesmo assim continuou administrando workshops pelo Brasil. Reunia grupos e os sensibilizava para a percepção de outros aspectos sensoriais – do toque das mãos, do despertar do ouvido, do perfume das frutas e flores.
Pierre será sempre lembrado por esses aspectos positivos de sua pessoa.

Agradeço a todos vocês o convite.

Pedi ao Maurício que me represente na celebração dos 30 anos, e que doe à Unipaz um filme com a minha trajetória que poderá ser exibido na ocasião.

Um grande abraço a todos,
Maria Helena Andrés

*Fotos de Maria Helena Andrés


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