No início dos anos 90 tive a oportunidade de viajar com minha filha Eliana a Rishikesh, no norte da Índia. Fomos introduzidas ao ashram de Swami Dayananda, situado às margens do Rio Ganges, por uma amiga brasileira que residia em Nova Delhi.
Swami Dayananda aprofundou seus estudos de Vedanta e atualmente transmite seus ensinamentos para grupos não somente na Índia, mas em várias partes do mundo.
Fomos convidadas a assistir uma de suas aulas sobre a Bhagavad Gita.
Ao nascer do sol, o grupo de alunos, na sua maioria indianos, iniciara seus estudos com a prática de uma meditação. Frente a uma cortina azul, o alaranjado das vestes do Swami formava um quadro vivo. Meus ouvidos também escutavam : “É necessário estar atento ao presente, perceber através de todos os sentidos as coisas que nos rodeiam. Estar consciente das formas, cores, sons, cheiros e toques. Temos de afastar os obstáculos que nos impedem de realizar o Todo, a Unidade”.
Enquanto ele falava, percebia, através dos meus sentidos, o ambiente em torno, sua voz pausada, o canto dos pássaros, o barulho das águas do rio Ganges. O Swami lia textos sobre Vedanta e as palavras em sânscrito não eram compreendidas por meu intelecto, mas sua própria vibração ressuscitava em mim esta reflexão: Se a verdade está gravada dentro de cada ser humano, as palavras são meros instrumentos para despertá-la. O céu pode estar encoberto, mas o sol existe por detrás das nuvens, e a Verdade dentro de cada um de nós, está quase sempre encoberta pelas nuvens da ignorância.
Quando terminou a palestra o Swami atravessou o corredor, chegou até nós e segurou minhas mãos dizendo: “Estou muito feliz porque você veio até aqui”.
A grande afinidade que sentimos com as propostas daquele centro de estudos determinou a nossa estadia em Rishikesh por um tempo maior do que o previsto.
Alguns meses mais tarde, no Brasil, recebi de Swami Dayananda um presente precioso: registros de seu extenso estudo sobre a Bhagavad Gita.
O contato com esse grande mestre da filosofia Vedanta, que transmite de forma clara e acessível, também para nós ocidentais, os ensinamentos dos antigos sábios da Índia,nos estimulou a formar um grupo de estudos tendo como referência um de seus livros.
Transcrevo aqui o depoimento de Eliana sobre a importância dessa filosofia nos dias atuais: “O conjunto das filosofias da Índia, que inclui inúmeras práticas milenares de autoconhecimento, é a grande contribuição que aquele país tem a oferecer à humanidade.
A sabedoria dos antigos rishis da Índia, transmitida de geração para geração há milênios, revela aspectos inerentes a todos os seres humanos de qualquer nacionalidade, raça, religião ou época da história da humanidade.
O estudo da filosofia Vedanta é como um espelho que reflete os diversos aspectos de nossa própria natureza. As verdades transmitidas naqueles textos podem ser descobertas por qualquer ser humano em qualquer época e região deste planeta. O estudo dos textos antigos é uma referência que nos impulsiona no processo de autoconhecimento, na medida em que nos faz refletir sobre a forma como conduzimos a vida no dia da dia.
Diferentemente dos depoimentos de muitos intelectuais ocidentais, que não encontram sentido para a existência, o estudo aprofundado dessa filosofia tem uma aplicação pratica: nos transforma como seres humanos, nos desperta para novos valores e nos conduz para ter uma compreensão cada vez mais clara do nosso papel no mundo.”
*Fotos de Marília Andrés e Maurício Andrés
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