O carro parou na estrada e descemos 300 degraus de uma escada de pedra.
O rio Ganges corria sereno, entre patamares e praias de areia branca.
Debaixo de arvores, no meio de pedras, existe um ashram escondido.
Dois homens vêm nos receber. Estão enrolados em panos acinzentados. Escolheram uma vida simples, inteiramente ligada à natureza. Crianças se acercam de nós. Uma delas me põe um pozinho de sândalo na testa para dar sorte e clarear os pensamentos.
Ali viveu durante muitos anos Swami Purushottamenendgi, o eremita de Rishikesh. Meditava dentro de uma gruta com uma lamparina de óleo junto à imagem de Shiva. Quando queria comer, ia à aldeia próxima e lhe davam fogo para cozinhar. Não usava fósforo nem tirava o fogo das pedras, mas conservava sempre acesa a sua lamparina. Até hoje podemos vê-la acesa, como o fogo sagrado que nunca se apaga.
O velho eremita era uma espécie de São Francisco da Índia. Conversava com os tigres e as cobras, dava comida aos peixes do rio. Sua vida estava ali, junto ao rio muito verde, escondido no meio da floresta. As lendas a seu respeito correm de boca em boca.
“Eu estava junto dele quando se aproximou uma cobra; tive medo, mas o Swami ordenou que ela se retirasse. A cobra, que preparava o bote, afastou-se de nós tranqüilamente”, isto nos informou seu jovem discípulo.
O velho swami um dia chamou os discípulos para avisá-los de que sua hora chegara e morreu, sentado em postura de lótus.
Hoje seu retrato é homenageado com colares de flores, junto à entrada da caverna.
Um menino de oito anos me segura as mãos e vou andando devagarinho, sem enxergar nada, só a lamparina brilhando no escuro. Aos poucos, das sombras vão surgindo formas, silhuetas.
O menino toca um sino e canta mantras. “Om namah shivaya”.
Os cânticos ressoaram dentro da gruta, fazendo coro com a flauta de Patrícia, a jovem brasileira que nos acompanhava. Filha da adida cultural do Brasil na Índia, andava sempre com uma pena de índio na cabeça, em homenagem aos índios brasileiros.
À saída, eles nos forneceram prasad, um doce feito com leite e coco, muito comum na Índia. Significava uma atenção para com o visitante, uma forma de saudá-lo. Todos os lugares sagrados oferecem prasad.
“Namaste – (O Deus em mim saúda o deus em ti) As mãos se juntaram em reverencia e a imagem do eremita nos acompanhou enquanto subíamos a escadaria.
A morte serena do Eremita de Rishkesh foi para mim um toque de consciência.
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