domingo, 14 de agosto de 2011

MARIA HELENA ANDRÉS E A INTEGRAÇÃO ORIENTE OCIDENTE


Recebi de Maurício Andrés o depoimento que transcrevo abaixo:

“Maria Helena Andrés é uma artista brasileira que se empenhou em promover a integração entre o oriente e o ocidente contribuindo para o conhecimento no Brasil sobre a cultura indiana. Ela o fez a partir da década de 70, numa época em que no Brasil pouca atenção era dada às relações culturais com a Ásia e especialmente com a Índia. Essa integração e intercâmbio têm um significado especial nesse momento de crise da civilização ocidental industrial, nessa etapa da história em que a Ásia readquire centralidade e importância  globais e na qual a perspectiva oriental, no mundo pós colonialista, passa a ser novamente valorizada. Maria Helena identificou-se com a cultura da Índia, para onde viajou inúmeras vezes a partir dos anos 70. Ali, por meio de imersão no cotidiano, desbravou o país, estudou a filosofia e a arte numa perspectiva ampla e absorveu o espírito e a postura cosmológica dos orientais. Tal intercâmbio resultou em textos e reflexões teóricas e conceituais publicados em seus livros, revistas e jornais. No livro Encontro com Mestres no Oriente, publicado em 1993, discorre sobre suas viagens e reflexões no Japão, Tailândia, Nepal e Índia e focaliza mestres e pensadores como o Mahatma Gandhi, Sri Ramakrishna, Sri Aurobindo, Sri Ramana Maharshi, Jiduu Krishnamurti, Swami Dayananda, Vimala Thakar sendo que com os dois últimos teve convivência pessoal. Desse investimento no oriente resultaram também contribuições  por meio de sua obra em artes plásticas como as do  álbum Oriente-Ocidente, integração de culturas(1984). Realizou ainda as ilustrações do livro Pepedro nos caminhos da Índia, (1984 e 2007) que relata a viagem de um menino brasileiro naquele pais.
Essas inúmeras viagens ao oriente e à Índia em busca da integração oriente ocidente refletiram-se na obra teórica e plástica de MHA.  Ao fazê-lo, seguindo sua intuição e sua atração pessoal por aquela cultura, ela renunciou a uma inserção mais agressiva no mercado de arte nacional e a uma presença mais intensa em acontecimentos sociais e eventos artísticos no Brasil e aos interesses econômicos e comerciais em prol do desenvolvimento da consciência. Ao buscar inspiração no oriente, fez trajetória inversa à de pintores japoneses que migraram para o Brasil, tais como Tomie Ohtake, Kazuo Wakabayashi, Tomoshige Kusuno, e Manabu Mabe.
Seu abstracionismo lírico tem afinidade com o oriente, com a gramática icônica dos japoneses. Viu afinidades entre a escrita oriental e a pintura gestual.
Essa gramática icônica é apropriada pela propaganda e pela publicidade ao conceber logomarcas e outros signos gráficos de forte apelo comunicativo.  Não por acaso, o Instituto Maria Helena Andrés, criado em 2005 para desenvolver trabalhos de educação pela arte, adotou logomarca que identifica ao mesmo tempo os traços da artista e sua assinatura e tem similaridade com a caligrafia oriental.
Essa reaproximação com o oriente, pouco valorizada num país que ainda se liga prioritariamente a cultura ocidental, seguiu uma trajetória semelhante à do critico de arte Mario Pedrosa que, ao retornar de uma viagem feita ao Japão como bolsista da UNESCO, em 1959, com o prêmio que lhe foi concedido durante o congresso de Críticos de Arte realizado em Brasília, cidade prestes a ser inaugurada, redigiu o ensaio denominado: A caligrafia sino-japonesa moderna e a arte abstrata no Ocidente, no qual revelava ter encontrado respaldo para discorrer sobre a pintura informal ou lírica. E em uma seqüência de matérias publicadas no Jornal do Brasil, no mesmo ano, Pedrosa afirmava: “toda a arte chinesa, e mesmo a japonesa é iconográfica, isto é, feita em função de uma idéia ou símbolo”. Em outro texto publicado no ano seguinte, o crítico referia-se mais detalhadamente ao significado da escrituração do gesto pictórico, tomando como referência, mais uma vez, a caligrafia oriental:
Segundo a historiadora Almerinda da Silva Lopes: “Se, no oriente, a primeira das artes, em importância e ordem cronológica de seu aparecimento foi a Escritura, ou a Caligrafia, no Ocidente a relação entre pintura e escritura foi totalmente outra. A escrita nasceu, aqui, já de um modo ou com objetivo prático, utilitário, de meio para fim.  No Oriente, a escrita, ela mesma, se transformou num fim, muito antes de a Europa apresentar-se como um continente separado e marcado por  uma civilização autônoma. Da caligrafia chinesa nasceram as pinturas chinesa e japonesa. No Ocidente, a pintura só depois de desenvolvida dava motivo ao nascimento de uma variação pictórica com algo de caligráfico ou de escritura.”
*Fotos de arquivo e foto de Maurício Andrés
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