Recordamos sua vida, uma trajetória de guerreira, que foi
abrindo caminho para outros passarem. Filha de um imigrante sírio que, quando
chegou ao Brasil, trocou seu sobrenome de Chukair para Barroso e assim
inaugurou uma nova família, ela foi a caçula de 14 irmãos, sendo cinco
mulheres: Zaifa, Zilda, Zélia, Zaida e Zauhry. Adotou o sobrenome Santa Rosa do
marido, Delfino, com quem teve seis filhos: Aparecida, Márcio, Lydia, Jason,
Eleonora e Júnia, que lhe deram três netos: Joaquim Pedro, Alice e Tomás.
Formou-se em História pela UFMG, no mesmo ano em que sua filha Aparecida se
formou ali. Nunca parou de trabalhar, como executiva no Ministério do Trabalho em Belo Horizonte e em
Brasília, e como dona de casa. O grande exemplo que nos deixa é este,
transformando o próprio trabalho em forma de crescimento, exemplo seguido por
seus filhos e filhas. Quando se viu aposentada, continuou estimulando outras
colegas da terceira idade a não pararem. A vida é um caminho sempre aberto para
o aprendizado e Zauhry deu testemunho disto. Foi uma das primeiras alunas a
ingressar na Universidade da terceira idade na Fumec e seguiu em frente,
interessada em aprender cada vez mais, pelo próprio prazer de se atualizar. O
conhecimento que não visa apenas receber um diploma no final de um período é o
conhecimento que faz crescer cada vez mais a pessoa como ser humano.
Suas aptidões domésticas não ficaram abandonadas com todo
esse currículo de cursos de extensão. Zauhry era ótima cozinheira e algumas vezes
pude participar de almoços em sua casa, onde, cercada de filhos e netos, ela
demonstrava suas aptidões na arte culinária. Reunir-se em torno da mesa para o
congraçamento familiar é um hábito que sempre exerceu.
Toda pessoa com sensibilidade tem poesia no fundo do
coração, e, em casa, sozinha, Zauhry também era poeta. Recebi um poema de 2003,
que transcrevo abaixo:
“A EMENDA E O SONETO
Para se chegar aos 80
não há receita inteira.
É como colcha emendada
costurada com linha caseira.
Ontem era um brilho no pano,
depois um filó bem rendado,
anteontem um cetim lustroso,
que estava muito amassado.
Às vezes aparece um quadrado
ou quem sabe um redondinho,
o formato não se escolhe
ele chega e se junta, mansinho.
Há certo tempo difícil.
A gente pára, olha a colcha
e pensa: será que vale juntar
aquele pedaço sem cor
desbotado pelo choro, vale pregar ?
Mas é preciso ir adiante.
A vida segue e mais panos,
agora estampados, com flores
que nem lembram os desenganos.
Há pedaços de camisolas
das crianças bem pequenas,
todos guardam uma saudade,
mas são saudades, apenas.
Até que beirando os “oitenta”,
os pedaços já esgarçados
tem que ser juntados, de leve,
senão, se perdem, coitados !
Os dedos, a linha e olhos
anuviados, bem iguais
olham o tamanho da colcha
e perguntam a Deus, tem mais ?”
*Fotos de arquivo
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