Meu irmão Paulo Euler, ainda criança, começou a se
interessar pelas comunicações. Fabricava com as próprias mãos, com a ajuda de
uma pedra chamada “pedra galena”, o seu próprio rádio. Escutava música,
notícias dos acontecimentos internacionais divulgados pela Rádio Inconfidência
ou Itatiaia. Nós ficávamos curiosas e admiradas com aquele pequeno inventor
que, antecipando sua época, entrava com os próprios recursos no universo das
comunicações. Paulo era uma criança inventiva, mas extremamente discreta. Não
se vangloriava de seus inventos.
Um dia nos convocou para ajudá-lo a colher cacos de vidro na
rua.
“Vou fazer um caleidoscópio”. Lourdes e eu tornamo-nos
parceiras de Paulo, recolhendo vidros coloridos que encontrávamos nas pedras do
calçamento da rua Santa Rita Durão. Paulo conduzia as invenções, e, em pouco
tempo a rua toda estava vendo mandalas coloridas nos céus de Minas. Toda a
criançada queria ter seu próprio caleidoscópio, feito em casa. Hoje , em Inhotim,
um grande caleidoscópio me faz lembrar este irmão pioneiro de muitas idéias,
atuando à frente de seu tempo.
Em Inhotim os visitantes podem ver sua própria figura
multiplicada em forma de caleidoscópio. Em Brasília, numa exposição de arte
contemporânea, pude ver minha própria figura multiplicada num desses inventos
em forma de espelho. A partir desses caleidoscópios feitos em casa, realizei
mais tarde minha série de mandalas.
O que acontece agora nos remete à infância, às rodas
gigantes, aos espelhos que engordam ou emagrecem. Tudo isso faz parte de um
mundo lúdico, onde as lembranças ressurgem e são revividas de forma atual. Uma
das grandes mensagens da arte contemporânea é fazer reviver esse espírito
lúdico e experimentar a fantasia das crianças.
Escuto a voz do meu bisneto Gabriel, quando entramos na
Igreja de Lourdes em
Belo Horizonte : “Vó, que castelo é este que estamos
entrando?”
Paulo continuou seu espírito inventivo, descobrindo
aparelhos que possibilitavam ver através do nevoeiro, bem como uma régua de cálculo que facilitava a
matemática da engenharia. Infelizmente a supremacia do hemisfério norte sobre o
sul, seja na área da arte, seja na tecnologia, colocou barreiras nesses
inventos, que sempre vão depender de patrocínios milionários. Colocá-los no
campo das artes visuais é uma das funções da arte contemporânea, que abraça as
novas idéias com generosidade.
Arte, ciência, religião, filosofia, ecologia, educação,
psicanálise, se integram na formação de novos inventos, novas idéias. As
idéias novas sempre existiram e despontaram
em épocas anteriores. Não foram divulgadas nem utilizadas, mas, tiveram a sua
função ao despertar o lúdico e a fantasia na cabeça das crianças que mais tarde
se tornaram artistas ou cientistas.
“Nada se perde, tudo se transforma”
Hoje, relembrando o passado, onde a arte se unia à
tecnologia em forma de brincadeiras infantis, reconheço também o meu interesse
pelas novas tecnologias. Tudo isto para mim está ligado à infância, à alegria
de ver uma pedra chamada galena poder transmitir vozes e músicas e também o
deslumbramento de cores e luzes de um pequeno caleidoscópio feito em casa.
Fotos de arquivo e da internet
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