domingo, 30 de dezembro de 2012

MUSEU REVELADO


Na sexta feira, dia 21 de dezembro, resolvi visitar o MAP, Museu de Arte da Pampulha, antes que se acabasse com o fim do mundo. Uma caminhada retroativa através da Arte Contemporânea, passando pela geração 80, até chegar ao princípio do modernismo, dá ao visitante uma visão de conjunto do que foi feito no Brasil e em Minas, uma seleção de trabalhos que informam o esforço criativo de nossos artistas. Cada um nos conta uma história, que nos permite voltar ao passado, rever as cenas e sentir que o nosso acervo é de muito boa qualidade. Há muito tempo não via um Guignard de perto e a presença do meu mestre, com seus balõezinhos e paisagens mineiras é o grande cartão de visitas que o museu está oferecendo.  A poesia de Guignard é inconfundível e sua sensibilidade atravessa gerações e vai nos conduzindo ao seu mundo de sonhos. O modernismo em Minas, comandado por Guignard e estruturado por Niemeyer, Portinari e toda equipe inovadora da Pampulha, está de volta à Pampulha. O modernismo nasceu e se desenvolveu nesta região de BH, à beira da lagoa. Lembro-me de quando Portinari veio com sua equipe pintar o grande painel da Igrejinha. Aprendemos muito com sua técnica de pintura, oferecida generosamente aos visitantes, estudantes de arte. Veio gente do Rio e São Paulo e os alunos se agrupavam em torno dos pintores cariocas, Portinari em cima de uma escada e seu irmão Leo trabalhando o tempo todo como auxiliar. Ele nos explicava tudo, mostrando os desenhos. Para se fazer um painel é necessário muito trabalho, muitos croquis, estudos de formas e cores, uma lição de vida. Nada se consegue sem muito esforço.
Hoje, sentada ao lado do trabalho de Portinari, posso ver de perto as pinceladas daquele grande brasileiro que morreu ainda jovem  intoxicado pelas tintas.  Iberê Camargo, Volpi e Milton da Costa, vão mostrando outras faces do modernismo, do concretismo ao expressionismo, marcando as mudanças sofridas na arte. No fundo da sala, uma grande tela em preto de Ivan Serpa nos surpreende por seu expressionismo violento. Eu conheci Ivan Serpa na década de 50, mostrado como um papa do concretismo brasileiro. Poucos anos depois sua força criativa demonstrou que ele era um artista cuja visão do mundo permitia trabalhar com o oposto. Largar a rigidez do concreto foi o caminho de todos nós. Alguns foram para o neo concreto, outros se libertaram no expressionismo. A arte nos permite essa liberdade de linguagem tranquilamente, sem conflitos. Naquele atormentado século XX, os pioneiros da arte abriram caminho para essa diversidade.
No andar superior, os transgressores da arte ali estão representados ao lado de Ivan Serpa, por nossos mineiros, Terezinha Soares e Jarbas Juarez. A transgressão na arte começou na década de 60 em Minas. Nesta exposição estou também presente com um desenho de barcos sobre papel veludo, da série mostrada nos Estados Unidos e em Sala Espacial na Bienal de 1961.
Mário Silésio e Amílcar de Castro marcaram presença com o concretismo e neo concretismo em Minas, mostrando como conseguiram assimilar as idéias vindas de fora com suas próprias idéias. O concretismo em Minas até hoje é lembrado como uma das tendências mais importantes de nossa trajetória.
Descemos a rampa em direção à Geração 80 e a Arte Contemporânea, representada por artistas inovadores, onde o espaço permite uma demonstração de que a arte deixou realmente o muro e se expandiu pelo espaço, como os arquitetos. Hoje a arte ocupa corajosamente o espaço, elabora formas que se justapõem construtiva e livremente, como os cubos de Damian Ortega.
A pintura de chocolate de Vic Muniz marca uma nova vertente de criação, com a rejeição dos recursos tradicionais da pintura. Admiramos uma instalação de José Bento, realizada em madeira, o silêncio meditativo da cerâmica de Sonia Laboriau, e a beleza serena do desenho de Isaura Pena.
Uma turma de visitantes vindos da Copasa, BH, invade o recanto . Querem ver os quadros, e uma jovem vai explicando tudo.
Sentei em frente a uma instalação de Roberto Vieira, ao lado de um trabalho em ferro de Leon Ferrari.
Procuro um lugar mais fresco para descansar.
A arte, realmente nos proporciona reflexões sobre as mudanças e transgressões deste mundo contemporâneo, cheio de surpresas.
À noite, um vídeo de Eder Santos, de grande intensidade poética é colocado na fachada do MAP, permitindo a visão panorâmica dos céus de Minas.

*Fotos da internet

VISITE TAMBÉM MEU OUTRO BLOG “MINHA VIDA DE ARTISTA”, CUJO LINK ESTÁ NESTA PÁGINA.

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