A folia de reis em
Brasília, além de ser uma celebração, foi também uma confraternização. Naquela
noite fizemos amigos novos e as bordadeiras do grupo Matizes Dumont nos foram
apresentadas.
No dia seguinte já
estávamos em casa de Sávia conversando sobre o trabalho de bordado extensivo à
toda família. Conhecemos D. Antônia, a mãe e líder do bordado. Com filhos,
netos e bisnetos, D. Antônia ainda borda e incentiva a participação da família
num trabalho de arte coletiva que serve de exemplo para outras famílias. O
bordado sobre telas de artistas famosos é uma recriação livre sobre um tema que
serve de base. As bordadeiras percorreram os caminhos do Rio São Francisco,
registrando os barcos, os animais, as festas e percorreram também a trajetória
de Portinari em Guerra e Paz, traduzindo para o bordado a obra prima do grande
artista brasileiro. Cores, tons,
semitons, os amarelos trazendo a alegria das crianças brincando de roda, os
tons de azul escuro simbolizando as sombras da guerra e a tragédia da morte
coletiva pairando sobre a terra. Tudo isso foi traduzido e interpretado em
linhas coloridas e lãs multicores das bordadeiras Matizes Dumont. Relembro
minha prima Maria Ângela Magalhães com sua turma de bordadeiras tecendo as
minhas tapeçarias entituladas “Barqueiros do São Francisco”.
Agora, estou eu sentada
num ateliê de arte que agrega uma família inteira, filhas, netas, todas tecendo
e bordando cenas do cotidiano e também traduzindo a inspiração de grandes
artistas como Portinari. As bordadeiras são bem sucedidas em seu trabalho de
arte coletiva, realizado por muitas mãos. Um dos irmãos, o pintor Demóstenes,
reside em Tiradentes. Ele realiza seus estudos e telas para se transformarem em
bordados. Esse grupo de artistas, de uma originalidade extraordinária, já se
firmou como um grupo conhecido no Brasil Central e também no Rio e São Paulo, o
famoso eixo inquebrantável.
Aqui estou, no Brasil
Central, descobrindo novos caminhos para minha arte.
Conheci Sávia, que é
também escritora, escreve livros para crianças que já mereceram o prêmio
Jaboti, um dos prêmios mais importantes do Brasil. Os livros são ilustrados com
fotos dos quadros bordados e a história de Candinho o “Portinari” vai seguindo
pelo Brasil através do mundo das crianças. Pediram-me para dar entrevista sobre
a minha trajetória na arte e na vida e um dia terei também um livro bordado.
Graças a essa família
privilegiada muita coisa nova está sendo feita em matéria de quadros e livros e
até de capa de CD, como o bordado que foi
feito para ilustrar um CD de Maria Betânia.
Bem, aqui estamos em
Belo Horizonte de novo, depois de ter escrito esse blog durante a viagem.
Marília foi buscar as malas e eu aqui estou, no Aeroporto de Confins,
escrevendo, sentada numa cadeira de rodas.
Chegamos. O tempo aqui
está ótimo, há crianças brincando e correndo enquanto as mães tiram as malas.
Tudo vai começar de novo nessa movimentada cidade das montanhas. A paisagem é
outra, deixamos para trás o cerrado e os amigos que lá ficaram já nos dão
saudades. Talvez um dia possamos caminhar juntos, nas estradas mágicas dos
bordados.
*Fotos de Arnold Baungartner, Rui Faquini e Maurício Andrés
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