Ana Maria Pascale, nossa anfitriã é viúva de um
médico e teve 7 filhos, um deles médico, uma professora de yoga e outro
artista. Gosta de arte, coleciona quadros e conhece os melhores artistas italianos.
Me introduziu aos livros de Montanarini, um grande pintor italiano.
“O processo de arte dele se assemelha ao seu”, me
disse ela. Realmente, as idéias e depoimentos de Montanarini têm muito a ver
com os meus livros. Interessante ver como a vida nos coloca às vezes junto aos
grupos afins, somos realmente conduzidos pela sincronicidade. É esta
sincronicidade que marca os encontros não programados.
Disseram-me um dia no Brasil: “Você vai encontrar na
Índia seus irmãos espirituais e na Europa seus irmãos de arte.” Essas palavras
me foram ditas por uma vidente há mais de 20 anos atrás. Caminhei 20 anos pelas
estradas da Índia, ali encontrei amigos, grupos espiritualistas, mestres de
yoga, filósofos e pensadores. Encontrei a arte estendida ao cotidiano e a arte
estendida à educação nas escolas de Aurobindo, Krishnamurti e no Kalakshetra.
Ali encontrei Rukmini Devi, diretora da escola de dança Kalakshetra, cujos
conceitos sobre arte e vida se assemelhavam aos meus.
Agora encontro em Roma, na figura de Ana de Pascale
grande afinidade na vida e na arte.
Quando Ana abriu a porta, tive a impressão de que já a conhecia há muito tempo.
Ela foi nos mostrando a casa, os móveis antigos, os quadros, os livros – uma
biblioteca enorme. Recebeu-nos com o maior carinho, desculpando-se porque a
casa estava sendo preparada para o filme.
“Vocês ficam aqui no quarto de minha filha, podem
estar à vontade”
Em cima da mesa encontramos um exemplar da
Baghavagita, a Bíblia dos hindus e outros livros de yoga.
As coisas não acontecem por acaso. A resposta estava
ali naqueles livros. Contei sobre nosso interesse pela filosofia oriental e das
minhas viagens à Índia. Cláudia, a filha mais nova de Ana é professora de yoga
e a mãe estuda com ela o pensamento milenar da Índia. À noite, sentada na sala
cantamos mantras indianos, canções brasileiras, italianas e argentinas. De
madrugada percebi luz no quarto de Ana – ela estava lendo os meus livros.
Quando acordou já queria traduzi-los para a língua italiana.
“Vou levá-los à viúva de Montanarini, ela vai
gostar, suas idéias são bem semelhantes e seu processo artístico também. Ele
seguiu o mesmo itinerário do figurativo para o abstrato. Os artistas modernos
são também pensadores, tais como Kandinsky, Mondrian, Klee, Van Gogh e agora
este italiano. Todos buscaram ampliar a visão da arte para o campo do
desenvolvimento humano. Anotei algumas frases do livro de Montanarini:
“Um pintor deve ter a mente de um profeta, a coragem
de um combatente, a força de um operário, a constância de um atleta, a paciência
de um eremita e a humildade de um mendigo.”
“A história da humanidade é um ciclo que vai do
ético ao estético”. Estas palavras de Montanarini constituem uma advertência.
Este tema ético e estético seria o lema da Bienal de Veneza de 2000.
*Fotos de arquivo
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