domingo, 22 de setembro de 2013

DUAS ARTISTAS UNIDAS NO TEMPO

Escrevo da varanda de minha casa escutando os passarinhos que chegam saudando esta manhã de sol. Ao meu lado, dois livros de arte descrevem a presença das mulheres nos movimentos que surgiram nos séculos XX e XXI.
Escutar a voz destas mulheres é importante para esclarecer a história e clarificar caminhos semelhantes ou contraditórios.
Tomei como exemplo duas artistas que viveram em épocas distantes mas se unem no espaço e tempo com formas e pensamentos semelhantes. São elas: Sonia Delaunay e Beatriz Milhazes.
“Não sei como definir minha pintura, o que não acho ruim, porque desconfio de classificações e categorizações. Como e por que definir algo que vem de dentro de nós?” Estas palavras de Sonia Delaunay esclarecem muitas vezes o que nós artistas sentimos quando realizamos um quadro, um desenho, uma escultura. O que parte do sentimento, da emoção, da alma, dificilmente pode ser definido. Sonia Delaunay participou da vanguarda russa, casou-se com Roberto Delaunay, radicou-se em Paris durante a revolução russa. Mas em seus quadros abstratos, ligados ao construtivismo, as curvas sinuosas sugerem o movimento das danças da Ucrânia, sua terra natal.
“Lembro-me dos casamentos dos camponeses na minha terra, em que os vestidos vermelhos e verdes, enfeitados com muitos laços, balançavam durante a dança.”
Agora voltemos à outra exposição que está, no momento ocupando um espaço no Sesc Paladium. Beatriz Milhazes é uma referência do movimento denominado “Geração 80”, uma artista que se firmou no plano internacional como uma representante brasileira: o Brasil do carnaval, dos desfiles das escolas de samba, do movimento das danças.
Sonia Delaunay se refere às danças ucranianas, Beatriz Milhazes registra as danças carnavalescas. Em suas telas e serigrafias sentimos a movimentação das cores em ritmo contido pelas origens construtivas da artista. O construtivismo brasileiro está contido como base estrutural de suas serigrafias, expostos em Belo Horizonte. Sonia Delaunay, ao mesmo tempo, ocupa uma sala no CCBB da Praça da Liberdade, integrando a exposição “Elles, mulheres artistas na coleção do Centro Pompidou”. Os depoimentos de ambas são testemunhos de que duas terras tão distantes podem se tornar próximas através das manifestações artísticas.

*Fotos de arquivo

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