Em 1967 viajei com Ivana, então com 16 anos para os
EUA, afim de realizar uma exposição em Washington. Incluimos o Peru e o México em
nosso roteiro de viagem e tivemos a sorte de, no avião, encontrar uma equipe da
rede Globo, que iria filmar a novela “Carlota, a rainha louca”. Natália
Timberg, protagonista daquela novela continua, com a mesma simpatia e
competência, a atuar na novela “Amor à vida”. Ivana escreveu um diário de onde
retiramos a página abaixo:
“Escrevo do avião, a 10.000 m de altitude, voando
para o México e daqui a pouco faremos escala em Bogotá . A noite caiu e a
paisagem é um misto de cinza e preto. Viaja conosco o Hamilton Fernandes, que
está com outros artistas da rede Globo,
inclusive Natália Timberg. Eles acabaram de fazer a novela “O direito de
nascer”, sucesso estrondoso em todo o Brasil. Por um puro acaso estamos juntos
neste vôo. Hamilton Fernandes fez o personagem Albertinho Limonta e todo o
Brasil se apaixonou por ele. É claro que estou doida para bater um papinho com
ele. Viaja conosco também o conhecido político Carvalho Pinto e na nossa frente
estão a filha dele com o marido. Ambos são muito bonitos e simpáticos e
conversamos com eles durante muito tempo.
Tínhamos saído do Peru com céu nublado e no
aeroporto tivemos uma experiência que será inesquecível, um dos momentos de
maior aflição de minha vida. Chegamos muito chiquitas, eu de peruca curta e
vestido vermelho e mamãe de preto e branco com gorrinho branco à La Jaqueline Kennedy.
Sentamos nas nossas cadeiras dentro do avião e esperamos um tempão. Só na
última hora vimos que não tínhamos o visto peruano, perdemos o papel mais
importante. A aeromoça berrando à saída do avião e o pessoal da Varig correndo
de um lado para outro e eu atrás deles, como uma barata tonta. Telefonaram para
a Varig do centro de Lima, pois pensávamos ter esquecido os papéis lá. Quase
perdemos o vôo. Afinal abriram uma exceção para nós e deram-nos outro documento. (Horas depois encontramos o visto. Estava o
tempo todo conosco, junto dos nossos corpos, numa bolsa costurada em nossos
soutiens!) Mamãe, depois de uma aflição tem uma reação muito engraçada: começa
a contar o caso para todo mundo e com isso foi até consolada pelo Carvalho
Pinto. Enfim, o mais importante é que não perdemos o avião e nossa escala no Panamá
valeu-nos um rádio, uma máquina fotográfica e perfumes franceses. Mas o que
achei o máximo, foi o contato que tivemos com a equipe de teatro brasileiro. Gentis,
falantes, que vivem no momento presente a sua maior glória. Estão no seu apogeu
e têm consciência disso. Conversamos um tempo enorme com um deles, Helli, muito
culto, já visitou a Europa muitas vezes, faz cenários e pinturas em telas.
Batemos longos papos sobre arte e filosofia.
Os brasileiros ficaram no Hotel Romano e à noite
fomos vê-los. É uma equipe espetacular, um poeta (Rubens), Helli (pintor e
filósofo), um escritor (Silvan, marido da Natália Timberg), Valtinho
(gozadíssimo, diretor da novela), Hamilton Fernandes e a própria Natália
Timberg. O restaurante do hotel Romano é uma belezinha e jantamos lá com todos
eles. Um ambiente acolhedor, teto de palha, orquestra tocando algumas músicas
brasileiras, luz de boîte e eu e mamãe num grupo genial, vivendo uma
experiência que nunca pensávamos ou esperávamos viver. Jantamos com eles e bati
um papão com Helli. Uma coisa importantíssima: dancei com o Albertinho Limonta!
Conversei muito com ele, muito boa praça, apenas um tanto triste.
No dia seguinte procuramos a equipe da Globo, doidas
para ver as filmagens da abertura da novela “Carlota, a rainha louca”. Eles
vieram ao México para fazer esta abertura, depois de todo o sucesso da outra
novela, “O direito de nascer”. Só muito mais tarde conseguimos encontrá-los, no
palácio do antigo imperador Maximiliano, atualmente museu histórico.
Encontramos todos já com figurinos “de época”, Hamilton de capitão, Rubens de
Maximiliano e Natália com um vestido lindo, dourado até os pés, como a
imperatriz Carlota. Por não haverem outras mulheres na equipe, nos oferecemos
para ajudar a Natália com o figurino. Veja só, acabamos apertando o espartilho
da Natália Timberg! Ela é muito culta, fala 7 línguas, mas ao mesmo tempo é
simples, afetuosa. Assistimos às filmagens e observamos o quanto de trabalho dá
para se fazer uma única cena. Às vezes ela tem de ser repetida 5 vezes! Vimos
Natália Timberg subindo e descendo uma escadaria enorme para cada filmagem. Tiramos
fotografias junto deles naquele palácio maravilhoso, tudo numa riqueza
impressionante, candelabros e lustres de cristal, muros de pedra e jardins
lindíssimos, ouro e prata espalhados por toda parte.
Poucos anos depois eu iria ter a notícia da morte do
Hamilton Fernandes, o nosso tão querido Albertinho Limonta, num acidente de
avião...
*Fotos de Maria Helena Andrés e da internet
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