Artista plástica, ex-aluna de Guignard. Maria Helena Andrés tem um currículo extenso como artista, escritora e educadora, com mais de 60 anos de produção e 7 livros publicados. Neste blog, colocará seus relatos de viagens, suas reflexões e vivências cotidianas.
domingo, 13 de abril de 2014
SAUDADES DO BRASIL
Coloquei o retratinho de meus filhos na moldura de espelho. Um grupinho lindo, tirado pouco antes de sair. O que estarão fazendo agora?
Estamos exatamente com oito graus abaixo de zero! Para sair tenho de calçar botas, meias de lã, calças compridas e por debaixo ainda, bermudas. Lá no Brasil, tão longe, minha familía veste roupas leves e se queixa do calor. Como tudo é diferente no mundo! A mudança é radical - O clima, a língua, os alimentos, os costumes.
Estou profundamente ligada a meu povo, minha família, meu marido e filhos. Cada dia que passa, sinto mais presente esta realidade. A distância, os cenários diferentes, as solicitações diversas, as amizades passageiras, não conseguem apagar o que realmente nos dá estabilidade na vida. Não consigo compreender como certas pessoas podem viver sem esta estabilidade, sem este amparo espiritual. Espalho desenhos pelo chão, em cima da mala, na cama. As vezes avanço para o ladrilho do banheiro.
Serve também de prancheta, quando se torna necessário uma superfície dura e lisa. E vou deixando brotar o que ficou guardado dentro do meu subconsciente. Todas as impressões de viagem ali estão, talvez com mais sinceridade do que expressão exterior, reescrita no papel, por palavras. A palavra é limitada, descrevendo até certo ponto o que sentimos. A arte nos envolve toda, nos transporta ao mundo desconhecido do inconsciente.
Tenho necessidade de desenhar agora. Uma necessidade maior do que de comer.
Ontem as empregadas do hotel chamaram-me para assistir ao desfile do ‘Inauguration day”por uma janela. Via-se tudo perfeitamente. Desfilaram o exército, a marinha, os foguetes lunares, os tanques de guerra. Depois, símbolos representativos da vida Norte Americana, da antiga colônia aos tempos modernos. Carros coloridos, espalhafatosos, uma infinidade de alegorias. Por fim os índios em massa, sacudindo os cocares e mantas coloridas. Alguns montavam búfalos, (de longe parece um enorme boi felpudo e bem tratado). Passei horas apreciando o desfile. Tive muitas saudades dos meninos. Muito mais do que eu, eles apreciariam este “Inauguration Day”.
*Fotos de arquivo
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Estamos exatamente com oito graus abaixo de zero! Para sair tenho de calçar botas, meias de lã, calças compridas e por debaixo ainda, bermudas. Lá no Brasil, tão longe, minha familía veste roupas leves e se queixa do calor. Como tudo é diferente no mundo! A mudança é radical - O clima, a língua, os alimentos, os costumes.
Estou profundamente ligada a meu povo, minha família, meu marido e filhos. Cada dia que passa, sinto mais presente esta realidade. A distância, os cenários diferentes, as solicitações diversas, as amizades passageiras, não conseguem apagar o que realmente nos dá estabilidade na vida. Não consigo compreender como certas pessoas podem viver sem esta estabilidade, sem este amparo espiritual. Espalho desenhos pelo chão, em cima da mala, na cama. As vezes avanço para o ladrilho do banheiro.
Serve também de prancheta, quando se torna necessário uma superfície dura e lisa. E vou deixando brotar o que ficou guardado dentro do meu subconsciente. Todas as impressões de viagem ali estão, talvez com mais sinceridade do que expressão exterior, reescrita no papel, por palavras. A palavra é limitada, descrevendo até certo ponto o que sentimos. A arte nos envolve toda, nos transporta ao mundo desconhecido do inconsciente.
Tenho necessidade de desenhar agora. Uma necessidade maior do que de comer.
Ontem as empregadas do hotel chamaram-me para assistir ao desfile do ‘Inauguration day”por uma janela. Via-se tudo perfeitamente. Desfilaram o exército, a marinha, os foguetes lunares, os tanques de guerra. Depois, símbolos representativos da vida Norte Americana, da antiga colônia aos tempos modernos. Carros coloridos, espalhafatosos, uma infinidade de alegorias. Por fim os índios em massa, sacudindo os cocares e mantas coloridas. Alguns montavam búfalos, (de longe parece um enorme boi felpudo e bem tratado). Passei horas apreciando o desfile. Tive muitas saudades dos meninos. Muito mais do que eu, eles apreciariam este “Inauguration Day”.
*Fotos de arquivo
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terça-feira, 1 de abril de 2014
EUA 1961 - PRIMEIRAS IMPRESSÕES
Fui incorporada
ao grupo do “International Center” - Cada um se levanta e diz em inglês, em poucas palavras o que veio fazer nos
EUA e o que faz em sua terra. Gente de todas as partes do mundo: Coréia, Filipinas, Japão, Indonésia, Iugoslávia, etc. Na maioria homens, uns 80
homens. Além deles quatro moças Filipinas e eu. Levantei-me sem jeito
para dizer o que pretendia. “I’m an artist. I want to see
museums and art schools in the United States.”
“We are glad to have an artist among us” respondeu o
conferencista. As profissões
são as mais variadas possíveis.
Confraternizam-se povos de raças e costumes diferentes. Alguns pertencem à
cortina de ferro, aos países dominados pelo comunismo. Outros à regiões distantes,
das quais muitas vezes nem ouvimos falar. Troquei poucas palavras com o
representante da Iugoslávia. Queria indagar mais sobre o seu país, mas não
houve tempo necessário para satisfazer minha curiosidade. Admirei-me de encontrar pessoas de
um país comunista em plena capital americana e, ainda mais, a convite do
governo!
A afluência de
estrangeiros esta semana foi tão grande que tiveram que separar as salas para
as conferências. Uma turma de médicos brasileiros participou do nosso programa.
Alguns deles viajaram comigo do Brasil.
Preferi ficar
junto às moças Filipinas que
são uns amores. Aquelas carinhas risonhas, de olhos apertadinhos (diria todas japonesas) são de uma simpatia
fora do comum. Residem no Hotel 2400, perto do International Center e pagam
três dólares cada uma para um
quarto coletivo. Tudo isto fiquei sabendo, mas preferi continuar no meu mesmo.
Pago quatro dólares e
meio, mas fico sozinha, sem companhia e mais à vontade. Espalho minhas coisas do jeito que quero, ligo a
televisão ou escrevo, sem que ninguém venha me perturbar. Às seis e meia vieram
me buscar no hotel. Mr. and Mrs. Raul D’Eça. À propósito, preciso urgente comprar um chapéu. A senhora Raul D’Eça entrou pelo saguão à fora toda encapotada e risonha. Usava um chapéu não me lembro
de que cor, mas, de qualquer forma, um chapéu. Perguntou-me se estava bem
agasalhada. “O frio lá fora
está de bater os queixos!”
Descemos juntas
até o carro aquecido. Dr. D’Eça quase não mudou nada: a mesma simpatia e serenidade dos tempos de
Belo Horizonte. Levaram-me a um hotel em Virgínia, longe da cidade, muito grã-fino. Lembra o
interior de um transatlântico luxuoso. Na piscina gelada, crianças e jovens trajando roupas
apropriadas deslizavam sobre os patins. Alguns mais ágeis chegavam a dançar e
ensaiar passos novos. Das janelas do restaurante envidraçado observa-se o espetáculo de inverno. Para mim aquilo era
realmente um espetáculo maravilhoso. Não tirava os olhos dos patinadores. Dr. Raul estava louco por novidades.
Perguntou-me por todos, Guignard, Mario Silésio, Estevam. Vejo que tem um carinho especial
por B. Horizonte onde morou sete anos.
*Fotos da
internet
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