Fui incorporada
ao grupo do “International Center” - Cada um se levanta e diz em inglês, em poucas palavras o que veio fazer nos
EUA e o que faz em sua terra. Gente de todas as partes do mundo: Coréia, Filipinas, Japão, Indonésia, Iugoslávia, etc. Na maioria homens, uns 80
homens. Além deles quatro moças Filipinas e eu. Levantei-me sem jeito
para dizer o que pretendia. “I’m an artist. I want to see
museums and art schools in the United States.”
“We are glad to have an artist among us” respondeu o
conferencista. As profissões
são as mais variadas possíveis.
Confraternizam-se povos de raças e costumes diferentes. Alguns pertencem à
cortina de ferro, aos países dominados pelo comunismo. Outros à regiões distantes,
das quais muitas vezes nem ouvimos falar. Troquei poucas palavras com o
representante da Iugoslávia. Queria indagar mais sobre o seu país, mas não
houve tempo necessário para satisfazer minha curiosidade. Admirei-me de encontrar pessoas de
um país comunista em plena capital americana e, ainda mais, a convite do
governo!
A afluência de
estrangeiros esta semana foi tão grande que tiveram que separar as salas para
as conferências. Uma turma de médicos brasileiros participou do nosso programa.
Alguns deles viajaram comigo do Brasil.
Preferi ficar
junto às moças Filipinas que
são uns amores. Aquelas carinhas risonhas, de olhos apertadinhos (diria todas japonesas) são de uma simpatia
fora do comum. Residem no Hotel 2400, perto do International Center e pagam
três dólares cada uma para um
quarto coletivo. Tudo isto fiquei sabendo, mas preferi continuar no meu mesmo.
Pago quatro dólares e
meio, mas fico sozinha, sem companhia e mais à vontade. Espalho minhas coisas do jeito que quero, ligo a
televisão ou escrevo, sem que ninguém venha me perturbar. Às seis e meia vieram
me buscar no hotel. Mr. and Mrs. Raul D’Eça. À propósito, preciso urgente comprar um chapéu. A senhora Raul D’Eça entrou pelo saguão à fora toda encapotada e risonha. Usava um chapéu não me lembro
de que cor, mas, de qualquer forma, um chapéu. Perguntou-me se estava bem
agasalhada. “O frio lá fora
está de bater os queixos!”
Descemos juntas
até o carro aquecido. Dr. D’Eça quase não mudou nada: a mesma simpatia e serenidade dos tempos de
Belo Horizonte. Levaram-me a um hotel em Virgínia, longe da cidade, muito grã-fino. Lembra o
interior de um transatlântico luxuoso. Na piscina gelada, crianças e jovens trajando roupas
apropriadas deslizavam sobre os patins. Alguns mais ágeis chegavam a dançar e
ensaiar passos novos. Das janelas do restaurante envidraçado observa-se o espetáculo de inverno. Para mim aquilo era
realmente um espetáculo maravilhoso. Não tirava os olhos dos patinadores. Dr. Raul estava louco por novidades.
Perguntou-me por todos, Guignard, Mario Silésio, Estevam. Vejo que tem um carinho especial
por B. Horizonte onde morou sete anos.
*Fotos da
internet
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