terça-feira, 1 de abril de 2014

EUA 1961 - PRIMEIRAS IMPRESSÕES

Fui incorporada ao grupo do “International Center” - Cada um se levanta e diz em inglês, em poucas palavras o que veio fa­zer nos EUA e o que faz em sua terra. Gente de todas as partes do mundo: Coréia, Filipinas, Japão, Indonésia, Iugoslávia, etc. Na maioria homens, uns 80 homens. Além deles quatro moças Filipinas e eu. Levantei-me sem jeito para dizer o que pretendia. “I’m an artist. I want to see museums and art schools in the United States.”
“We are glad to have an artist among us” respondeu o conferencista. As profissões são as mais variadas possíveis. Confraternizam-se povos de raças e costumes diferentes. Alguns pertencem à cortina de ferro, aos países dominados pelo comunismo. Outros à regiões dis­tantes, das quais muitas vezes nem ouvimos falar. Troquei poucas palavras com o representante da Iugoslávia. Queria indagar mais sobre o seu país, mas não houve tempo necessário para sa­tisfazer minha curiosidade. Admirei-me de encontrar pessoas de um país comunista em plena capital americana e, ainda mais, a convite do governo!
A afluência de estrangeiros esta semana foi tão grande que tiveram que separar as salas para as conferências. Uma turma de médicos brasileiros participou do nosso programa. Alguns deles viajaram co­migo do Brasil.
Preferi ficar junto às moças Filipinas que são uns amores. Aquelas carinhas risonhas, de olhos apertadinhos (diria todas japonesas) são de uma simpatia fora do comum. Residem no Hotel 2400, perto do International Center e pagam três dóla­res cada uma para um quarto coletivo. Tudo isto fiquei sabendo, mas preferi continuar no meu mesmo. Pago quatro dólares e meio, mas fico so­zinha, sem companhia e mais à vontade. Espalho minhas coisas do jeito que quero, ligo a televisão ou escrevo, sem que ninguém venha me perturbar. Às seis e meia vieram me buscar no hotel. Mr. and Mrs. Raul D’Eça. À propósito, preciso urgente comprar um chapéu. A senhora Raul D’Eça entrou pelo saguão à fora toda encapotada e risonha. Usava um chapéu não me lembro de que cor, mas, de qualquer forma, um chapéu. Perguntou-me se estava bem agasalhada. “O frio fora está de bater os queixos!”
Descemos juntas até o carro aquecido. Dr. D’Eça quase não mudou nada: a mesma simpatia e serenidade dos tempos de Belo Horizonte. Levaram-me a um hotel em Virgínia, longe da cidade, muito grã-fino. Lembra o interior de um transatlântico luxuoso. Na piscina gelada, crianças e jovens trajando roupas apropriadas deslizavam sobre os patins. Alguns mais ágeis chegavam a dançar e ensaiar passos novos. Das janelas do restaurante  envidraçado observa-se o espetáculo de inverno. Para mim aquilo era realmente um espetáculo maravilho­so. Não tirava os olhos dos patinadores. Dr. Raul estava louco por novidades. Perguntou-me por todos, Guignard, Mario Silésio, Estevam. Vejo que tem um carinho especial por B. Horizonte onde morou sete anos.

*Fotos da internet

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