Veio
procurar-me no hotel o Secretario da embaixada brasileira em Washington o Sr.
Luiz Almeida Cunha. Ficou entusiasmado com os meus desenhos, acabei dando-lhe
um de presente. Já conhecia meus trabalhos do Salão de Arte Moderna do Rio de
Janeiro. Levou-me à Phillips Galeria, uma das melhores de Washington. Já ouvira referências sobre ela.
Um casal de americanos adquiriu na Europa quadros celébres de pintores
modernos e, depois de possuir uma coleção caprichada, abriu as portas ao público. Ali estão reunidos os
impressionistas franceses, desde Daumier até Renoir, Degas, Bonnard. O Renoir que têm é monumental, com aproximadamente 2 metros de comprimento.
"Le dejeuner des Cannotiers" é um quadro alegre, festivo, cheio de
cores. Impressionou-me mais do que a "Menina com o
regador" da National Gallery. Desfilei pelas salas atapetadas, descobrindo
os quadros já conhecidos por fotografia. Alí estava Rouault com "Chríst
et le docteur", uma verdadeira maravilha. A sala de Rouault é sombria
como se fosse uma boite, moveis escuros, parede forrada de jacarandá preto. Os
quadros com focos de luz surgem como vitrais na penumbra da sala. São todos
iluminados e com isto ganham um aspecto diferente. Tornam-se mais bonitos e valorizados. A
galeria é pequena, mas agradável, tem sofás confortáveis em frente aos
quadros. A sala de Klee e uma verdadeira jóia. Mr. Phillips soube escolher os
quadros com grande unidade. Klee ali é representado em varias fases, mas com o
mesmo colorido, o que dá um conjunto agradável, bem arranjado. Passei alí muito tempo. Uma das melhores
salas é a de Braque. Os quadros também se harmonizam no conjunto em cinzas e
ocres. Sala repousante, uma das melhores representações do cubismo. Ao chegar
ao hotel, já quase às 6 horas da tarde, encontrei
2 cartões do American Council marcando appointments. Um deles é justamente
para visitar a Galeria Phillips. Voltarei lá amanhã.
Voltei à Galeria. Acompanhou-me desta vez um americano indicado pelo American Council. Correu tudo comigo
explicando em inglês. Quadro por quadro, contando a historia de cada um. O americano deve ser graduado e antigo funcionário da Galeria, pois conhece
tudo. Lá pelas tantas apareceu em cena um senhor de idade, o próprio Mr.
Phillips. Apresentou-me a ele. Aproveitei para elogiar-lhe o bom gosto de escolher o melhor de cada
grande artista. E, também o bom gosto do arranjo, admirável cuidado em dispor os
quadros procurando sempre, valorizá-los.(Diário de viagem aos EUA, 1961)
*Fotos da internet
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VIDA DE ARTISTA”, CUJO LINK ESTÁ NESTA PÁGINA.
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