sexta-feira, 2 de maio de 2014

COLEÇÃO PHILLIPS, WASHINGTON

Veio procurar-me no hotel o Secretario da embaixa­da brasileira em Washington o Sr. Luiz Almeida Cunha. Ficou entusias­mado com os meus desenhos, acabei dando-lhe um de presente. Já conhe­cia meus trabalhos do Salão de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Levou-me à Phillips Galeria, uma das melhores de Washington. Já ouvira refe­rências sobre ela. Um casal de ame­ricanos adquiriu na Europa quadros celébres de pintores modernos e, depois de possuir uma coleção caprichada, abriu as portas ao públi­co. Ali estão reunidos os impressionistas franceses, desde Daumier até Renoir, Degas, Bonnard. O Renoir que têm é monumental, com aproximadamente 2 metros de comprimento. "Le dejeuner des Cannotiers" é um quadro alegre, festivo, cheio de cores. Impressionou-me mais do que a "Menina com o regador" da National Gallery. Desfilei pelas salas atapetadas, descobrindo os quadros já conhecidos por fotogra­fia. Alí estava Rouault com "Chríst et le docteur", uma verdadei­ra maravilha. A sala de Rouault é sombria como se fosse uma boite, moveis escuros, parede forrada de jacarandá preto. Os quadros com focos de luz surgem como vitrais na penumbra da sala. São todos iluminados e com isto ganham um aspecto diferente. Tornam-se mais bonitos e valorizados.   A galeria é peque­na, mas agradável, tem sofás confortáveis em frente aos quadros. A sala de Klee e uma verdadeira jóia. Mr. Phillips soube escolher os quadros com grande unidade. Klee ali é representado em varias fases, mas com o mesmo colorido, o que dá um conjunto agradável, bem arranjado.   Passei alí muito tempo. Uma das melhores salas é a de Braque. Os quadros também se harmonizam no conjunto em cin­zas e ocres. Sala repousante, uma das melhores representações do cubismo. Ao chegar ao hotel, já quase às 6 horas da tarde, encon­trei 2 cartões do American Council marcando appointments. Um deles é justamente para visitar a Galeria Phillips. Voltarei lá amanhã.
Voltei à Galeria. Acompanhou-me desta vez um americano indicado pelo American Council. Correu tudo comigo explicando em inglês. Quadro por quadro, contando a historia de cada um. O americano deve ser graduado e antigo funcionário da Galeria, pois conhece tudo. Lá pelas tantas apareceu em cena um senhor de idade, o próprio Mr. Phillips. Apre­sentou-me a ele. Aproveitei para elogiar-lhe o bom gosto de escolher o melhor de cada grande artista. E, também o bom gosto do arranjo, admirável cuidado em dispor os quadros procurando sempre, valorizá-los.(Diário de viagem aos EUA, 1961)

*Fotos da internet


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