Em 1967 fui convidada pelo Instituto Cultural
Brasil- Estados Unidos (ICBEU) de Washington para uma exposição de meus trabalhos que,
na ocasião correspondiam à minha fase de “Guerra”. Convidei a minha amiga Mrs
Phillips para exposição. Como ela aceitou o convite para comparecer à abertura,
a minha presença nos EUA seria importante. Com esta determinação parti para
Washington, passando pelo Peru e México. Foi naquela viagem que encontramos a
equipe da TV Globo que iria filmar no México cenas da novela “A rainha louca”.
Foi uma experiência muito importante conhecer de perto a gravação de uma
novela.
A exposição em Washington reuniu os trabalhos de
duas vertentes opostas, “Guerra” e “Paz”. A guerra, motivada pela violência que
se instalava no Brasil sob a ditadura militar e a esperança de paz ilustrando
textos de poetas brasileiros como Cecília Meireles, Emílio Moura e Henriqueta
Lisboa, bem como o norte americano Walt Whitman. Na minha concepção de artista,
considero a poesia, a música ou qualquer outra forma de arte como o canal que
pode transmitir a paz numa época de violência. A arte continua sendo a grande
responsável por nos trazer a paz e a esperança de um mundo melhor. Mrs.
Phillips compareceu à exposição e adquiriu um quadro para sua coleção. Chegando
ao Brasil, fui entrevistada por Jesus Rocha, jornalista do Estado de Minas.
Abaixo seguem trechos daquela entrevista:
“O êxito da exposição da pintora mineira Maria
Helena Andrés no Instituto Cultural Brasil-Estados Unidos (ICBEU) em
Washington, é uma boa prova de que brasileiro pode fazer sucesso nos Estados
Unidos. A mostra foi inaugurada no início de março e continua aberta (e muito
visitada) até o fim do mês, o que é motivo de emoção para a artista, e de satisfação
para seus patrícios.
Não é a primeira vez que Maria Helena Andrés se
apresenta como artista, aos americanos: em 61 ela realizou uma individual na
União Panamericana e, algum tempo depois, na Galeria Sudamérica (hoje Zegree)
em Nova York. Mas desta vez, o êxito foi maior: entre os tantos trabalhos já
vendidos, encontram-se “Tempestade” (Storm) que foi adquirido pela Phillips
Collection e “Destruição”, vendido à Embaixada Brasileira nos EUA. Um detalhe
importante: a Phillips Collection não aceita doações (este, um de seus
critérios de seleção) e só mantém em sua galeria nomes de destaque
internacional, sobretudo europeus.
A exposição de Maria Helena Andrés, no ICBEU está
dividida em duas salas que mostram o duplo aspecto da sua arte: o violento e o
lírico, ambos dentro da fase abstrata da artista. Quadros dramáticos como
“Tempestade”, “Máquina de Guerra”, “Partida”, “Fuga”, “Destruição”. Quanto aos
líricos, Maria Helena os chamou através de versos de poetas brasileiros, como
Cecília Meireles, Emílio Moura, Henriqueta Lisboa e outros, além do americano
Walt Whitman. São títulos-legenda: a artista com isso, não quis explicar o
quadro mas sugerir o que quis dizer (e naturalmente disse) nos trabalhos. Aliás
os abstratos de Maria Helena não contam histórias (no que tem de revelação este
termo), mas sugerem-nas, deixando a cada um a liberdade de sentir a mensagem
expressa através das cores, da forma e do espaço.
Lírico e dramático ao mesmo tempo? Exato. Para ela
não existe a menor incompatibilidade, na dualidade de tendências, que possa
comprometer a autenticidade do artista. Ao contrário, é um fato natural. Haja
visto os Cristos dramáticos e os balãozinhos líricos de Ouro preto do grande
Guignard, e tantos outros. Acontece que a marca pessoal do artista continua, em
termos de técnica, tanto no lírico quanto no dramático – e isso é o que
importa. No caso de Maria Helena Andrés, por exemplo: vê-se claramente o mesmo
toque técnico – transparências, divisão do espaço, cores – tanto nos seus
trabalhos violentos, como nos líricos. As tendências – às vezes extremadas –
dizem respeito mais, por conseguinte, ao tema – como explica a artista.” (Jesus
Rocha, Estado de Minas, 1967)
Fotos de arquivo
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