domingo, 1 de junho de 2014

EXPOSIÇÃO NO ICBEU EM WASHINGTON, 1967

Em 1967 fui convidada pelo Instituto Cultural Brasil- Estados Unidos (ICBEU) de Washington para uma exposição de meus trabalhos que, na ocasião correspondiam à minha fase de “Guerra”. Convidei a minha amiga Mrs Phillips para exposição. Como ela aceitou o convite para comparecer à abertura, a minha presença nos EUA seria importante. Com esta determinação parti para Washington, passando pelo Peru e México. Foi naquela viagem que encontramos a equipe da TV Globo que iria filmar no México cenas da novela “A rainha louca”. Foi uma experiência muito importante conhecer de perto a gravação de uma novela.

A exposição em Washington reuniu os trabalhos de duas vertentes opostas, “Guerra” e “Paz”. A guerra, motivada pela violência que se instalava no Brasil sob a ditadura militar e a esperança de paz ilustrando textos de poetas brasileiros como Cecília Meireles, Emílio Moura e Henriqueta Lisboa, bem como o norte americano Walt Whitman. Na minha concepção de artista, considero a poesia, a música ou qualquer outra forma de arte como o canal que pode transmitir a paz numa época de violência. A arte continua sendo a grande responsável por nos trazer a paz e a esperança de um mundo melhor. Mrs. Phillips compareceu à exposição e adquiriu um quadro para sua coleção. Chegando ao Brasil, fui entrevistada por Jesus Rocha, jornalista do Estado de Minas. Abaixo seguem trechos daquela entrevista:

“O êxito da exposição da pintora mineira Maria Helena Andrés no Instituto Cultural Brasil-Estados Unidos (ICBEU) em Washington, é uma boa prova de que brasileiro pode fazer sucesso nos Estados Unidos. A mostra foi inaugurada no início de março e continua aberta (e muito visitada) até o fim do mês, o que é motivo de emoção para a artista, e de satisfação para seus patrícios.
Não é a primeira vez que Maria Helena Andrés se apresenta como artista, aos americanos: em 61 ela realizou uma individual na União Panamericana e, algum tempo depois, na Galeria Sudamérica (hoje Zegree) em Nova York. Mas desta vez, o êxito foi maior: entre os tantos trabalhos já vendidos, encontram-se “Tempestade” (Storm) que foi adquirido pela Phillips Collection e “Destruição”, vendido à Embaixada Brasileira nos EUA. Um detalhe importante: a Phillips Collection não aceita doações (este, um de seus critérios de seleção) e só mantém em sua galeria nomes de destaque internacional, sobretudo europeus.
A exposição de Maria Helena Andrés, no ICBEU está dividida em duas salas que mostram o duplo aspecto da sua arte: o violento e o lírico, ambos dentro da fase abstrata da artista. Quadros dramáticos como “Tempestade”, “Máquina de Guerra”, “Partida”, “Fuga”, “Destruição”. Quanto aos líricos, Maria Helena os chamou através de versos de poetas brasileiros, como Cecília Meireles, Emílio Moura, Henriqueta Lisboa e outros, além do americano Walt Whitman. São títulos-legenda: a artista com isso, não quis explicar o quadro mas sugerir o que quis dizer (e naturalmente disse) nos trabalhos. Aliás os abstratos de Maria Helena não contam histórias (no que tem de revelação este termo), mas sugerem-nas, deixando a cada um a liberdade de sentir a mensagem expressa através das cores, da forma e do espaço.
Lírico e dramático ao mesmo tempo? Exato. Para ela não existe a menor incompatibilidade, na dualidade de tendências, que possa comprometer a autenticidade do artista. Ao contrário, é um fato natural. Haja visto os Cristos dramáticos e os balãozinhos líricos de Ouro preto do grande Guignard, e tantos outros. Acontece que a marca pessoal do artista continua, em termos de técnica, tanto no lírico quanto no dramático – e isso é o que importa. No caso de Maria Helena Andrés, por exemplo: vê-se claramente o mesmo toque técnico – transparências, divisão do espaço, cores – tanto nos seus trabalhos violentos, como nos líricos. As tendências – às vezes extremadas – dizem respeito mais, por conseguinte, ao tema – como explica a artista.” (Jesus Rocha, Estado de Minas, 1967)

Fotos de arquivo


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