Meu primeiro encontro com o oriente e com a visão
budista da vida e da morte ocorreu em Honolulu, quando ali estive em 1970, de
passagem para o Japão.
À noite, num bairro distante de Honolulu,
celebrava-se uma cerimônia budista. O templo era semelhante aos nossos
cristãos, com um grande altar central rebuscado de ornamentações de ouro.
Embaixo, sob o incenso e defumadores, os devotos acendiam velas e curvavam-se
respeitosamente diante da imagem dourada de um santo com os olhos semicerrados.
Era Gautama, o Buda, nascido na Índia há dois mil e quinhentos anos atrás, e
que, através de jejuns e meditações, conseguiu atingir o estado mais perfeito
que um ser humano pode alcançar. Todo o Extremo-Oriente procura seguir os seus
passos, e ali, no meio da Polinésia, sua voz continuava a ser ouvida. A
cerimônia dos mortos reunia japoneses de todas as ilhas era celebrada, em forma
de rodízio, em diferentes templos. Tivemos a oportunidade de nos misturar aos
budistas, como espectadores silenciosos das cenas, que se desenrolavam.
A cerimônia atravessava a noite, ao ar livre, no
pátio em frente à igreja, e um sacerdote ao centro, no interior de um púlpito,
comandava as danças e os cantos. Vestidos a caráter, quimonos apertados na
cintura em faixas e laços, sandálias por cima de meias brancas, os japoneses
dançavam.
Levavam os filhos pequenos que também batiam palmas
e acompanhavam o lento caminhar do círculo. Cantavam, em ritmo cadenciado,
lembrando os mortos e alegrando-se porque eles continuavam vivos na memória dos
que ficaram.
No culto aos mortos não existe tristeza, e sim, um
sentimento de paz e de quietude interior. Para nós ocidentais chegava a ser
monótono o ritmo sem transbordamentos do povo que cantava. Sentada nas escadas
de pedra do templo budista, assisti a uma cerimônia estranha, ponto de partida
para novas experiências a serem vividas mais adiante no continente asiático.
Mais tarde, nas minhas caminhadas pelo Nepal e nos estudos feitos com os lamas
tibetanos, pude completar essa primeira impressão de viagem: “Morrer é
natural”, dizia o Lama, “o importante é morrer com alegria.”
Fotos da internet
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