quarta-feira, 12 de novembro de 2014

MEMÓRIAS DE BENARES

Hoje amanheceu chovendo – Benares com chuva significa barro, a poesia das ruas saindo nas enxurradas, carregando o lixo da beira das estradas. O movimento de gente diminui, as pessoas se recolhem. Também nós dedicamos mais tempo para escrever cartas e as páginas do diário vão descrevendo as impressões.
Hoje conseguimos descobrir o professor de sânscrito, da Universidade de Benares. Desde que aqui chegamos colocamos em mente esse objetivo. Agora ele está em nossa frente. Chegou envolvido num manto de lã. Foi amável e receptivo.
O professor é graduado, renomado, cheio de títulos. A casa é pobre, uma indiana veio nos receber, sem falar inglês. Passamos por roupas no varal e agora aqui estamos num espaço que é sala e quarto ao mesmo tempo. O professor de uns cinquenta anos escuta atento a uma jovem brasileira cantando de cor os mantras em sânscrito. Está admirado de alguém dedicar tanto tempo à sua cultura.
A cultura milenar da Índia pertence à humanidade, é necessário que se faça urgentemente a integração.
O professor foi-nos recomendado por um jovem médico de Delhi. As coisas se relacionam e as descobertas que fazemos na vida vêm todas do aparente acaso. Agora descubro que estão programadas. Foi preciso que eu chegasse exausta em Delhi, com dor na coluna; foi necessário me submeter à massagem Aurovédica para curar a dor nas costas. De repente, me vejo em Delhi, três mulheres jogando um óleo quente no meu corpo, como se eu fosse um sorvete com calda de chocolate. Uma hora todos os dias para curar a dor na coluna. Enquanto isto, minha filha lá fora conversava com o jovem médico. Foi aquele médico que nos apresentou a este professor de Benares.
Volto novamente para o presente. O professor vai viajar amanhã, mas reservou a tarde de hoje para nos ajudar. Meu pensamento voou para longe, lembrando a integração Oriente-Ocidente, mas um ratinho me puxou para o agora. Passou com aquela rapidez própria dos ratos, por debaixo dos meus pés. Meu corpo arrepiou todo, dei gritos irreprimíveis enquanto o professor dava risadas. “Amigo de Ganesh”, minha filha disse. Olhei para o quadro de Ganesh na parede. De fato, na Índia, ninguém gosta de fazer maldade com os animais. O ratinho parecia familiarizado com o quarto, subiu até na cama do professor! (trecho do diário de viagem à Índia, 1996)

*Fotos da internet

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