Em Bangalore, na minha segunda viagem à Índia, em
1978, saí pelas ruas cedo, procurando investigar a redondeza. Estamos perto da
zona comercial da cidade, ou seja, o mercado popular. Nas ruas, buzinando, quase
atropelando a gente,os mesmos carrinhos de Delhi, bicicletas,ônibus de 2
andares. Andei a pé parando de vez em quando para observar. Daqui se enxerga a
torre de uma igreja católica, tipo gótico. No percurso até lá existem ao longo
da rua dois pequenos templos em honra à mãe Kali, a destruidora. Kali traz o
sofrimento e às vezes a morte, para destruir no homem sua natureza inferior.
Parei no primeiro templo para observar por fora, como visitante. Há grande
semelhança com o nosso barroco e, principalmente com as figuras do Aleijadinho. As mesmas
formas agressivas, pequenos deuses de olhos arregalados, cercados de flores, frutas
e bichos, tudo esculpido e pintado como nossas conhecidas esculturas de Ouro
Preto, Congonhas, São João Del Rey.
Homens descalços na porta nos convidam a entrar no
templo, onde um imagem negra é reverenciada. Lembra Nossa Senhora Aparecida, cercada
de velas e flores. Gentilmente, com um sorriso, os homens descalços oferecem cinza e uma tinta vermelha para serem
colocadas na testa dos visitantes. Há um sentido místico e mágico em tudo isto,
e para quem vem de fora, chega a lembrar a influência da cultura negra no mundo
ocidental. Caminhei até a igreja católica, sem nenhuma diferença das nossas,
uma igreja de Lourdes mais pobre. Hoje é véspera do Natal, há gente enfeitando
de luzes toda a nave da igreja e filas enormes nos confessionários. De um lado
os homens, do outro as mulheres, como nas igrejas do interior de Minas. As
indianas vestidas de sáris coloridos enfileiram-se para contar os pecados.
Homens e mulheres separados. Notei a mesma discriminação naquele templo de
Birla Mandir. De um lado, sentadas na
grama, as mulheres com seus filhos pequenos.
Do outro, os homens vestidos de preto, comiam frutas, discutiam,
conversavam. Disseram-me depois que costumam fazer suas comemorações nos
jardins dos templos, entre elefantes fantásticos e deuses variados.
Na igreja católica os mesmos santos ocidentais, as
mesmas imagens coloridas do comércio de santos, terços, bentinhos, velas, santinhos.
A necessidade de imagens, velas, símbolos é a mesma em diferentes povos e
religiões. Nunca vi tantas igrejas variadas no mesmo quarteirão. Em pleno
centro comercial, plantada entre lojas de sedas e sáris, existe uma mesquita
muçulmana. Perguntei se podia entrar e fiquei olhando de longe. Os muçulmanos
lavam os pés antes de entrarem no templo. Aliás lavam pés, rosto, mãos.
Enxugam-se e vão descalços até a mesquita. Debruçam-se diante das pilastras
vazias uma série de vezes. Não existem santos nas paredes.
Cada ser humano, cada raça tem seu modo particular
de reverenciar Deus. Mas Ele, que é onipotente e onisciente, que está dentro e
fora dos templos, que está em cada um de nós e em tudo o que existe, deve olhar
com amor e paciência estas formas tão diferentes de reverenciá-lo. No fim todos
os caminhos buscam a mesma coisa, e, até a ausência de caminho é um caminho.
*Fotos da internet
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