Fiquei muito sensibilizada com os terremotos no
Nepal, pois ali estive algumas vezes, nas minhas viagens ao oriente.
Guardo do Nepal lembranças muito importantes, que
influenciaram a minha vida. Ali estão algumas comunidades tibetanas que fugiram de seu próprio país, após a invasão do
Tibete pela China.
Transcrevo abaixo trechos de meu diário no Nepal em
1979:
“ O Nepal sempre foi para mim um lugar de repouso e
reflexão. Aprendi muito neste país, cada dia uma nova experiência. Os ensinamentos
do lama tibetano Trangu Rimpoche me conduziram à concentração e à meditação. A
técnica é estar sempre no presente. Viajei de Pokara para Katmandu fazendo comigo
mesma um treinamento que ele me ensinou. Vim de mini bus, suportando um calor
terrível, criança chorando o tempo todo. Subimos morros, vendo paisagens,
fazendas, terra cortada em forma de escadaria, gente cultivando. O calor é
desumano. Resolvi não me por contra, mas
a favor do momento. Ficar contra aumenta o mal estar. Tudo é novo, a família em
frente, o bebê chorando e a paisagem mudando, mudando. Não existe um só momento
que não seja perfeito, nossa mente é que cria a imperfeição. Desejamos que o
momento seja diferente do que é, mais alegre, mais calmo, mais fresco... Mas o
que existe é a realidade do momento presente. Olhando com atenção, tudo tem
graça. Lá fora as coisas se movem, nada é parado.
Não existe um minuto igual ao outro. A riqueza do
agora é que ele é sempre novo. Passei a viagem treinando: presente – passado;
presente – passado.
Viajar é bom para sentir a impermanência das coisas. Li um livro do
Rajneesh sobre a impermanência – ele deve ter assimilado o Budismo,
Krishnamurti, Taoísmo. Somos realmente passageiros. Agora eu sou passageira de
um ônibus, amanhã de um avião. Agora, meu momento é a despedida do hotel. Meus conhecidos se
foram, outras pessoas chegaram, onde andarão neste momento os amigos de ontem?
Foram-se. Ocuparam estes quartos, dormiram debaixo do mesmo teto
Estou em Katmandu, no Shakti Hotel. Desenhei aqui
todo o livro do Pepedro, fiz curso de meditação com os lamas tibetanos. À
noite, sozinha, olhei a imagem dourada do Buda e me concentrei na luz que sai
da sua cabeça. Buda falou sobre impermanência, desapego.
Aqui no hotel eu fico pensando que a vida é também
ligeira, impermanente como os hóspedes de um hotel. Se nos apegarmos a eles,
estamos perdidos. Não adianta, cada um tem um destino. Em certo sentido este
hotel Shakti está sendo meu guru. Parece uma fazendinha quieta, sossegada, o
dono lá em baixo é gentil, os meninos são educados.
As coisas são móveis, transformam-se, mudam como a
vida. Desapego, impermanência, vida simples, despojamento do supérfluo. A
mocinha canadense que encontrei no Guest House ficou minha amiga. Viaja sozinha
há 4 anos, já foi hippie, agora segue os lamas tibetanos. Vai para as montanhas
passar 2 meses, levando uma sacola com todos os pertences... Você não tem
bagagem? Não, tudo o que eu tenho está aqui...
Largou mãe e pai no Canadá, vive aqui na maior
pobreza. Os jovens estão cada vez mais despojados. Aquele alemão de cabelos
cacheados passa o dia lendo os tibetanos. Os dois jovens canadenses vão para o
Kashimir estudar Budismo. Usam um cordão vermelho no pescoço como proteção.”(trecho
do diário de viagem, 1979)
Agora, 36 anos depois, lendo as notícias que nos
chegam pela mídia, relembro a beleza e o aconchego de Katmandu, cidade
escolhida pelos jovens ocidentais, vindos de todas as partes do mundo, para
encontrar momentos de paz.
*Fotos da internet
VISITE TAMBÉM MEU OUTRO BLOG “MINHA VIDA DE
ARTISTA”, CUJO LINK ESTÁ NESTA PÁGINA.
Nenhum comentário:
Postar um comentário