Artista plástica, ex-aluna de Guignard. Maria Helena Andrés tem um currículo extenso como artista, escritora e educadora, com mais de 60 anos de produção e 7 livros publicados. Neste blog, colocará seus relatos de viagens, suas reflexões e vivências cotidianas.
segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018
VISITA A UM ASHRAM DE GANESHPURI
Conheci Siddha Yoga em 1982, exatamente na passagem
do ano. Quando parti do Brasil com destino à Índia não sabia ainda ao certo
onde passar o natal. Meu bilhete estava em aberto. O avião parou em Roma, olhei
a cidade através das vidraças, senti-me só e longe da família, e isso me deu
uma certa tristeza. Mas, o mundo é uma só família, e aos poucos , apareceram
pessoas cujas vibrações entravam em harmonia com minha.
Vinham da França com a programação de passar o Natal
e Ano Novo numa comunidade perto de Bombaim. Convidaram-me a integrar o grupo e
segui com eles até a aldeia de Ganeshpuri onde está localizado o ashram de
Siddha Yoga. Bandeiras do mundo inteiro acenavam as boas vindas ao grupo de
franceses e eu também me senti em casa diante de uma recepção tão agradável.
Levaram-me até o terceiro andar , no dormitório das
mulheres. Ali se reuniam grupos vindos da Europa, América, Austrália, uma liga
das nações buscando paz sob o mesmo teto.
Os mantras cantados ecoavam pelos jardins e
corredores. As celebrações de Natal estenderam-se por vários dias seguidos,
homenageando, de forma ecumênica, a descida de Cristo ao mundo.
Naquela época, eu desconhecia por completo a
existência da linhagem dos siddhas e a sua missão de despertar nas pessoas a
energia Kundalini, através do Shaktipat.
O toque de um mestre siddha acelera o processo do
reconhecimento do Ser, ou o Cristo Interno de cada um de nós, e foi das mãos da
jovem Gurumayi que eu pude receber essa iniciação.
Na obscuridade do imenso salão de meditação alguma
coisa muito especial estava acontecendo . “Om Namah Shivaya” era repetido
continuamente. Esse mantra, na antiga tradição da Índia, significa: “Eu
reverencio o meu Ser Interno”. Durante esse primeiro curso intensivo,
dedicamo-nos ao estudo do Shivaísmo do Kashmir, adotado pelos siddhas como
filosofia não dualista.
Segundo a tradição, os sutras do Shivaísmo foram
gravados pelo próprio Deus Shiva num rochedo em Kashmir, no século IX.
Vasugupta, um grande mestre siddha recebeu, em sonhos, a missão de espalhar os
ensinamentos ali gravados para as pessoas que estivessem em condições de
aprender.
O objetivo principal do Siddha Yoga é fazer com que
o discípulo experimente realmente a sua Origem Divina. Todo trabalho do ashram
é realizado pelos discípulos como forma de aprendizado e crescimento. Assim, as
turmas se dividem entre a cozinha, o jardim, a secretaria, os estudos e
trabalhos de arte.
Os cânticos começavam de madrugada com o Guru Gita,
ou louvor ao Princípio de todos os
mestres.
Uma multidão de devotos acompanhavam os textos
sagrados em sânscrito. Aos poucos as ansiedades desapareciam, a mente se
aquietava e o coração podia desfrutar da alegria , que é a essência dos
mantras. “O coração é o centro de todos os lugares sagrados” , dizia Sri
Nityananda, um dos grandes mestres de Siddha Yoga.
Os benefícios desses cânticos de louvor não se limitavam
ao interior do ashram, quase completamente invadido pelos ocidentais, mas
estendiam-se também para a pequena aldeia de Ganeshpuri, onde uma população
pobre, proveniente do campo, vinha reverenciar a estátua de Nityananda;
rodeavam o altar, trazendo flores e recebendo bênçãos. Os lugares sagrados da
Índia têm sua própria energia.
Swami Muktananda dizia: “Vocês podem receber
Shaktipat das árvores neste ashram, porque todas elas foram abençoadas e
impregnadas com a Divina Graça”. (Trecho do meu livro “Encontro com mestres no
Oriente”, editora Luz Azul, 1993)
*Fotos da internet
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sábado, 10 de fevereiro de 2018
ÍNDIA, VISÃO PANORÂMICA
Os campos estendem-se em verdes macios. Ao longo da
estrada, vão desfilando bicicletas, camelos, caminhões enfeitados de desenhos e
cores. “Please horn”, (por favor, buzine) está escrito por detrás dos
caminhões. Os indianos apreciam a buzina e, nós ocidentais seguimos viagem
debaixo de sons e cores. Paramos para ver um campo de flores amarelas,
camponesas indianas, véus transparentes, lembram quadros de Renoir e de Monet.
As cores dos mestres impressionistas trouxeram para os museus um pouco do
colorido das manhãs de primavera.
Na Índia, a simplicidade da vida possibilita
apreciar a cada instante um novo quadro.
O transporte rural é feito de forma primitiva. O
camelo segue vagaroso, carregando sacos e os burrinhos enfileirados transportam
cimento. Tudo respira a harmonia natural daqueles que estão ligados com a
natureza.
Debaixo de tendas de piaçava, uma família de
artesãos fabrica o giz para as escolas. O pó branco é misturado com água nas
bacias de argila, depois é manufaturado de forma primitiva. O processo de
empacotar é simples, sem requintes. Paramos o carro para conversar com os
artesãos e pudemos admirar a textura do giz de diversas cores, colocado a secar
dentro de esteiras.
A Índia é um exemplo de arte estendida ao cotidiano.
Há graça e leveza nas mulheres que lavam as varandas e preparam as casas para a
festa de Holy. Nesse dia, fecham-se as lojas e em todas as vilas e cidades o
povo se pinta de pós coloridos e joga tinta em cima dos carros e das pessoas na
rua. Os rapazes cantam celebrando o festival e as moças preparam as casas para
as comemorações. Nos becos estreitos da vila, as casinhas coloridas parecem
cenários de teatro. Ali pudemos sentir a espontaneidade da arte nas ruas e, os
personagens também somos nós, vindos do Ocidente, com máquinas de retrato a
tiracolo. As crianças nos rodeiam curiosas, insistentes e o povo na calçada,
vem admirar os estrangeiros.
A festa de Holy se assemelha ao antigo carnaval
brasileiro, quando as pessoas preparavam águas coloridas dentro de limões. Esta
tradição era típica do final do século 19 e foi substituída por confetes,
serpentinas e lança perfumes.
*Fotos da internet
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