sábado, 28 de abril de 2018


O OUTRO LADO DE BRASÍLIA

O OUTRO LADO DE BRASÍLIA


Imagine
Você poder apanhar
Uma manga, ou
Uma goiaba, jaca, abacate, laranja,
Todas pertencendo
A todos. Você apanha
E vai descascando e
Comendo sem pagar nada!
Imagine um condomínio
Onde as horas comunitárias
São para todos, para qualquer
Um chegar, fofar a terra
Apanhar um tempero
Tudo de graça.
Imagine
Uma quadra
Onde o vendedor de jornais
Organiza um chorinho
Reunindo pessoas idosas, adolescentes
E crianças. Fazem roda e
Tocam todos os sábados
Imagine
Um lugar
Banhado
Pelo sol dos
Trópicos.
Ruas planas
Sem altos e baixos
Gente fazendo
Caminhada
Indo e vindo
 E cumprimentando
Quem chega
“Bom dia” ou “boa tarde”
Soa bem aos ouvidos.
Passam idosos de bengala,
Cadeirantes, crianças correndo,
Criancinhas no colo.
Parecem felizes...
“Sou de São Bento do Una, Pernambuco”
nos diz o dono da banca, Carlos Valença.
“vim de lá para Brasília, resolvi
Imaginar este evento dos sábados.”
Pois este lugar prazeroso,
Cheio de luz, é Brasília, capital
 Do Brasil.
“Trouxemos a Roda de Choro
Do Parque da Cidade para a banca Copacabanca.”
Brasília não é somente política,
Políticos, decisões judiciais, lugar de conflitos...
Brasília está banhada de luz,
Foi abençoada por dom Bosco, criada por um presidente vindo de Minas Gerais, com coragem e idealismo.
Juscelino Kubitscheck eraalegre, dançava, gostava de arte, incentivava os artistas.
Sentada num banquinho na barraca de jornal, eu fui me lembrando da história de Brasília, muito ligada ao construtivismo que se propagou pelo Brasil na época.
Juscelino quando criou Brasília realizou um sonho, acho que realmente ele foi o melhor presidente que tivemos.
Hoje, estamos aqui sentados, ouvindo música, jovens, idosos, crianças, até recém-nascidos estão participando. Chegou um rapaz com uma gaita e entrou na música. Outros, como eu, sentamos em banquinhos e tomamos agua de coco. Este é o outro lado de Brasília que pudemos apreciar numa manhã de sol. Hoje Brasília completa 58 anos. Parabéns!

*Fotos de Maurício Andrés


VISITE TAMBÉM MEU OUTRO BLOG “MINHA VIDA DE ARTISTA”, CUJO LINK ESTÁ NESTA PÁGINA.








DANDO NOME ÀS VACAS


Gostaria de apresentar o texto abaixo sobre a vida rural, de autoria de  Euler Andrés..

No princípio era o berro. Muuuuuuuuu, mugiu Saudade ao ser tocada do curral onde passara os mais gloriosos anos de sua vida. O período era o comecinho do século XX. O lugar era o interior de Minas Gerais. E o sujeito era uma família que estava de mudança de uma fazenda para outra, a algumas léguas dali. Todo o patrimônio estava sendo levado. No caso, três vacas: Saudade, Lembrança e Souvenir. Esta última, ainda um testemunho de uma época em que a grande referência cultural do mundo era a França, e não os Estados Unidos.
A menina mais nova, numa epifania causada talvez pela saudade do antigo lar, percebeu: “mas o nome das três vacas significa a mesma coisa”.
“É que é importante lembrar, minha filha.”

Esta história aconteceu com a avó da minha esposa muito tempo atrás. Hoje, quando a principal regra de alimentação é “não coma nada que sua avó não reconhecesse como comida”, talvez aquelas vacas tenham algo a nos ensinar.

Porque se a avó da minha esposa chegou a conhecer o leite de saquinho e depois o longa vida, provavelmente ela nunca colocou os olhos em uma grande fazenda produtora de leite. Vacas espremidas em cochos, comendo ração transgênica, sem espaço para vaquear por aí. São ruminantes, ora. Os muito literais que me perdoem, mas ruminar é muito mais do um tipo de digestão do alimento. Ruminar também é refletir, meditar, cogitar. Tudo o que é negado à vaca no seu quarto-e-sala sem área privativa. Outra coisa que a avó dessa história também nunca viu, foi uma vaca ser chamada por um número. É como se você fosse reconhecido na rua pelo seu CPF.

-         12345678? É você?
-         87654321? Quanto tempo, que saudade.

Aqui, no Dahorta, cada vaca tem seu nome. Meia Lua, Estrela, Maravilha… Alguns desses nomes foram escolhidos por nossos netinhos. Dar nome às vacas é um símbolo de como toda produção deveria ser. O alimento que vem da vaca vai pra dentro de nós. Se ela for tratada como uma mera engrenagem industrial, é impossível que o leite não seja também um mero produto industrial. É fundamental estabelecer uma relação de proximidade com o animal. Vacas criadas a pasto, chamadas pelo nome, sem antibióticos preventivos (onde já se viu, tomar antibiótico sem estar doente?), tratadas com homeopatia. A quantidade de leite que cada vaca dá é muito menor do que em uma fazenda de confinamento. Em compensação, o leite que elas dão, e o iogurte e o queijo que a gente faz a partir dele, não dá pra comparar. Depois de provar, você vai ficar igual ao nome das vaquinhas do começo da história: com lembrança e saudade.

*Fotos de arquivo

VISITE TAMBÉM MEU OUTRO BLOG “MINHA VIDA DE ARTISTA”, CUJO LINK ESTÁ NESTA PÁGINA.


segunda-feira, 9 de abril de 2018



 FAMÍLIA DE ARTISTAS


Morávamos numa casa com um quintal muito grande. As crianças podiam se divertir sem precisar de ir para a rua. Luiz preferia que elas brincassem no fundo do quintal enquanto eu, da janela do meu atelier acompanhava o movimento lá fora, crianças, galos, galinhas, cachorros.

Havia um muro enorme de 60 metros.

Eu preparava tintas nos baldes para eles grafitarem as paredes. Era um dia de festa quando pintavam – murais cheios de sugestões infantis. 
Nos papéis coloridos desenhavam o que sentiam daquelas experiências, os passeios no parque Municipal de BH, que era também um pequeno zoológico, as viagens ao Rio para criar castelos na areia e a vida rural de uma fazenda mineira. 

Esse contato com a natureza lhes permitia expandir o seu mundo e colocá-lo no papel, nas telas e nos muros. Viajávamos de trem para a fazenda, crianças de todas as idades, alguns de colo exigindo mamadeiras. Parávamos em Jeceaba e ali tomávamos a perua do Chico Marzano e íamos até Entre Rios afrontando a poeira das estradas.

A casa de meus sogros abrigava todos, filhos e netos.

A fazenda ficava situada num lugar muito bonito, com o rio Brumado passando na várzea. Fazenda antiga, construção colonial. Éramos esperados com muita alegria. Ali as crianças se esbaldavam, andavam a cavalo, nadavam num riacho próximo, tinham mais espaço para as brincadeiras.

A família cresceu e tomou o caminho da arte.

Marília se tornou historiadora, fazendo palestras sobre Arte e História pelo mundo afora, com vários livros publicados. Atualmente é presidente do IMHA (Instituto Maria Helena Andrés).

Maurício se desenvolveu no cinema, tendo feito o roteiro do documentário recente sobre a minha trajetória. Tornou-se um ecologista reconhecido internacionalmente.

Ivana é artista plástica e estendeu seu campo criativo para o Teatro. Participa do grupo Voz e Poesia e como atriz interpretou Camille Claudel. É responsável pelas postagens de meus 2 blogs.

Eliana é professora de Yoga, tendo estudado na Índia. Desenvolveu trabalhos unindo Arte, Yoga e Ecologia. É responsável pela catalogação da minha obra.

Euler, fotógrafo e veterinário, cultiva hortas orgânicas em sua fazenda. Desenvolveu inúmeras ações culturais na cidade de Entre Rios de Minas durante sua gestão à frente do IMHA.

Artur, manifestou desde cedo a sua vocação para a música, e como flautista se apresentou inúmeras vezes nos palcos do mundo. Seu filho, Alexandre, é reconhecido internacionalmente como músico e compositor.

*Fotos de arquivo

VISITE TAMBÉM MEU OUTRO BLOG “MINHA VIDA DE ARTISTA”, CUJO LINK ESTÁ NESTA PÁGINA












segunda-feira, 2 de abril de 2018


O EREMITA DE RISHKESH


O carro parou na estrada e descemos 300 degraus de ma escada de pedra.
O rio Ganges corria sereno, entre patamares planaltos e praias de areia branca.
Debaixo de arvores, no meio de pedras, existe um ashram escondido.
Dois homens vêm nos receber. Estão enrolados em panos acinzentados. Escolheram uma vida simples, inteiramente ligada à natureza. Crianças se acercam de nós. Uma delas, me põe um pozinho de sândalo na testa para clarear os pensamentos.

Ali viveu durante muitos anos Swami Purushottamenendgi, o eremita de Rishkesh. Meditava  dentro de uma gruta com uma lamparina de óleo junto à imagem de Shiva. Quando queria comer ia à aldeia próxima e lhe davam fogo para cozinhar. Não usava fósforo nem tirava o fogo das pedras, mas conservava sempre acesa a sua lamparina. Ate hoje, podemos vê-la acesa, como o fogo sagrado que nunca se apaga.

O velho eremita era uma espécie de S. Francisco da Índia. Conversava como os tigres e as cobras, dava comida aos peixes do rio. Sua vida estava ali, junto ao rio muito verde, escondido no meio da floresta. As lendas a seu respeito corriam de boca em boca.

“Eu estava junto dele, quando se aproximou uma cobra, tive medo mas o Swami ordenou que ela se retirasse. A cobra que preparava o bote, afastou-se de nós tranqüilamente”, isto nos informou o seu jovem discípulo.
Um dia, o velho Swami chamou os discípulos para avisá-los de que sua hora chegara. Morreu sentado em postura de lótus.

Hoje seu retrato é homenageado cm colares de flores, junto à entrada da caverna.

Um menino de 8 nos me segura as mãos e vou andando devagarinho, sem enxergar nada, só a lamparina brilhando no escuro. Aos poucos, das sombras vão surgindo formas, silhuetas.
O menino tocou um sino e cantou mantras. “Om nama shivaya”.

Os cânticos ressoaram dentro da gruta, fazendo coro com a flauta de Patrícia, a jovem brasileira que nos acompanhava.

A saída, eles nos forneceram “prasad”, um doce feito com leite e coco, muito comum na Índia. Significava uma atenção para com o visitante, uma forma de saudá-lo. Todos os lugares sagrados oferecem “prasad”.

“Namaste” – ( O Deus em mim saúda o Deus em ti) As mãos se juntaram em reverencia e a imagem do eremita nos acompanhou enquanto subíamos a escadaria. ( Diário de viagem, década de 1980)

*Fotos da internet

VISITE TAMBÉM MEU OUTRO BLOG “MINHA VIDA DE ARTISTA”, CUJO LINK ESTÁ NESTA PÁGINA