Artista plástica, ex-aluna de Guignard. Maria Helena Andrés tem um currículo extenso como artista, escritora e educadora, com mais de 60 anos de produção e 7 livros publicados. Neste blog, colocará seus relatos de viagens, suas reflexões e vivências cotidianas.
segunda-feira, 27 de abril de 2020
MEMÓRIAS DE INFÂNCIA
Há momentos na vida de uma pessoa, que ficam
gravados na memória. São momentos que nos deixam marcas. Momentos decisivos de
risco de vida.
Lembro-me da praia de Copacabana e de tio Joel, que
nos levava para tomar banho de mar e brincar na areia. Tio Joel se tornou mais
tarde o médico da família, grande figura, não só no tamanho, como na bondade.
Levar os sobrinhos na praia, não é para qualquer tio. Pois esse tio era o nosso
preferido porque nos levava para momentos de grande alegria. A experiência de
entrar no mar, fazer castelos de areia com outras crianças. A alegria era
grande quando fazíamos um castelo bonito, com bandeiras de pano em cima da
torre. Ali fizemos várias estórias infantis: Branca de Neve e os 7 anões, A
Bela Adormecida e uma grande quantidade de mitos da infância. Os castelos
duravam enquanto duravam as ondas do mar e a sua desconstrução também nos
causava alegria. A dor da perda não nos atingia, celebrávamos o evento batendo
palmas.
Quando voltávamos da praia, a ordem era ficar perto
do tio. Com os pés sujos de areia, tínhamos de nos submeter a um lava-pés no
calçadão.
Um belo dia, eu me soltei do grupo de crianças e
atravessei a rua correndo! Só me lembro do grito de meu avô, que nos esperava
dentro do carro, de óculos, lendo jornal. Cheguei triunfante no carro
estacionado no meio da rua. Um ônibus freou junto de mim. Não sei se foi por
causa da freada do ônibus ou do grito do meu avô.
Só sei que fiquei 15 dias de castigo, sem ir à
praia. Eu via os outros saírem e chorava baixinho, sozinha em casa.
-“Vai lá”, me disse tia Lilita, “e pede desculpas ao
seu avô, ele quase morreu de susto e sofre do coração.”
O medo de receber outro grito me impedia de chegar
perto dele, mas meu avô, ou “Avute” como o chamávamos, era bondoso e me
perdoou.
E continuei indo à praia com o tio Joel...
*FOTOS DE ARQUIVO E DA INTERNET
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domingo, 19 de abril de 2020
CONVERSANDO COM OS PÁSSAROS
Como não posso sair de casa, resolvi dialogar com os
meus amigos que gostam de cantar.
Janela aberta
Para entrar o sol
Escuto o canto
Dos pássaros
Lá fora tudo é festa
Eles não escutam
A TV anunciando
Dias tenebrosos
São livres
Voam para onde querem
Aprendem a voar
Desde que nascem
Eles nos ensinam
A viver
Descer à terra
Buscar alimento
E depois
Levantar vôo
“Gracias a la vida”
Quando abro a porta
Eles cantam
E eu tento repetir
O seu canto
De liberdade
*FOTOS DE MARÍLIA ANDRÉS, MARIA HELENA ANDRÉS E DA INTERNET
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segunda-feira, 13 de abril de 2020
TRANSGRESSÃO
Aqui no condomínio Retiro das
Pedras as flores nascem, muitas vezes sem serem plantadas.
Nascem por entre as pedras da rua ou à beira das calçadas. Há também
jardins cultivados por mãos humanas, bem tratados pelos jardineiros.
Hoje, sai de manhã para dar uma volta na redondeza, juntamente com minha
filha Marília. Eu ia descobrindo as flores e ela fotografando.
- Olha aqui esta flor rebelde, atravessou as grades do jardim para ver a
rua.
-Olha esta outra, nascendo à beira da calçada.
-“São as flores transgressoras, elas não se conformam com a prisão”, me
disse Marília.
Realmente, no momento, estamos presos, cada um em sua casa, por causa da
epidemia corona vírus que assola o mundo inteiro. Ninguém pode pular a cerca
para andar na rua.
Pela TV pude ver os transgressores, pessoas caminhando na Praça da
Liberdade, na orla da lagoa da Pampulha ou nadando nas praias do Nordeste.
Mas, há sempre um guarda para advertir.
-Fique em casa!
Neste momento o que está
em jogo é a nossa sobrevivência e a de nossos filhos e descendentes no planeta.
Vale a pena transgredir e
atuar contra eles?
Isole-se em casa, deixe festas, reuniões, exposições, aniversários e casamentos
e não será esmagado pela epidemia.
No jardim, em frente, as flores estão vivas, mas ninguém viu o momento
em que a flor transgressora, foi arrancada e jogada fora
pelo transeunte distraído.
FOTOS DE MARÍLIA ANDRÉS
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