segunda-feira, 27 de abril de 2020


MEMÓRIAS DE INFÂNCIA


Há momentos na vida de uma pessoa, que ficam gravados na memória. São momentos que nos deixam marcas. Momentos decisivos de risco de vida.

Lembro-me da praia de Copacabana e de tio Joel, que nos levava para tomar banho de mar e brincar na areia. Tio Joel se tornou mais tarde o médico da família, grande figura, não só no tamanho, como na bondade. Levar os sobrinhos na praia, não é para qualquer tio. Pois esse tio era o nosso preferido porque nos levava para momentos de grande alegria. A experiência de entrar no mar, fazer castelos de areia com outras crianças. A alegria era grande quando fazíamos um castelo bonito, com bandeiras de pano em cima da torre. Ali fizemos várias estórias infantis: Branca de Neve e os 7 anões, A Bela Adormecida e uma grande quantidade de mitos da infância. Os castelos duravam enquanto duravam as ondas do mar e a sua desconstrução também nos causava alegria. A dor da perda não nos atingia, celebrávamos o evento batendo palmas.

Quando voltávamos da praia, a ordem era ficar perto do tio. Com os pés sujos de areia, tínhamos de nos submeter a um lava-pés no calçadão.

Um belo dia, eu me soltei do grupo de crianças e atravessei a rua correndo! Só me lembro do grito de meu avô, que nos esperava dentro do carro, de óculos, lendo jornal. Cheguei triunfante no carro estacionado no meio da rua. Um ônibus freou junto de mim. Não sei se foi por causa da freada do ônibus ou do grito do meu avô.
Só sei que fiquei 15 dias de castigo, sem ir à praia. Eu via os outros saírem e chorava baixinho, sozinha em casa.

-“Vai lá”, me disse tia Lilita, “e pede desculpas ao seu avô, ele quase morreu de susto e sofre do coração.”
O medo de receber outro grito me impedia de chegar perto dele, mas meu avô, ou “Avute” como o chamávamos, era bondoso e me perdoou.

E continuei indo à praia com o tio Joel...

*FOTOS DE ARQUIVO E DA INTERNET

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domingo, 19 de abril de 2020


CONVERSANDO COM OS PÁSSAROS


Como não posso sair de casa, resolvi dialogar com os meus amigos que gostam de cantar.

Janela aberta
Para entrar o sol
Escuto o canto
Dos pássaros

Lá fora tudo é festa
Eles não escutam
A TV anunciando
Dias tenebrosos

São livres
Voam para onde querem
Aprendem a voar
Desde que nascem

Eles nos ensinam
A viver
Descer à terra
Buscar alimento
E depois
Levantar vôo
“Gracias a la vida”

Quando abro a porta
Eles cantam
E eu tento repetir
O seu canto
De liberdade

*FOTOS DE MARÍLIA ANDRÉS, MARIA HELENA ANDRÉS E DA INTERNET

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segunda-feira, 13 de abril de 2020


TRANSGRESSÃO


 Os jardins são um convite a volta à natureza e a reflexão sobre a flora brasileira.

Aqui no       condomínio Retiro das Pedras as flores nascem, muitas vezes sem serem plantadas.

Nascem por entre as pedras da rua ou à beira das calçadas. Há também jardins cultivados por mãos humanas, bem tratados pelos jardineiros.

Hoje, sai de manhã para dar uma volta na redondeza, juntamente com minha filha Marília. Eu ia descobrindo as flores e ela fotografando.
- Olha aqui esta flor rebelde, atravessou as grades do jardim para ver a rua.
-Olha esta outra, nascendo à beira da calçada.

-“São as flores transgressoras, elas não se conformam com a prisão”, me disse Marília.
Realmente, no momento, estamos presos, cada um em sua casa, por causa da epidemia corona vírus que assola o mundo inteiro. Ninguém pode pular a cerca para andar na rua.

Pela TV pude ver os transgressores, pessoas caminhando na Praça da Liberdade, na orla da lagoa da Pampulha ou nadando nas praias do Nordeste.

Mas, há sempre um guarda para advertir.
-Fique em casa!

         Neste momento o que está em jogo é a nossa sobrevivência e a de nossos filhos e descendentes no planeta.

         Vale a pena transgredir e atuar contra eles?

Isole-se em casa, deixe festas, reuniões, exposições, aniversários e casamentos e não será esmagado pela epidemia.

No jardim, em frente, as flores estão vivas, mas ninguém viu o momento em que a flor transgressora, foi arrancada e jogada fora pelo transeunte distraído.

FOTOS DE MARÍLIA ANDRÉS

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