Naquela noite de 1944, Belo Horizonte estava passando por uma renovação. A Semana de Arte Moderna já completava a sua maioridade e Belo Horizonte ainda estava seguindo os padrões do Academismo.
22 anos de diferença e a renovação acontecia.
Estamos sob o governo de Juscelino Kubitschek. A Pampulha abria as
portas para o modernismo com a construção do conjunto da Igreja, Iate
Clube e a Casa do Baile. Em BH faltava uma escola de artes moderna. Foi
quando Juscelino convidou Guignard para liderar as novas idéias, vindas de São
Paulo e do Rio. Convidou para este trabalho renovador uma equipe do mais alto
gabarito.
Eu era uma jovem estudante de arte que estudava no Rio com Carlos
Chambelland e sonhava com o modernismo. Me vejo subindo a rua da Bahia com o
crítico acadêmico do Estado de Minas, professor Roberto Frank.
Ele me dizia: " Você não vai mudar, você já é conhecida e premiada
nos Salões de Arte do Rio e de BH."
Pensei comigo mesma
" Gosto das idéias
modernistas, propondo renovações. O Academismo não renova, está parado, só
lembrando o passado. "
Naquele momento eu mudei. Comecei do "zero ". Logo no
primeiro dia de aula o Guignard me surpreendeu. Estimulava o Novo, o não
condicionado pelo tempo.
Ver o Novo e saber conduzi-lo era uma das propostas de Guignard.
BH vivia momentos importantes, um ponto de mutação.
Naquela noite, na rua da Bahia, no prédio onde hoje está o Museu da
Moda, surgia um marco decisivo na história das artes em Minas. A partir daquele
momento, os artistas de Minas Gerais tomaram posição definitiva na história,
criando e renovando. Guignard incentivava a criação e ao mesmo tempo exigia
disciplina.
Nas aulas, o lápis duro era o mestre condutor.
"Nada de borracha "
"Você deve observar a natureza, seja ela uma pessoa física, um
retrato ou uma paisagem. "
"Observar o que você vê, sem pressa de acabar. "
Fazíamos então retratos "do natural", nada de cópias
fotográficas. Levávamos dias seguidos no trabalho de um retrato, procurando
trazer para o papel o que estávamos vendo.
Ao lado disto, Guignard nos conduzia também à linha contínua que trazia
a liberdade de expressão, sem condicionamentos. Partir de um ponto e regressar
ao mesmo ponto. Com este ensinamento eu pude realizar projetos de escultura e
pinturas de quadros construtivos, sem preocupações, buscando novos caminhos e
direções na arte.
Bom dia, Guignard!
Estou com 101 anos de vida e até hoje sigo as suas orientações.
Obrigada, mestre!
FOTOS DE ARQUIVO
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Otimo depoimento sobre Guignard.
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