quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

ALGUMAS HISTÓRIAS DO SERRO



Tia Mucíola era líder das crianças. Tinha o dom de falar para todos nós de forma criativa. Professora do Jardim de Infância  Bueno Brandão, aprendera técnicas variadas de artesanato familiar e jogos infantis com teatrinhos ensaiados para as festas de aniversário.
Ali os convidados também teriam de assistir aos teatros. Lembro-me de uma dessas festas, estávamos todos vestidos de fantasias juninas, chapéu de palha, saia rodada, os meninos de bigode e de barba. Íamos começar uma quadrilha, quando o telefone tocou, anunciando a morte de uma tia no Rio de Janeiro. Tia Mucíola não falou nada. Desligou o telefone e deixou a criançada se divertir. Só no final da festa anunciou a morte de nossa tia avó que morava no Rio de Janeiro.

Essa tia avó era uma pessoa alegre, deve ter ficado muito feliz pelo fato de seus sobrinhos terem comemorado com alegria o momento de sua morte.
Na Índia as mortes são comemoradas com festas para que a alma possa se libertar do corpo sem apegos e com muita alegria. Lembro-me de um convite que recebi quando estava hospedada numa comunidade em Chenai, sul da  Índia.Aceitei o convite e fui ao almoço onde estavam presentes todos os hospedes da comunidade.À entrada perguntei se teria de pagar alguma coisa.
“ Absolutamente,a senhora é convidada , minha irmã guardou dinheiro para que fizéssemos uma comemoração no dia de sua morte!

Lembro-me de tia Chiquinha, irmã de minha avó Ritinha. Não se casou, morou a vida inteira com vovó. Há fatos interessantes a seu respeito.
Perguntaram-lhe um dia:
“Qual é o seu estado civil?”
“Donzela velha”, respondeu ela.

Tia Chiquinha morou no Serro e, quando jovem teve um namorado. Naquele tempo os namorados não podiam ficar juntos e o namoro era de longe, um olhando para o outro do alto de uma janela. O namorado morava em frente, tia Chiquinha era alegre, gostava de conversar com outras pessoas. À noite ela e o namorado combinaram de cada um acender um cigarro e ficarem namorando com aquelas duas luzinhas acesas. Um de lá, o outro de cá, para manter o namoro.
Tia Chiquinha, não agüentando aquele namoro monótono, teve a idéia de colocar uma empregada fumando no seu lugar e foi para a sala conversar, contar piadas ou jogar buraco. O namoro seria mantido, para assegurar um possível casamento e ela não ficaria parada na janela.
Alguns dias depois, o namorado, desconfiado, fez o mesmo. Colocou um empregado fumando no seu lugar e foi ver o que estava acontecendo do outro lado da rua.
Nem é preciso dizer que ele rompeu o namoro naquele mesmo dia e a minha tia avó ficou solteira até o fim de sua vida.

A casa de minha avó estava sempre cheia de gente, basta dizer que vovó assumiu a guarda de 9 irmãos e depois teve mais 9 filhos. Viviam todos juntos como as “joint families” da Índia. Tios, primos, tios avós, agregados, tudo gerenciado por meu avô que era juiz de direito no Serro.
Meu avô se apaixonou por minha avó quando ela tinha 19 anos, órfã de pai e mãe. Assumiu a guarda de seus 9 irmãos para poder casar-se com ela. Todos os irmãos foram criados por ela, já que ela era a dona da casa. Tia Chiquinha ficou até morrer sob a sua dependência. Isto, na nossa visão atual parece inacreditável, mas antigamente era muito comum.

*Fotos da internet

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