domingo, 9 de janeiro de 2011

NOSSA INFÂNCIA I

Minha irmã, Lourdes me enviou o depoimento sobre nossa infância, que transcrevo abaixo:

"Morávamos em uma casa grande de dois andares na Av  Afonso Pena, a principal avenida de   Belo Horizonte.

A casa de numero 2.764 estava situada no alto da avenida, perto da casa de meu avô, que morava na rua Piauí. Éramos três irmãos naquela época, eu, Helena e Paulo.
Na frente, e no lado esquerdo da casa, havia um jardim com canteiros de flores variadas.
Cada um de nós tinha um canteiro para tomar conta.
O meu, ficava no centro do jardim, na frente da casa. Era redondo, cercado de grama pêlo de urso e todo plantado de miosótis.

Meu jardim tinha grande efeito visual, todo de flores rasteiras de cor azul claro.
Eu o regava todos os dias, tirava o mato, e olhava,  para ver se não tinha praga.
Mamãe não me deixava colocar esterco para adubar a terra porque tinha medo de tétano.
O esterco era colocado por nosso jardineiro, um velhinho que trabalhou muitos anos lá em casa.
O canteiro de Helena era comprido, cheio de monsenhor branco. Também era tratado por ela diariamente.

O canteiro de Paulo ficava perto do muro, somente de samambaias muito verdes e dobradas.
Junto ao muro tinha umas begônias cheias de flores em cachos.

 Eram os caules destas begônias que tirávamos para mastigar. Nem pensávamos que poderiam ser venenosas.
Depois de regar o jardim, eu e Helena íamos brincar de casinha de boneca, enquanto Paulo jogava bolinha de gude no terreiro de terra socada, juntamente com Geraldo filho de tia Lolô.
Tia Lolô chamava-se Leonor e era uma pessoa muito bonita.
Era elegante e andava muito bem vestida, tudo feito em casa por ela mesma.
Geraldo era filho adotivo. O filho verdadeiro de tia Lolô chamava-se Fernando, um menino muito lindo, com o cabelo todo cheio de cachos.
Morreu com dois anos de idade, de tuberculose galopante.
Mamãe contava que a empregada levava Fernando para brincar na casa vizinha.
A vizinha era tuberculosa. Fernando apanhou e morreu em dois meses. Naquele tempo não haviam antibióticos.
Tia Lolô nunca mais teve filhos e resolveu adotar Geraldo, sobrinho do tio Manoelzinho, seu marido. Pessoa muito prevenida, levava sempre consigo coisas úteis como uma vela, um canivete, uma rolha, um rolo de barbante e uma chave de fenda pequena, caso fosse necessário. Nas festas de família, caso acontecesse algum imprevisto, recorríamos a ele.
Paulo brincava com Geraldo, quase da mesma idade e nós corríamos em volta dos canteiros e em torno da casa, brincando de esconde-esconde.
A nossa casa tinha dois pavimentos.  O escritório de papai era na parte de baixo no porão: 3 quartos com estantes  cheias de livros, uma mesa muito bonita e cadeiras para alguma visita. Nunca vi nenhuma visita, papai gostava de ficar sozinho.
Naquele lugar de trabalho muito limpo e arejado, ele se isolava para ler e estudar.
Nas manhãs geladas de Belo Horizonte corríamos para o quintal sob o sol quente, sol de sertão, com um céu muito azul, de um azul que só existe em Belo Horizonte.
Brincávamos no quintal de terra batida, perto do galinheiro, vendo as galinhas ciscando, os galos cantando, e os pintinhos passeando atrás da mãe.

Galinhas eram gordas mas  nós não deixávamos matá-las.
Para fazer galinha ao molho pardo, alguém tinha que ir no mercado comprar.
As nossas conhecidas eram nossas amigas e não podiam ser mortas.
Depois do banho, numa banheira grande,duas horas da tarde ,com o sol batendo direto na banheira ,mudávamos o local de brincar.
Passávamos para uma área atijolada onde pulávamos corda ,traçávamos amarelinha  e chamávamos os vizinhos para brincar.
Às vezes deitávamos no chão e ficávamos vendo as nuvens passarem em grandes flocos.

Formavam castelos e bichos de todas as formas.
Uma romãzeira, carregada de romãs, ajudava a enfeitar a paisagem do pátio atijolado.
As mangueiras do vizinho ficavam cheias de mangas bem na nossa frente.

E a noite ,o perfume de dama da noite, tomava conta da cidade misturando-se com o perfume de magnólia. As magnólias eram  plantadas nos calçadas que se chamavam passeios.
Isto aconteceu há tanto tempo,tanto tempo e no entanto, parece que foi ontem."

*Fotos da internet

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