Artista plástica, ex-aluna de Guignard. Maria Helena Andrés tem um currículo extenso como artista, escritora e educadora, com mais de 60 anos de produção e 7 livros publicados. Neste blog, colocará seus relatos de viagens, suas reflexões e vivências cotidianas.
domingo, 30 de outubro de 2011
MUSEU TOPKAPI, ISTAMBUL
Aquela esmeralda imensa reflete luzes coloridas como um caleidoscópio. Lembro-me de um filme de suspense passado no Brasil há alguns anos, cujo drama se desenrolava neste museu que agora visitamos. Um punhal de pedras preciosas, brilhando por detrás das vitrines, me faz recordar detalhes do filme.
O museu Topkapi exibe a riqueza dos antigos califas, e o gosto oriental pelos objetos rebuscados. Vasos de cerâmica adornados com pérolas e pedrarias, espadas com diamantes, caixas de música banhadas de ouro.
Houve uma época em que os poderosos senhores não permaneciam muito tempo num lugar. À chegada do inimigo, fugiam, carregando, às pressas, os objetos de arte mais preciosos. Muitos desses objetos podemos apreciar agora, enquanto percorremos o grande Museu. O requinte se estende aos berços dos príncipes e aos tronos dos reis. A ourivesaria oriental nos lembra as histórias extraordinárias que escutamos na infância. E agora, elas estão aqui, diante de nós, resplandecentes de luzes, numa concretização real do fantástico.
No Bazar de Istambul, o mais famosos bazar do mundo, encontramos cópias dessa arte requintada, cheia de pedrarias. Turistas compram amuletos de sorte ("against the evil eye"), segundo dizem aqui: um olhinho azul pequenino que espanta o mau-olhado. Os orientais cultivam um misticismo, às vezes supersticioso, e acreditam nos maus fluidos de pessoas invejosas. Existem sinos da sorte do Japão à Turquia, guizos da felicidade, placas contra acidentes, etc.
Em muitos templos orientais, pode-se ler a sorte. Se as previsões não forem boas, amarra-se o papel a uma árvore, para que o vento o leve. Por todo o Oriente vêm-se, nos jardins dos templos, entre incensos e velas, árvores repletas de papeizinhos amarrados.
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sábado, 22 de outubro de 2011
MESQUITA AZUL E SANTA SOFIA EM ISTAMBUL
Estamos em Istambul, Turquia, e esta é a famosa Mesquita Azul. Não se vêm santos nas paredes, os vitrais resplandecem de cores e dão uma luminosidade fantástica ao ambiente.
Um velho de longas barbas está sentado sobre tapetes persas, lendo o livro sagrado, enquanto 40 homens o escutam.
A Meca dos peregrinos muçulmanos não é despojada. O chão é coberto de tapetes, e o vazio faz sobressair a grandiosidade. Os homens se curvam em frente às paredes nuas. Não se vêm ídolos, nem ícones, ou qualquer alusão à figura humana. O espírito de religiosidade transparece no respeito ao lugar santo.
Não há mulheres no templo, somente os homens escutam as palavras sagradas, para depois levá-las às suas esposas. A condição da mulher no Oriente ainda é de completa submissão. A tradição de superioridade masculina, herdada pelos antepassados, parece estender-se até os dias de hoje. Mas agora, os costumes orientais misturam-se aos ocidentais.
Istambul é a única cidade do mundo que liga, em seu próprio território, dois continentes. Uma ponte separa a Ásia da Europa, e enquanto atravessamos o Estreito de Bósforo, podemos observar de um lado a Ásia, com suas mesquitas de torres pontiagudas, e do outro lado, a Europa, marcantemente Ocidental. O encontro dos dois mares, o Mar Negro e o Mar de Mármara, é contraste geográfico que podemos observar das vidraças do barco. O guia nos explica, em inglês, um pouco da história da cidade, suas lutas e o espírito de conquista de seus antepassados. Tudo em Istambul nos faz lembrar a tradição guerreira do povo que outrora constituía uma ameaça para os países vizinhos. Há castelos e fortalezas à beira-mar, sentinelas do inimigo. Ali se escondiam os turcos, aguardando represálias. Na igreja de Santa Sofia, hoje despojada e pintada de branco, também lembramos os episódios guerreiros, e enquanto escutamos as palavras do guia, parece-nos ouvir o eco do tropel dos cavalos e a luta dentro da imensa nave.
A igreja de Santa Sofia, construída por Justiniano, mostra no presente a conseqüência de guerras e invasões.
Imaginava uma igreja fulgurante de mosaicos coloridos, com folhas de ouro, colunas de mármore, tudo resplandecente, como a história diz. No entanto, como medida de proteção, todas as obras de arte foram cobertas de pátina, que aos poucos está sendo retirada pelos restauradores, e Santa Sofia oferece ao visitante apenas a sua grandiosidade despojada.
*Fotos da internet
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sábado, 15 de outubro de 2011
ASSIS
Um frio de princípio de inverno, o céu muito azul e o casario surgindo no alto da colina, marcou nosso primeiro encontro com Assis.
Assis, berço de S. Francisco e Santa Clara é uma cidadezinha construída no alto do monte Subasio, dominando imensa planície verde de terra cultivada. O mosteiro enfrenta a paisagem com suas torres e arcos. Do terraço do hotel podemos sentir o silêncio da natureza e a poesia dos campos.
Tudo em Assis reflete um impulso místico, que começou no passado e se estende como que por milagre até os dias de hoje. A força poderosa do Santo recolhido nestas montanhas, seu profundo misticismo, não se perderam nem se materializaram com o tempo. O santuário de Assis é um dos belos da Itália e, no tumulto do século XX, continua a ser um local de oração, um momento de meditação, nesta Europa dominada pelo excesso de turistas, de gente que quer ver, ouvir explicações históricas, levar lembranças para os amigos, gente que pára nos camelôs e compra amuletos, souvenires, medalhas, nas escadas das igrejas, nas sacristias, mas que nem sempre consegue absorver espiritualidade, porque se revestiu de couraça material.
Assis não é cidade de turistas, mas de peregrinos, e não tem contradições de mau gosto: construções de pedra cor-de-rosa, ruas de escadas, pequenas capelas escondidas nas ladeiras. Uma destas capelas é a de Santo Estevão, perto da igreja de Santa Clara. O corpo da Santa acha-se como foi encontrado, intacto no túmulo. Por detrás das grades, deitada em seu leito de morte, ela é exposta à visitação pública. Milhares de peregrinos descem o subterrâneo para venerar aquele corpo, que por suas virtudes, preservou-se da destruição. Na mesma igreja, pode-se ver o crucifixo que falou a São Francisco, pintado sobre madeira, como todos os crucifixos bizantinos. As romarias, as velas acesas, as esmolas e a curiosidade diminuem o poder místico do recinto.
Descemos a ladeira para encontrar o silêncio novamente na capelinha de Santo Estevão. Sentados naqueles bancos rústicos, observamos a simplicidade do recinto e o misticismo daquele local de oração. Santo Estevão, em Assis, lembra Ronchamp, na França. A capelinha de pedra, despojada, é iluminada por janelas retangulares, vazadas nas pedras da parede. Sentimento semelhante deve ter inspirado Le Corbusier em Ronchamp: a procura da paz através do despojamento completo. No mundo dinâmico em que vivemos, na agitação própria das grandes cidades, cada vez diminuem estes pequenos oásis, que despertam o encontro com nossa própria alma e um Ser superior. Difícil qualquer sentimento religioso em meio ao vozerio, ao acotovelamento, moedas tinindo e a curiosidade turística.
A paz de Santo Estevão nos faz reviver, de certo modo, o que apenas conseguimos vislumbrar, de passagem, na multidão cercando o túmulo de Santa Clara. Santo Estevão é místico, silencioso e humilde. O sacrifício do jovem mártir nos emociona.
Lembro-me daquela sala pequenina, no imenso prédio das Nações Unidas em Nova York , lugar de meditação para qualquer religião, sem distinção de credos. A sala é vazia, despojada, e um orifício no teto projeta um raio de luz na penumbra. Aquele raio de luz vindo do alto sugere todos os anseios da humanidade e nos desperta para um encontro com o eterno. Temos necessidade deste silêncio, para compensar a agitação de nossa vida. E, como o raio de luz da sala de meditação das Nações Unidas, também a penumbra desta capela suscita vivências místicas. Assis é uma benção, para quem procura a paz.
A Capela de São Francisco de Assis em Belo Horizonte reuniu num projeto inovador grandes artistas do modernismo brasileiro como Niemeyer e Portinari e hoje é considerada símbolo e cartão postal de nossa cidade.
*Fotos da internet
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sábado, 8 de outubro de 2011
QUEIMADAS NO RETIRO DAS PEDRAS
Na última semana de setembro, os moradores do Retiro das Pedras participaram de um espetáculo dantesco.Viram o fogo das queimadas subindo pelo morro, a fumaça perturbando a visão, o vento soprando forte e a falta de recursos para impedir a circulação rápida das labaredas. Foi o pior incêndio que o Retiro das Pedras sofreu, desde que ali fixei minha residência há 35 anos. Já presenciei outros incêndios com o povo se unindo para ajudar. A solidariedade humana se manifesta com mais clareza nas horas em que a vida pressiona. E foi justamente a solidariedade reunindo pessoas de diferentes idades e classes sociais, que impediu um desastre maior. As chamas alcançaram 3 metros de altura, queimando árvores, animais e toda a vegetação rasteira. Agradecemos às brigadas de incêndio que atuaram com heroísmo e aos condôminos que se prontificaram a defender as residências da orla, abrindo um aceiro em torno do condomínio. No dia seguinte recebi pela internet algumas fotos da queimada e me lembrei de um quadro meu da fase de guerra, datado de 1969, muito semelhante a esta destruição pelo fogo que estamos presenciando no momento. Na realidade assistimos a uma guerra contra animais e plantas, uma destruição em massa de todas as formas de vida da região. Os animais rasteiros, alucinados pelo calor, buscavam salvação nos lugares mais seguros. Haviam cobras perdidas na Praça do Sol e pássaros assustados nas árvores das residências. A paisagem se cobriu de cinzas e os moradores se uniram para providenciar medidas mais seguras.
O fogo devastou 1 milhão de metros quadrados de vegetação. Fortes ventos e topografia íngreme contribuíram para o avanço das chamas em várias direções. No Brasil assistimos todos os anos, queimadas acontecendo na época da seca, assim como inundações na época das chuvas.
Em Brasília uma grande área de preservação foi totalmente destruída pelo fogo, sem possibilidade de recuperação de documentos e estudos. Em Betim, próximo a BH, o fogo destruiu também grande parte de uma área de preservação matando plantas e animais.
Este é o grande tributo que estamos pagando pelos erros que nós mesmos praticamos no decorrer de muitos anos.
*Fotos da internet
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quinta-feira, 6 de outubro de 2011
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