Estamos nas catacumbas, lugar onde se escondiam os primeiros cristãos, fugindo das perseguições religiosas. Penetramos em longa fila de turistas à luz de tochas e velas, através das escavações subterrâneas. Nos nichos, nas pequenas capelas clandestinas, na sala de reuniões onde celebravam missas, os cristãos distribuíam o pão e faziam suas pregações religiosas. A grande força de uma fé inabalável está gravada na pedra em grego, latim e hebraico e ressuscita nas sombras projetadas nas paredes, nas alcovas descobertas e nas inscrições dos mártires. No alto, onde estão sepultados os nobres romanos, que clandestinamente pertenciam ao cristianismo, Constantino construiu a igreja de São Pedro e São Paulo, agora transformada em igreja de São Sebastião, o mártir. Alcançamos, através do subterrâneo, a sala de recolhimento onde os cristãos escreviam seus apelos aos apóstolos Pedro e Paulo. Um padre à frente explica, e dificilmente conseguimos conter as lágrimas. Como pôde um povo ser tão despojado, tão desprendido do amor à vida e às coisas materiais? Se fossem descobertos, seu destino seria o Coliseu e as feras. O silêncio emocionante nos faz esquecer que estamos no século XX e que o materialismo invade o mundo cada vez mais. Nestas pedras estão inscritas as orações dos primeiros cristãos. E ouvimos o padre explicar em bom inglês: “Aqui, as famílias perseguidas dirigiam suas preces a Pedro e Paulo:”
“Protegei-nos e a todos aqueles que mais tarde puderem ler o que escrevemos”. Noutro local, um pai que no dia seguinte seria lançado às feras, recomendava seus filhos aos apóstolos.
Subimos à nave da igreja, onde, num altar lateral, estão gravados, na pedra, os pés de Cristo. O impacto emocional não nos permite falar e perguntar muito. Os guias continuam a relatar indiferentemente, sem emoção, coisa tão inexplicável, tão espiritual, como foi a vida de sacrifício dos primeiros cristãos...
À saída, o ar puro e a luz do sol nos mostram novamente a Roma dos tempos modernos. Os romanos vivem a agitação do século, a civilização atual. A máquina e a tecnologia adaptaram-se perfeitamente a esta cidade, onde as cenas da história dão calor e vida. Do passado, apenas os monumentos, estátuas e ruínas. A lei do presente é outra, mudaram-se as reivindicações. Nas ruas, o protesto. “Queremos o divórcio”. Homens e mulheres levantam cartazes, afrontando a igreja. Muito sofrimento atingiu este povo que viveu a guerra de perto, passou fome e agora ressurge nos tempos modernos, à luz de novas ideologias.
Roma é o poderio da igreja católica sobre o paganismo anterior, vendo-se templos antes pertencentes aos deuses, agora transformados em templos cristãos. O Panteon enorme, vazio, rememora um passado muito longínquo de fausto e riqueza. A cúpula com uma abertura circular de 9 metros de diâmetro, deixa entrar a luz de clarabóia que ilumina o grande salão de pedra, despojado de móveis, iluminado somente por aquele círculo de luz lá no alto, cortando o céu.
O céu de Roma é azul como o céu brasileiro. Seus edifícios imponentes, pesados, têm uma longa história a contar. São casas queimadas de sol, vermelhas, quentes, como o calor da Itália, o colorido das vitrines, as blusas estampadas, as gravatas, a pele tostada dos italianos. Há barulho, vozerio, alegria, misturado ao mistério das vielas estreitas e sombrias, que parecem não dizer nada, senão pobreza, mas, de repente, como que por milagre, deixam entrever um monumento, um palácio, uma estátua, uma fonte.
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