Artista plástica, ex-aluna de Guignard. Maria Helena Andrés tem um currículo extenso como artista, escritora e educadora, com mais de 60 anos de produção e 7 livros publicados. Neste blog, colocará seus relatos de viagens, suas reflexões e vivências cotidianas.
sábado, 28 de abril de 2012
LENÇÓIS MARANHENSES
“É bom viajar para um lugar
onde o turismo ainda não chegou”
Assim começa o depoimento de
Teresa, minha neta, atual presidente do IMHA:.
“Viajamos às 3 e meia da
manhã para os “Lençóis Maranhenses”
O motorista da condução,
percebendo que não tínhamos muito dinheiro nos convidou para ficarmos na sua
casa em Santo Amaro ,
um lugarejo com nome de cidade, mas com no máximo 50 casas. É onde começam os
“Lençóis Maranhenses”.
É o único deserto em que a
miragem é verdadeira.
Imagine uma área de dunas de
areias brancas do tamanho da cidade de São Paulo, com lagoas cristalinas. Ali, sendo
um parque nacional, é proibido a passagem de jipes ou carros. Tivemos que
seguir viagem andando com as nossas mochilas às costas acompanhados por um guia
local.
É incrível a experiência de
viajar pelas dunas, pois elas oferecem uma visão completamente diferente de
tudo que conhecemos. Caminhamos no primeiro dia 7 horas até um oásis, ilhas
verdes no meio de deserto onde vivem algumas famílias.
No meio das dunas o sol se
põe transformando em luz alaranjada todo o cenário fantástico do deserto. Ali
encontramos piscinas naturais onde pudemos nos banhar durante a travessia.
O objetivo era atravessar os
grandes lençóis, conhecendo mais a paisagem, sentir o povo, seu modo de vida, seus
costumes.
As construções são de palha e
madeira e as famílias nos receberam com simpatia e hospitalidade.
Acordar no meio do deserto,
ver o sol se por e o sol nascer, perceber a noite que se aclara com o reflexo
da areia. Vimos a lua crescente iluminando o nosso caminho, quando partimos
ainda escuro no dia seguinte.
No final da caminhada
enxergamos o mar também com areias branquinhas. Aproveitamos a maré baixa para
continuar nossa caminhada por mais 6 horas até Atim, um povoado no outro
extremo do parque. A travessia deste deserto foi uma experiência muito forte, um
desafio ao nosso desejo de conforto.
Sentimos saudades das
mordomias de nossa vida cotidiana; não podíamos carregar muita coisa e o
desafio vencido nos trouxe um sentimento de que conseguimos superar o medo, o cansaço e a necessidade de conforto.
A volta até Barreirinhas foi
feita num barquinho local, subindo o rio Preguiça. Atravessamos o Igarapé com
mangues altíssimos, cheios de macacos, quatis e aves brancas voando pelos céus
desta região do Brasil.”
Ivana também esteve no
Lençóis Maranhenses há poucos meses e deixou o depoimento abaixo:
“Não existem palavras que possam descrever a paisagem das
lagoas azuis entre as dunas brancas, centenas de montanhas de areia fina e
macia. As montanhas, ora são recortadas “a faca”, formando esculturas, ora
arredondam-se sensualmente. Entramos em duas lagoas e a água quente e leve nos
recebeu como um ventre. Toda essa água veio das chuvas que caíram há poucos
meses e em quase todas as lagoas ela irá secar. Apenas uma delas, a lagoa do
peixe irá permanecer, criando inclusive seus pequenos peixes. Outra também irá
ter os peixinhos vindos de ovos que adormeceram no leito seco.”
*Fotos de Ivana Andrés e Teresa Andrés Rolim
VISITE TAMBÉM MEU OUTRO BLOG “MINHA VIDA DE ARTISTA”, CUJO
LINK ESTÁ NESTA PÁGINA.
sexta-feira, 13 de abril de 2012
MINHA AVÓ RITINHA
Achei este retrato dentro de uma pasta e me lembrei do início da minha carreira artística.
“Você foi uma mulher forte, guerreira, decidida, muito à frente de seu tempo. Era respeitada por todos como o centro da família, aquela que tomava decisões sem medo de perder o prestígio.”
Lembro-me de papai chegando ao Rio para me levar de volta para Belo Horizonte.
“Onde já se viu uma adolescente mineira estar desenhando modelo nu no Rio de Janeiro?”
Ele estava decidido a me trazer de volta para Minas e parar meus estudos de Belas Artes, mas foi a vó Ritinha, sua mãe, que me defendeu.
“Você não vai interromper os estudos da menina. Eu, pessoalmente não sei porque precisa desenhar modelos nus, mas já que é necessário, ela vai continuar aqui comigo. Deixa por minha conta, eu escondo os desenhos , ninguém vai ver...”
Assim, com a autoridade de minha avó, continuei no Rio, estudando com Carlos Chambelland. Meu professor era acadêmico, me estimulava a fazer retratos. Pintei e desenhei retratos de várias pessoas da família, das empregadas de minha casa, dos mendigos de rua, das crianças.
O nu artístico, muito usado no academismo, era importante para o estudo do corpo humano em sua proporção. Dediquei-me por muito tempo aos retratos em pastel e carvão, para depois, na Escola Guignard, trocar o carvão pelo lápis duro.
Vovó Ritinha jogava baralho com os irmãos, sua casa era movimentada. Eu não gostava de jogar e ficava num cantinho desenhando os parentes.
“Só falta falar”, diziam.
Fazendo retratos e com o apoio da vó e dos tios, eu continuava freqüentando aulas no Rio.
A família Salles, de onde viera vovó Ritinha, era uma família que se dedicava às letras. Os Salles sempre gostaram de arte e Maria Letícia foi minha incentivadora no Rio. Os descendentes da família Salles continuam se dedicando às artes e às letras. Vários publicaram livros e escreveram em jornais. O livro de tio Joaquim, “Se não me falha a memória”, merece ser lido, pois informa muito sobre o Serro.
Os Salles tinham também tendências políticas, meu pai foi deputado e seu irmão Alírio foi ministro do trabalho.
Relembrando os tempos de vovó Ritinha, vejo meu tio avô Efigênio de Salles (tio Ziro) chegando a Belo Horizonte como governador do Amazonas. A casa se enchia de políticos e minha avó Ritinha servia cafezinhos e biscoitos de milho (naquele tempo ainda não existia pão de queijo). Tio Ziro trazia presentes para as sobrinhas, abria as malas e colocava os brinquedos, numa estante para dá-los no momento adequado. Eu ficava olhando a estante, louca para ver de perto a minha boneca, e nada do tio Ziro parar de conversar na sala com os políticos. Na minha impaciência de criança de 6 anos, não resisti à tentação de ver de perto aquela boneca, cabelos escuros, olhos azuis. O quarto era estreito e a estante muito alta. Comecei a subir devagarinho, sem ninguém ver. Alcancei o primeiro degrau, o segundo, e não cheguei ao terceiro. A estante caiu em cima de mim com o maior estrondo. Só me lembro do barulho, da poeira, e da minha boneca dentro de uma caixa de papelão. Retiraram-me de lá sob as tábuas e eu me salvei abraçada à boneca. O armário era altíssimo e bateu na parede fazendo uma barraca de proteção em cima de mim. Fui levada para o quintal por minha tia Lilita. A vovó ficou por conta de ajudar o tio governador que levara o maior susto e estava sendo atendido pelos políticos. Assim são as lembranças de minha infância em BH e da minha adolescência no Rio, contando sempre com a presença da vó Ritinha como mediadora de conflitos.
*Fotos de arquivo
VISITE TAMBÉM MEU OUTRO BLOG “MINHA VIDA DE ARTISTA”, CUJO LINK ESTÁ NESTA PÁGINA.
Assinar:
Postagens (Atom)