Artista plástica, ex-aluna de Guignard. Maria Helena Andrés tem um currículo extenso como artista, escritora e educadora, com mais de 60 anos de produção e 7 livros publicados. Neste blog, colocará seus relatos de viagens, suas reflexões e vivências cotidianas.
quarta-feira, 25 de julho de 2012
EAST WEST UNIVERSITY OF BRAMAVIDYA: UMA COMUNIDADE DE ARTE E FILOSOFIA II
Afastando-se do mundo e dos compromissos sociais o homem
pode se dedicar inteiramente ao seu crescimento como ser humano. Para a plena
realização do processo centrípeto, Jean e Nicole encontraram aquele lugar de paz. Era
preciso uma intensa absorção para que as investigações e experiências pudessem
ocorrer no processo de educação, penetrando sempre mais e mais profundamente
nos compartimentos do mundo subjetivo. Sua função como mestre era conduzir o
aluno ao seu próprio centro, ao cerne da energia criadora, usando métodos e
disciplinas orientais aliados ao treinamento utilizado no Ocidente.
Nessa fase introspectiva, praticando o tipo de arte de sua
predileção como disciplina espiritual, o aluno preparava-se para o encontro com
o seu próprio centro espiritual, ou Self, arquétipo da Divindade que passaria a
ser a sua fonte de inspiração.
Assim Jean continuava a os explicar sua conduta como artista
e filósofo. Enquanto refletíamos as idéias de Jean, olhávamos a paisagem lá
fora, as montanhas cercadas de nuvens,e o por do sol. Havia uma integração
perfeita entre o artista e o seu modo de viver primitivo: a casa com fogão à
lenha, simples, modesta, porém acolhedora, o banho tomado no lago próximo, onde
também se lavava roupa, o passeio pela floresta para se apanhar gravetos. À
noite, ao redor do fogo, a unificação das pessoas era maior. O fogo era o
centro e sentávamos no chão, à moda indiana,enquanto Jean lia um texto de
mitologia.
Suas idéias baseadas na necessidade de volta às origens não
eram apenas teóricas, mas transformavam-se em ação no cotidiano. Todas as
atividades do dia a dia eram consideradas como um exercício de meditação.
Segundo Jean, o consumo excessivo pressupõe sempre a diminuição da energia
criadora e o trabalho feito com plena atenção e amor emana diretamente do nosso
centro energético, ou Self. O objetivo desta Faculdade de Artes era trabalhar
para que essa Realidade se fizesse presente e começasse a atuar como força
ativa. Quando o artista amadurece, sua arte estende-se à vida. Arte e vida não
estão separadas e tudo pode ser transformado em arte. A jardinagem, por
exemplo, é uma arte abençoada, que traz a psique em comunhão direta com o
espaço fenomenológico e regula o metabolismo com o ritmo da mãe natureza. Os
tipos de arte como a culinária e a jardinagem não podem ser considerados como
inferiores às outras em relação aos resultados espirituais concedidos aos seus
executantes.
O exemplo desse ashram, que unia Arte e Espiritualidade,
pode ser considerado uma fonte de inspiração para outras comunidades holísticas
da Nova Era. Atualmente Jean e Nicole tomaram rumos diferentes, mas a grande
contribuição de suas experiências continua viva na memória daqueles que tiveram
oportunidade de viver no ashram. Regressando à Europa, Jean Letschert publicou
o livro Lê temple intérieur, onde
relata as experiências e reflexões de sua vivência na Índia, difundindo o seu
aprendizado de vida para o mundo ocidental. Nesse livro, Jean analisa o despertar
da consciência do planeta nesse fim de milênio e coloca as buscas terapêuticas
do Ocidente como semelhantes à necessidade do oriental de encontrar o seu Ser
Interno. Segundo ele, trabalhamos no auto-conhecimento de diversas maneiras:
através da psicanálise, da astrologia, do sofrimento, das perdas afetivas e
materiais, da auto-observação, do Yoga, da meditação e do despertar da
criatividade.
A necessidade é sempre a mesma: o encontro com a Energia
Divina, que existe dentro de todas as pessoas. Foi preciso atravessar a Índia
de Leste a Oeste para encontrar esse artista cujas idéias tinham uma profunda
ressonância no meu modo de pensar. Suas palavras, seu estilo de vida, eram
toques de consciência e me despertavam insights. Através desse encontro, foi-me
possível observar que, quando estamos preparados para enxergar através dos
acontecimentos, todos os momentos de nossa vida passam a ser criados e os
fenômenos de sincronicidade aparecem a todo instante. A criatividade dentro da
arte deveria se fundamentar numa base ética e filosófica, caso contrário corre
o risco de ser um esforço a mais para a afirmação do ego. Sentimentos de
vaidade e competição frequentemente vêm à tona, mas o artista deveria encarar
isso como uma oportunidade para se conhecer melhor. A partir dessas
experiências, ele se conscientiza que sucesso e fracasso são situações efêmeras e fazem parte de um
processo ilusório criado pela mente humana. A função da arte em termos
espirituais é a de transformar o ser humano. Dentro de um plano cósmico somos
todos artistas e é através da criatividade estendida à vida que podemos
restabelecer a beleza de nossa origem Divina.
*Fotos da internet
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domingo, 8 de julho de 2012
EAST WEST UNIVERSITY OF BRAMAVIDYA: UMA COMUNIDADE DE ARTE E FILOSOFIA I
Em 1979 visitamos uma
comunidade situada no estado de Kerala, submersa no verde das florestas da
Índia. Ali encontramos um casal de europeus empenhados em realizar
experiências de reunir arte, filosofia,
religião e ecologia, a fim de acelerar o processo de consciência do Self.
Jean e Nicole, dois artistas
plásticos, vieram da Bélgica, tornaram-se discípulos do Guru Nataraja,
incentivador do encontro de todos os caminhos e de volta a um modo de vida
simples e primitivo, longe do artificialismo gerado pela sociedade de consumo.
A contemplação da natureza completava os estudos teóricos. Nas estantes os
livros de Ciência, Psicologia, Artes Plásticas, Música, Taoísmo, Hinduísmo,
Física e Matemática mostravam a vocação holística do casal.
East West University of
Bramavidya buscava desenvolver, na prática, a visão do grande poeta Rabindranath
Tagore, que tentou elevar o conceito da Universidade a um Centro Universal de
Estudos da Sabedoria-Mãe.
A arte é o meio pelo qual a
sabedoria se manifesta em sua forma espontânea, intuitiva. Conhecer a antiga
sabedoria do mundo não significa apegar-se a um passado morto, mas alcançar as
fontes vivas, perenes, as leis que regem o universo, a natureza e o homem.
Jean procurou um lugar
tranqüilo para organizar o ashram e seu guru Nataraja conduziu-o a esse recanto
de paz no meio da floresta. Escutamos as batidas de um martelo. Era Jean, ele
mesmo, construindo um galpão para as aulas de arte. Lá embaixo as crianças
cantavam. Um professor vinha aos sábados ensinar música. Aos domingos Jean e
Nicole davam aulas de pintura. Eles orientavam um grupo de crianças pobres, que
moravam em Vaythiri, uma vila próxima ao ashram. Jean transformou sua casa em
atelier de arte. Portas, janelas, umbrais eram trabalhados a mão e lembravam
formas de dragões e águias. Havia uma sala de meditação, tendo ao centro uma
mandala tibetana, significando a união das forças opostas, muito usada pelos
budistas tibetanos para meditação. Em frente à mandala colocaram uma escultura
de Shiva Nataraja, o deus dançarino em sua dança cósmica. Procurar crescer
através da arte é deixar que a espontaneidade faça nascer os símbolos do
inconsciente. Jean e Nicole reuniam as idéias de Freud e Jung aos ensinamentos
dos grandes místicos orientais, considerando que o mundo é um só e a Essência
de tudo é a mesma.
A criatividade era
fundamental dentro do trabalho proposto por eles. Segundo Jean é importante
deixar as coisas acontecerem, em lugar de aprisioná-las em frios compartimentos
de programas pré-elaborados. Assim como a pulsação do coração ou o ritmo vital
da respiração, a Faculdade de Artes e Letras tem uma dupla função: uma dirigida
para a elucidação estética do indivíduo; a outra, em direção ao despertar
cultural da coletividade. A primeira tem um movimento centrípeto; a última tem
um centrífugo, revelando o cerne da vida à humanidade.
Apesar de frequentemente se
dizer que a Iluminação Espiritual pode ser alcançada até mesmo na aglomeração
de um mercado e a inspiração artística pode ocorrer nas piores condições do
mundo, ele considerava da maior importância, para quem busca a espiritualidade,
o contato com a natureza pelo menos durante uma fase da vida.
*Fotos da internet
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