Em 1979 visitamos uma
comunidade situada no estado de Kerala, submersa no verde das florestas da
Índia. Ali encontramos um casal de europeus empenhados em realizar
experiências de reunir arte, filosofia,
religião e ecologia, a fim de acelerar o processo de consciência do Self.
Jean e Nicole, dois artistas
plásticos, vieram da Bélgica, tornaram-se discípulos do Guru Nataraja,
incentivador do encontro de todos os caminhos e de volta a um modo de vida
simples e primitivo, longe do artificialismo gerado pela sociedade de consumo.
A contemplação da natureza completava os estudos teóricos. Nas estantes os
livros de Ciência, Psicologia, Artes Plásticas, Música, Taoísmo, Hinduísmo,
Física e Matemática mostravam a vocação holística do casal.
East West University of
Bramavidya buscava desenvolver, na prática, a visão do grande poeta Rabindranath
Tagore, que tentou elevar o conceito da Universidade a um Centro Universal de
Estudos da Sabedoria-Mãe.
A arte é o meio pelo qual a
sabedoria se manifesta em sua forma espontânea, intuitiva. Conhecer a antiga
sabedoria do mundo não significa apegar-se a um passado morto, mas alcançar as
fontes vivas, perenes, as leis que regem o universo, a natureza e o homem.
Jean procurou um lugar
tranqüilo para organizar o ashram e seu guru Nataraja conduziu-o a esse recanto
de paz no meio da floresta. Escutamos as batidas de um martelo. Era Jean, ele
mesmo, construindo um galpão para as aulas de arte. Lá embaixo as crianças
cantavam. Um professor vinha aos sábados ensinar música. Aos domingos Jean e
Nicole davam aulas de pintura. Eles orientavam um grupo de crianças pobres, que
moravam em Vaythiri, uma vila próxima ao ashram. Jean transformou sua casa em
atelier de arte. Portas, janelas, umbrais eram trabalhados a mão e lembravam
formas de dragões e águias. Havia uma sala de meditação, tendo ao centro uma
mandala tibetana, significando a união das forças opostas, muito usada pelos
budistas tibetanos para meditação. Em frente à mandala colocaram uma escultura
de Shiva Nataraja, o deus dançarino em sua dança cósmica. Procurar crescer
através da arte é deixar que a espontaneidade faça nascer os símbolos do
inconsciente. Jean e Nicole reuniam as idéias de Freud e Jung aos ensinamentos
dos grandes místicos orientais, considerando que o mundo é um só e a Essência
de tudo é a mesma.
A criatividade era
fundamental dentro do trabalho proposto por eles. Segundo Jean é importante
deixar as coisas acontecerem, em lugar de aprisioná-las em frios compartimentos
de programas pré-elaborados. Assim como a pulsação do coração ou o ritmo vital
da respiração, a Faculdade de Artes e Letras tem uma dupla função: uma dirigida
para a elucidação estética do indivíduo; a outra, em direção ao despertar
cultural da coletividade. A primeira tem um movimento centrípeto; a última tem
um centrífugo, revelando o cerne da vida à humanidade.
Apesar de frequentemente se
dizer que a Iluminação Espiritual pode ser alcançada até mesmo na aglomeração
de um mercado e a inspiração artística pode ocorrer nas piores condições do
mundo, ele considerava da maior importância, para quem busca a espiritualidade,
o contato com a natureza pelo menos durante uma fase da vida.
*Fotos da internet
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