Afastando-se do mundo e dos compromissos sociais o homem
pode se dedicar inteiramente ao seu crescimento como ser humano. Para a plena
realização do processo centrípeto, Jean e Nicole encontraram aquele lugar de paz. Era
preciso uma intensa absorção para que as investigações e experiências pudessem
ocorrer no processo de educação, penetrando sempre mais e mais profundamente
nos compartimentos do mundo subjetivo. Sua função como mestre era conduzir o
aluno ao seu próprio centro, ao cerne da energia criadora, usando métodos e
disciplinas orientais aliados ao treinamento utilizado no Ocidente.
Nessa fase introspectiva, praticando o tipo de arte de sua
predileção como disciplina espiritual, o aluno preparava-se para o encontro com
o seu próprio centro espiritual, ou Self, arquétipo da Divindade que passaria a
ser a sua fonte de inspiração.
Assim Jean continuava a os explicar sua conduta como artista
e filósofo. Enquanto refletíamos as idéias de Jean, olhávamos a paisagem lá
fora, as montanhas cercadas de nuvens,e o por do sol. Havia uma integração
perfeita entre o artista e o seu modo de viver primitivo: a casa com fogão à
lenha, simples, modesta, porém acolhedora, o banho tomado no lago próximo, onde
também se lavava roupa, o passeio pela floresta para se apanhar gravetos. À
noite, ao redor do fogo, a unificação das pessoas era maior. O fogo era o
centro e sentávamos no chão, à moda indiana,enquanto Jean lia um texto de
mitologia.
Suas idéias baseadas na necessidade de volta às origens não
eram apenas teóricas, mas transformavam-se em ação no cotidiano. Todas as
atividades do dia a dia eram consideradas como um exercício de meditação.
Segundo Jean, o consumo excessivo pressupõe sempre a diminuição da energia
criadora e o trabalho feito com plena atenção e amor emana diretamente do nosso
centro energético, ou Self. O objetivo desta Faculdade de Artes era trabalhar
para que essa Realidade se fizesse presente e começasse a atuar como força
ativa. Quando o artista amadurece, sua arte estende-se à vida. Arte e vida não
estão separadas e tudo pode ser transformado em arte. A jardinagem, por
exemplo, é uma arte abençoada, que traz a psique em comunhão direta com o
espaço fenomenológico e regula o metabolismo com o ritmo da mãe natureza. Os
tipos de arte como a culinária e a jardinagem não podem ser considerados como
inferiores às outras em relação aos resultados espirituais concedidos aos seus
executantes.
O exemplo desse ashram, que unia Arte e Espiritualidade,
pode ser considerado uma fonte de inspiração para outras comunidades holísticas
da Nova Era. Atualmente Jean e Nicole tomaram rumos diferentes, mas a grande
contribuição de suas experiências continua viva na memória daqueles que tiveram
oportunidade de viver no ashram. Regressando à Europa, Jean Letschert publicou
o livro Lê temple intérieur, onde
relata as experiências e reflexões de sua vivência na Índia, difundindo o seu
aprendizado de vida para o mundo ocidental. Nesse livro, Jean analisa o despertar
da consciência do planeta nesse fim de milênio e coloca as buscas terapêuticas
do Ocidente como semelhantes à necessidade do oriental de encontrar o seu Ser
Interno. Segundo ele, trabalhamos no auto-conhecimento de diversas maneiras:
através da psicanálise, da astrologia, do sofrimento, das perdas afetivas e
materiais, da auto-observação, do Yoga, da meditação e do despertar da
criatividade.
A necessidade é sempre a mesma: o encontro com a Energia
Divina, que existe dentro de todas as pessoas. Foi preciso atravessar a Índia
de Leste a Oeste para encontrar esse artista cujas idéias tinham uma profunda
ressonância no meu modo de pensar. Suas palavras, seu estilo de vida, eram
toques de consciência e me despertavam insights. Através desse encontro, foi-me
possível observar que, quando estamos preparados para enxergar através dos
acontecimentos, todos os momentos de nossa vida passam a ser criados e os
fenômenos de sincronicidade aparecem a todo instante. A criatividade dentro da
arte deveria se fundamentar numa base ética e filosófica, caso contrário corre
o risco de ser um esforço a mais para a afirmação do ego. Sentimentos de
vaidade e competição frequentemente vêm à tona, mas o artista deveria encarar
isso como uma oportunidade para se conhecer melhor. A partir dessas
experiências, ele se conscientiza que sucesso e fracasso são situações efêmeras e fazem parte de um
processo ilusório criado pela mente humana. A função da arte em termos
espirituais é a de transformar o ser humano. Dentro de um plano cósmico somos
todos artistas e é através da criatividade estendida à vida que podemos
restabelecer a beleza de nossa origem Divina.
*Fotos da internet
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