Dando continuidade aos
relatos de viagem à Itália, pedi a colaboração de Ivana, que selecionou de seu
diário de viagem, um depoimento sobre a nossa passagem a Itri, situada no sul
da Itália, perto de Nápoles.
“Na estação terminal de Roma
todos os trens são completamente pichados, pichações enormes que integram as que
devem aparecer nos muros da cidade. O trem que irá nos deixar em Formia acaba
de sair de Roma. Nos arredores se vêm ruínas, arcos que se estendem por
quilômetros, muros, colunas de antigas construções. Por todo lado existem o que
eles por aqui chamam de ruínas romanas. Até dentro das casas existem pedaços de
cerâmica, como souvenirs, curiosidades. À medida que o trem avança, se vêm
outras ruínas: os cemitérios de automóveis, empilhados como brinquedos quebrados.
Hoje pela manhã fui sozinha à
praia. O sol lançava um brilho forte sobre o mar e sobre centenas de seixos da
praia. Os poucos transeuntes eram todos homens, vestidos com jaquetas e
sapatos, inclusive os poucos que tomavam sol não usavam roupa de banho, queimando
apenas o rosto. Senti que, por incrível que pareça, mesmo estando em plena
Europa, escandalizei com o meu short e biquíni.
Cazilda, Stéfano e seu filho
Giuseppe, de 10 anos, vieram nos buscar na Estação de Formia. Situada a 100 km
de Nápoles, Formia é uma cidadezinha à beira mar com seu cais e suas ruelas
medievais. Depois de uns 25 minutos rodeando montanhas e vales, chegamos à casa
de campo onde eles moram. A casa tem 3 andares: sala e cozinha embaixo, 3 quartos
no segundo andar e um mezanino cheio de colchões e camas onde, em dia de festa
se ajeita muita gente. Por sinal parece que festas por aqui acontecem sempre.
Depois de um jantar super gostoso, apareceram 2 amigos, um músico e um poeta,
para ensaiar um espetáculo. Estão naquela fase de experimentação onde vale
tudo, idéias as mais loucas são jogadas na roda e todo mundo improvisa. Acordeon, pandeiro, reco-reco, chocalho na latinha
de arroz e a fantástica zanphonia do Stéfano acompanhavam Cazilda tocando seu
pífano. A zanphonia é um instrumento medieval que se vê, nos quadros de
Brueguel, sendo tocada em tabernas. Ela tem, ao lado de um feixe de 4 sopros de
madeira, uma enorme bolsa de couro que se enche de ar parecendo um bichinho
vivo. O som é possante e abafa facilmente outros instrumentos a não ser
instrumentos de sopro bem agudos como o pífano. A origem desses instrumentos
remonta aos pastores italianos que,
durante a época de Natal, saíam às ruas. Stéfano e Cazilda, resgatando esta
tradição, têm tido no final do ano, muito trabalho e uma boa resposta do
público. Querem criar agora espetáculos alternativos para o resto do ano e esta
parceria com músicos e poetas locais poderá ser interessante. Romano, o poeta,
iniciava sua interpretação no dialeto Itri, o que nos dava uma sensação de
estranhamento e fascínio diante de uma língua nova. De repente entrava o
acordeon de Ensor, o músico, pessoa super expressiva e brincalhona, acompanhado
pelo pífano de Cazilda. Stéfano abafava todos os sons com sua zanphonia
possante e grave. Súbito Giuseppe surpreendia a todos tirando não sei de onde
um reco-reco de bambu que fazia uma algazarra dos diabos. Eu e minha mãe ríamos
deliciadas com aquela “casa de loucos” que é a casa dos artistas. Sei apenas
que, em poucas horas brincamos com músicas de várias épocas e lugares, indo
desde o canto de mantras até o carnaval, regado à legítima cachaça brasileira.”
(Ivana Andrés, Viagem à Itália, ano 2000)
*Fotos da internet
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