quarta-feira, 17 de setembro de 2014

MULTICULTURALISMO E ARTE NA EDUCAÇÃO


 Um velho de longas barbas brancas e turbante na cabeça aguarda a esposa que traz as malas. O filho vem esperá-los no aeroporto de Londres, num carro ultimo tipo. O avião veio de Delhi, capital da India, com 400 pessoas,  superlotado, com muitas indianas vestidas de sarís, sandálias nos pés como se estivessem no calor da Índia. Aos  poucos  vou tomando consciência  de que o antigo império britânico está recebendo agora o seu carma de conquistador. O invasor se vê invadido pelos povos conquistados e os indianos na Inglaterra  formam nova colônia, realizando aquele desejo que os orientais têm de viver no ocidente. Moram em casas confortáveis e se instalam em vários bairros do subúrbio de  Londres, mas voltam todos os anos à Índia  para rever os costumes dos antepassados ou buscar a noiva prometida pelos pais.  Os casamentos são realizados na Índia, com todas  as comemorações festivas, mas a noiva vem morar na Inglaterra, com a família do noivo, pois isto é o costume na Índia. Os filhos são, de certo modo, a segurança para os pais durante a velhice, e moram com eles na mesma casa, muitas vezes devido à necessidade econômica. Recebem apoio dos avós e dos mais velhos, que ajudam na educação das crianças enquanto as mães trabalham fora.  Há o tempo de ser sustentado pelos pais e o tempo de sustentar econômica e psicologicamente os mais velhos.
Fomos convidadas a conhecer uma família indiana residente em Londres. A mulher trabalha fora, no aeroporto, e o marido faz plantão no metrô subterrâneo, o " underground" .  Estão felizes com a nova pátria que adotaram e o frio de Londres faz com que recordem também do frio de Punjab, estado do norte da Índia, próximo aos Himalaias.
Marcamos encontro na entrada do "underground". Vieram nos receber num carro confortável, e a filha mais velha, estudante de universidade, vem conhecer os visitantes brasileiros. Os filhos rapazes usam turbante como o pai, os " sikhs"  não mudam  sua indumentária quando se estabelecem no Ocidente. O turbante é importante para identificá-los e para que se afirmem política e religiosamente como um grupo cultural da Índia.
Refletindo sobre a situação dos filhos dos imigrantes das ex-colônias britânicas, entrevistei  Monica Keating, professora de arte da universidade da "Central England" que participou do Forum das Americas, a convite da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Tive a oportunidade de conhecê-la pessoalmente no Retiro das Pedras, em um encontro informal onde ela descreveu com entusiasmo sua experiência em arte-educação da perspectiva de multiculturalismo. Coube a ela ensinar para  aos filhos de imigrantes vindos do Caribe, Índia, Paquistão, Bangladesh que entraram na Inglaterra atendendo às necessidades de mão de obra para trabalho depois da 2a  guerra mundial. Monica analisa a situação dos muçulmanos e negros Britânicos, isolados nos subúrbios das grandes cidades e considera o ensino da arte contemporânea, uma das formas de reduzir tal isolamento. A arte contemporânea permite a coexistência de diversas técnicas e manifestações culturais. Com isso, facilita na busca da identidade necessária ao desenvolvimento dos jovens. A situação da mulher na cultura muçulmana está evidente nas caixas da jovem Rubina, de 17 anos: "esta é a minha prisão", relata a artista em seu trabalho, uma caixinha com arabescos muçulmanos, hermeticamente trancada, contendo em seu interior detalhes de fatos onde o olhar é velado às mulheres.
Rasheed Araeen, jovem paquistanês, critica em suas obras o isolamento dos artistas não ocidentais, considerados exóticos. A pintura coletiva foi usada por Monica Keating, como forma de aproximar os jovens e quebrar o isolamento causado pela discriminação.
Entre as artistas citadas por Monica destaca-se Ana Maria Pacheco, brasileira famosa na Inglaterra, cujo trabalho vem influenciando os jovens estudantes da educação multicultural. No momento, o governo se  preocupa com a discriminação racial, promovendo   o multiculturalismo através da arte. Num mundo conturbado por guerras e terrorismo, a arte na educação levanta a sua proposta de paz.
*Fotos da internet
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