Perto de Rajgath existe um vilarejo. Fomos visitá-lo depois do jantar
acompanhando aquela americana alta que está no Krishnamurti Foundation. Ela só
aparece nas horas das refeições, quase não assiste aos vídeos – sai
misteriosamente para a aldeia. Tem um jovem amigo lá.
Tivemos de usar lanterna pois a
estrada era escura, cheia de buracos; passamos por uma ponte de madeira sobre um
rio, até chegarmos à aldeia. Não se enxergava nada, a escuridão da noite,
cercava o ambiente de mistério. A ponte era estreita e vários ciclistas queriam
passar carregando enormes vasilhas de leite. Só conseguíamos distinguir na
escuridão as lanternas das bicicletas, nada mais. Acompanhamos a americana de
quase dois metros de altura, ela era a nossa segurança. Guiou-nos até um templo
iluminado onde uma multidão de devotos cantava.
Retratos de gurus sorrindo dentro
de molduras em forma de flores, um teatro de marionetes por todos os lados.
Fizeram-nos sentar no chão, junto a um grupo de mulheres, depois me levaram a
um aglomerado de homens, crianças, mulheres. Tentei enxergar o que acontecia
colocando-me na ponta dos pés. Um indiano alto percebeu a minha curiosidade, abriu
alas no grupo para que eu pudesse ver de frente.
Ali estava sentado, em pose de
meditação um homem de meia idade, coberto de guirlandas de flores. Os devotos
se ajoelhavam diante dele beijando-lhe os pés. “Curve-se diante dele”, disse-me
o homem alto atrás de mim. Hesitei, a postura crítica de uma ocidental veio à
tona, mas a força da tradição, a inocência e a devoção dos fiéis quebrou a
minha barreira. Curvei-me diante dele como todos os outros e senti que era isto
que deveria fazer naquele momento.
Voltamos novamente ao nosso
cottage no Krishnamurti Foundation. Paramos num barzinho pobre, construção de
bambu, recoberto de folhas de palmeiras. Jovens camponeses da região assistiam
a um programa de TV.
Voltei sem saber o nome daquele
guru, ficou na lembrança a postura devota dos indianos.
Krishnamurti recusava qualquer ato de reverência. Ele nunca
se julgou um guru, nem aceitou ser o Cristo do futuro conforme os teosofistas
esperavam. Sua missão foi de abrir a consciência das pessoas, e fazê-las
perceber a vida por elas mesmas, sem apoios externos. “Seja seu próprio
mestre”, nos dizia ele em suas palestras. Tendo estudado por muito tempo o
pensamento de Krishnamurti, através de seus livros “Liberte-se do passado”, “A
primeira e a última liberdade” e vários outros, eu pude percorrer a Índia sem
me envolver com nenhuma tradição religiosa.
*Fotos da internet
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