O acaso nos conduziu a Uttar
Kashi, lugar de reflexão e paz no alto dos Himalaias, reservado aos estudiosos
de Krishnamurti. Foi preciso percorrer a Índia vários anos, observar com
atenção os diversos caminhos elaborados pela mente humana, para compreender a
necessidade dessa parada para reflexão. Ali passamos muitos dias recolhidos no
silêncio, cada um de nós numa cabana particular. Havia tempo para meditar e
tempo para contemplar a natureza. Aos poucos, começamos a sentir a beleza de
estar só, de não ter opinião formada sobre as coisas, nem desejar modificá-las.
A mente humana está sempre buscando algo diferente do que é, e nesse desejo, a
beleza do agora se perde.
O nosso agora era o rio
Ganges correndo, lá embaixo, junto à cordilheira dos Himalaias. Havia uma
distância de muitos metros da região onde estávamos até o rio, mas resolvemos
descer o barranco, escorregando sobre as pedras. As pedras eram redondas como
se tivessem sido modeladas por mãos de artistas. Muitas vezes elas se
assemelham ao Lingam dos hindus. Ali estavam empilhadas, distribuídas sobre a
areia, uma infinidade de pedras buriladas pelo movimento das águas. A
proximidade da nascente do Ganges, brotando do seio dos Himalaias, simbolizava
a vida nascendo e crescendo em constante movimento. O rio passava por cidades,
florestas, campos, encontrava pessoas, vivenciava novas experiências até se
jogar no mar. Cada um de nós, seres humanos, também temos o tempo e espaço
necessários para compreender o nosso retorno à Essência. As pedras maiores, no
meio da correnteza, criavam ondas circulares ao redor. Também no homem, todas
as manifestações do ego: o apego, o medo, a competição e a ignorância vão
criando ondas, espumas, movimentos circulares, cachoeiras. Mas a vida continua o
seu percurso, apesar de tudo. A história do rio é a história da nossa própria
vida.
*Fotos de Maurício Andrés e da internet
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