No sábado, 28 de
fevereiro, houve uma performance na
nossa fazenda em Entre Rios de Minas. Performance
é um acontecimento que os artistas promovem para marcar eventos importantes, trabalhar
o corpo e dar um toque de consciência
nas pessoas. A performance é uma cena
única, imediata. Sua função é de atuar no aqui e agora.
Não tendo podido
comparecer ao acontecimento procurei senti-lo à distância, através de fotos e
depoimentos. A performance realizada
no pátio de nossa fazenda foi organizada por Jayme Reis, Marília Andrés e Pedro
Ariza Gonzàlez. Fizeram uma fogueira das coisas velhas, papéis, telas que não
deram certo e até um cavalete fora de uso, sustentando uma tela pintada por
Jayme Reis com uma figura ao estilo de Picasso. Fiquei pensando na trajetória
de meu cavalete que já prestou muito serviço e amparou muitos sonhos. Para que
serve um cavalete? Hoje em dia, com a ampliação dos quadros para dimensões
maiores, o cavalete vai caindo em desuso.
Lembro-me de um
cavalete portátil que eu tive quando ainda estudava na Escola Guignard.
Instalei o meu pequeno cavalete em cima da grama sustentando uma tela. O
cavalete não parava em pé e eu tentava pintar assim mesmo. De repente ouvi uma
voz atrás de mim: “Deste jeito é difícil pintar!” Olhei para trás, era o
Roberto Burle Marx me aconselhando... Naquele tempo os grandes nomes da pintura
vinham conversar com o Guignard e aconselhar suas alunas...
Agora, o meu último
cavalete foi queimado na performance juntamente
com a figura de Picasso feita por Jayme Reis, denominada The Last Picasso. A cena foi
incrível, o céu estrelado assistiu tudo e a fogueira consumiu o quadro e o
cavalete reduzindo a cinzas um pouco do meu passado. A idéia da queima foi
importante para o meu aprendizado de desapego. O cavalete foi queimado e com
ele uma série de histórias. Agora, de uns tempos para cá não uso mais
cavaletes. Coloco a tela no chão e vou pintando com uma vassoura de espuma. Há
muito tempo deixei os pincéis, eles são usados somente para assinatura. Na
década de 1960 substitui os pincéis pela esponja e o cavalete também perdeu o
seu uso. A performance no pátio da nossa casa em Entre Rios de Minas foi de
grande importância para mim, um aprendizado de vida. A queima do cavalete
simbolizou a libertação do suporte. Cavalete é o suporte tradicional da pintura
desde o renascimento e este cavalete virando cinzas mostrou a transformação que
já estava ocorrendo na minha arte: novos meios de expressão vieram à tona tais
como as pesquisas na Índia, a publicação de livros, a escultura, a fotografia e
os blogs na internet. A vida e a arte
continuam o seu caminho.
*Fotos de Eymard
Brandão, Jayme Reis, Pedro Ariza e Marília Andrés
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BLOG, “MINHA VIDA DE ARTISTA”, CUJO LINK ESTÁ NESTA PÁGINA.
Otima memoria de um cavalete, que prestou bons serviços.
ResponderExcluirAbraços,
Mauricio