quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

CARNAVAL EM BH, ONTEM E HOJE


Estou sentada na minha sala, vendo os blocos passarem. Desfilam na TV, mostrando o carnaval de rua em várias cidades brasileiras, no Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador, Belo Horizonte. O Brasil foi tomado de assalto pela necessidade coletiva de cantar, participar, transmitir em público a alegria natural do brasileiro. O carnaval é a forma de expressão popular que no momento está se mostrando de um modo diferente. As pessoas não ficam apenas assistindo os desfiles na TV, elas saem do seu conforto em casa, ocupam as ruas, participam, criam suas próprias músicas e fantasias, organizam blocos como antigamente. Sou do tempo do carnaval de rua, quando os foliões fantasiados ocupavam as ruas e praças de BH. Enquanto vejo os blocos atuais pela TV, vou me lembrando dos blocos de antigamente, quando eu era criança. Participei de vários carnavais. Mamãe e tia Mucíola escolhiam a fantasia e iam todos, tios, primos para o desfile do corso na Avenida Afonso Pena. Papai alugava uma limousine conversível, o motorista descia a capota e a criançada se alojava nos bancos e na própria capota, levando rolos de serpentina, frascos de lança perfume e sacos de confete. Já sabíamos de cor as músicas e saíamos cantando pela cidade, numa ocupação prazerosa do espaço público. O repertório era grande e as vozes infantis enchiam a cidade. Guardei deste recuo no tempo a sensação de alegria, para senti-la novamente nesses blocos que ocupam as ruas de Belo Horizonte. A alegria e a espontaneidade são emoções que se repetem ao longo do tempo, trazendo o passado para o presente.

O carnaval de hoje está enchendo de euforia a cidade, dizem até que está sendo o melhor carnaval que já aconteceu por aqui.
Escuto o depoimento de minha filha Marília, que participou de um bloco intitulado “Todo mundo cabe no mundo”. É muito importante caber no mundo, sem distinção de raça, credo, idade ou sexo. Um mundo em que todos são iguais. O diretor do grupo, Marcelo Xavier, anda de cadeira de rodas, mas vive alegre, cria marchinhas, faz para a criançada bonequinhos de massa. É um poeta da vida. Marcelo Xavier é conhecido na cidade e todos os anos participa do carnaval e nesse ano ele criou o bloco carnavalesco levando a bandeira da inclusão social.

Ivana também entrou em blocos que passavam pela Savassi nos três dias de carnaval. Como companheiros, levou bonecos de espuma fabricados por ela mesma. Entrou nos blocos “Dado”, “Me bebe que sou cervejeiro” e “Magnatas do samba”. Todos queriam ser fotografados com os bonecos, que mexiam a boca e cantavam as marchinhas e canções carnavalescas atuais. Uma das bonecas, a “Preta Gil” beijou e foi beijada, e o “Zeca, de Entre Rios”, estampava a camiseta do 4° Festival de Inverno Entre Rios de Minas. Não fui ao carnaval, mas meu quadro de balõezinhos ali esteve participando no corpo do boneco Zeca.

Alexandre também pintou a cara de azul, botou um turbante na cabeça e foi para o carnaval com os amigos e a namorada Luciana. Dançou e cantou celebrando Krishna no bloco “Pena de Pavão de Krishna”.

A família entrou na dança, ocupou espaços, mostrou reivindicações para a cidade. Roberto e Fernanda, participandodo bloco “Tico, tico, serra copo”, saíram com as filhas para a beira do rio, na praia do Onça, a 13 km do centro de BH, numa praia abandonada e ocupada como recanto aprazível da cidade. A proposta era a inclusão de espaços abandonados para o lazer da população.

Fiquei muito feliz de ver a minha família dando continuidade à alegria que eu também sentia quando criança, num carnaval de rua, onde todos, crianças, jovens, adultos participam espontaneamente do entusiasmo coletivo, colorindo as ruas da cidade.

*Fotos de Cecília Perdezoli, Benedikt Weirz, Marília Andrés, Heloisa Gama, Maria Antonieta Moreira e Luciano Luppi

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