Artista plástica, ex-aluna de Guignard. Maria Helena Andrés tem um currículo extenso como artista, escritora e educadora, com mais de 60 anos de produção e 7 livros publicados. Neste blog, colocará seus relatos de viagens, suas reflexões e vivências cotidianas.
segunda-feira, 27 de junho de 2016
UMA FOTÓGRAFA AMADORA
Comprei uma máquina digital no free-shop e me senti
a própria fotógrafa. A partir daquele momento me foi desvendada uma nova versão
da vida. Paisagens, figuras passaram a fazer parte do meu dia a dia, anotando
cenas de viagem, encontro com os netos na Europa, retorno ao Brasil.
A pequena
máquina quase não pesava nada, desaparecia dentro da bolsa, tudo dentro dela
era pequeno, parecia brinquedo de criança. Passei a ser criança, vendo as
coisas como se fossem pela primeira vez. Desvendei a beleza dos céus de Minas,
as montanhas que prolongam o horizonte a perder de vista, o por do sol, as
nuvens desenhando figuras no fundo azul. Descobri a alegria de criar sem nenhum
objetivo, apenas curtir o momento.
Já escrevi um dia que a fotografia é a arte
do aqui e agora. Se a gente perde o momento, ele se dilui no tempo, não existe
mais.
Um dia saí para fazer minha caminhada no Retiro e
não levei a máquina. Lá no alto do morro, perto da capela, parei para ver a
paisagem. Uma nuvem brilhante atravessava o horizonte como uma enorme flecha no
espaço. Era preciso fotografar aquela beleza de nuvem, corri para casa afim de
pegar a máquina fotográfica. Quando voltei, a nuvem já tinha ido embora....
Enquanto caminhava de volta para casa, vim
refletindo sobre a efemeridade de uma nuvem; ela aparece, mostra sua beleza, depois
se transforma e some, não fica posando para fotografias.
Fotos de Maria Helena Andrés
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segunda-feira, 20 de junho de 2016
CELEBRAÇÃO DA VIDA
Um dia me questionei:
Seria a arte uma necessidade
biológica ou psicológica
do ser humano?
Por que a necessidade de expressão?
Por que me levanto
de madrugada
e no silêncio, enquanto todos dormem,
me debruço sobre o papel
ou sobre a tela branca?
O que significa a expressão artística
quando outras necessidades prioritárias
se desenrolam à minha frente?
Uma voz interna me responde:
A arte é forma de meditação e
autoconhecimento.
Olho as montanhas
que se perdem nas brumas do amanhecer.
Uma cigarra começa a cantar
e os pássaros iniciam a sua orquestra matinal.
As flores se abrem
saudando a manhã de sol.
E a resposta me surge com toda evidência
de um momento de luz:
A arte é a necessidade de celebrar o
próprio fato de existir.
*Fotos de Euler Andrés
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segunda-feira, 13 de junho de 2016
ARTE E VIDA
Pintar livremente, deixando fluir a espontaneidade.
Escutar em silêncio as direções que vêm de dentro
sem conceitos e fórmulas.
Seguir o entusiasmo da descoberta
sentindo que as coisas surgem motivadas pelo toque
inicial.
Este toque é necessário e promove mudanças na
história das artes.
Guignard abriu as janelas da criatividade em Minas
e deixou entrar luz.
A ele se achegaram aqueles que estavam preparados
para a grande viagem.
Arte é uma passagem, um itinerário a seguir.
Altos e baixos pela frente.
Sucessos, fracassos, noites de descoberta,
madrugadas de vigília.
Nosso mundo interior vem à tona para surpresa e
alegria.
Surgem crianças, paisagens, cidades iluminadas,
barcos, veleiros, foguetes espaciais.
O cosmos se revela em cores e transparências
imaginárias.
Tudo faz parte de um todo, não tem nada separado.
Como uma árvore crescemos, nos subdividimos em
galhos,
uns altos, outros baixos, alguns se escondem, outros
buscam os céus.
São várias as mensagens que surgem no caminho.
Somos instrumentos para transmiti-las.
Nossa vida é um processo
e os acontecimentos não são por acaso:
uns motivam os outros.
Dar testemunho, falar, escrever:
“Arte é um caminho”.
Unir todos os caminhos num só.
Novas sínteses, novas mandalas.
Vida e arte se resumem nesta busca
e caminhando encontramos nosso destino comum.
*Fotos de arquivo
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terça-feira, 7 de junho de 2016
UM RETIRO NOS HIMALAIAS
O acaso nos conduziu a Uttar
Kashi, lugar de reflexão e paz no alto dos Himalaias, reservado aos estudiosos
de Krishnamurti. Foi preciso percorrer a Índia vários anos, observar com
atenção os diversos caminhos elaborados pela mente humana, para compreender a
necessidade dessa parada para reflexão. Ali passamos muitos dias recolhidos no
silêncio, cada um de nós numa cabana particular. Havia tempo para meditar e
tempo para contemplar a natureza. Aos poucos, começamos a sentir a beleza de
estar só, de não ter opinião formada sobre as coisas, nem desejar modificá-las.
A mente humana está sempre buscando algo diferente do que é, e nesse desejo, a
beleza do agora se perde.
O nosso agora era o rio
Ganges correndo, lá embaixo, junto à cordilheira dos Himalaias. Havia uma
distância de muitos metros da região onde estávamos até o rio, mas resolvemos
descer o barranco, escorregando sobre as pedras. As pedras eram redondas como
se tivessem sido modeladas por mãos de artistas. Muitas vezes elas se
assemelham ao Lingam dos hindus. Ali estavam empilhadas, distribuídas sobre a
areia, uma infinidade de pedras buriladas pelo movimento das águas. A
proximidade da nascente do Ganges, brotando do seio dos Himalaias, simbolizava
a vida nascendo e crescendo em constante movimento. O rio passava por cidades,
florestas, campos, encontrava pessoas, vivenciava novas experiências até se
jogar no mar. Cada um de nós, seres humanos, também temos o tempo e espaço
necessários para compreender o nosso retorno à essência. As pedras maiores, no
meio da correnteza, criavam ondas circulares ao redor. Também no homem, todas
as manifestações do ego: o apego, o medo, a competição e a ignorância vão
criando ondas, espumas, movimentos circulares, cachoeiras. Mas a vida continua o
seu percurso, apesar de tudo. A história do rio é a história da nossa própria
vida.
Seguem trechos do pensamento
de Krishnamurti retirados da internet:
“O amor é um estado em que
não existe o desejo de estar em segurança”
“A Realidade não é contínua,
não é permanente, porém uma coisa que se precisa descobrir momento por momento”
“As ideias não são a verdade,
a verdade é algo que deve ser testado diretamente, de momento a momento”
“Não existe caminho para a verdade, ela deve chegar até você. A verdade só
consegue chegar até você quando sua mente e coração são simples, claros, e
existe amor em seu coração”
“Podemos ir longe, se começarmos de muito perto. Em geral começamos pelo mais distante, o “supremo princípio”, o “maior ideal”, e ficamos perdidos em algum sonho vago do pensamento imaginativo. Mas quando partimos de muito perto, do mais perto, que é nós, então o mundo inteiro está aberto – pois nós somos o mundo.”
“Temos de começar pelo que é
real, pelo que está a acontecer agora, e o agora é sem tempo.”
“A meditação não é o controle
do corpo, nem técnica de respiração. Devemos estar numa postura correta quando
começamos a meditar – mas as relações com o corpo terminam aí”.
“A verdadeira meditação começa
e acaba na mente. Não procuremos a concentração forçada , que só nos causa
ansiedade; quando meditamos direito, a verdadeira concentração aparece. Ela não
surge do fato que escolhemos tais pensamentos, ou nos livramos de tais emoções.
Ela aparece porque nossa alma não busca respostas.”
“Quando nos livramos da
necessidade de orientar as coisas ao nosso modo, permitimos que o fluxo divino
nos guie até onde devemos chegar.”
*Fotos da internet
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